Diretor geral da empresa na Espanha anuncia em evento do Santander que ferramenta já em uso nos Estados Unidos também será oferecida na Europa, mas não concorre com bancos
O executivo, no entanto, não quis dar detalhes da estratégia e prazos para o lançamento do novo serviço fora dos Estados Unidos. Mas ressaltou que o Google não pretende entrar no mercado bancário: “As oportunidades estão em mercados pouco regulados”, disse Zapatero.
No Brasil, o setor de pagamentos eletrônicos ganhou um marco regulatório no final do ano passado, com a criação da figura jurídica de instituidor de pagamentos e dos arranjos de pagamentos – as regras estão em fase de implantação e, para funcionar, as empresas precisam pedir autorização do Banco CENTRAL até novembro.
O Google já atua em pagamentos nos Estados Unidos desde 2011. Um dos serviços oferecidos pela empresa é o Google Wallet, um sistema de pagamento móvel que permite aos consumidores armazenar cartões de crédito, débito e fidelização e efetuar pagamentos por meio de smartphone, apenas aproximando o aparelho de um sensor especial em terminais de recebimento, equipados com a tecnologia NFC ((Near Field Communication).
No Brasil, os pagamentos feitos por smartphone estão sendo lançados com diversas parcerias envolvendo operadoras de telefonia, bancos, administradoras de cartão de crédito e débito e empresas de soluções tecnológicas. Nenhum negócio, entretanto, tem conquistado grande participação no mercado. O Santander foi um dos que lançou no Brasil recentemente um produto que permite receber pagamento com cartão pelo smartphone, chamado Conta Conecta. A expectativa, no entanto, é de que o serviço de pagamento por telefone móveis seja oferecido por empresas não financeiras, como a própria operadora de telefonia.
No encontro do Santander, realizado na Universidade Complutense, em El Escorial, na zona metropolitana de Madri, o diretor geral do Google na Espanha, Portugal e Turquia falou sobre inovação, tecnologias e oportunidades de negócios e sobre as oportunidades de negócios para a empresa, que já lançou óculos inteligentes, o Google Glass, e investe em carros sem motorista e em balões (Loom) para distribuir sinal de internet. Segundo o executivo, a revolução digital afeta a todos cada vez mais e em breve as máquinas e as pessoas estarão cada vez mais conectadas.
“Hoje existem 7,2 bilhões de pessoas e a maioria convive com a internet como parte da vida cotidiana”, diz. “Os custos de produzir, armazenar e informar caem muito rapidamente, e com isso as barreiras de entrada começam a tocar o chão”, afirmou.
Zapatero lembra que a concorrência de conteúdo é gigantesca, e que hoje se produz mais informação do que as pessoas consegue consumir: “Toda a informação gerada pela humanidade até 2003 poderia ser armazenada em 5 hexa-bytes; hoje em dia essa é a quantidade de informação gerada em seis horas”, afirma.
Para o executivo, o conceito “digital” como diferenciador vai sumir em quatro anos: “Tudo será digital. Tudo será online” O especialista lembra que a internet está se transformando em um grande computador nas nuvens, que armazena e processa informações. E que os smartphones, menos que telefones, são cada vez mais dispositivos para acessar essa internet nas nuvens – uma máquina que aprende cada vez mais, escuta e fala em varias línguas e detecta matizes antes inimagináveis. Nas projeções do Google, a internet, que tem hoje 2,9 bilhões de usuários, terá 5 milhões em 2016.
“As mudanças tecnológicas afetarão mais os mercados menos regulados. Em 15 anos os jovens não vão entender o conceito de Bancotradicional. Pensamos soluções que ainda não existem nesse mundo”, diz Zapatero, lembrando que empresas como o Google “estão sempre empurrando os limites para frente, por isso incomodam reguladores, países e guardiães da propriedade intelectual que essas empresas estão colocando em xeque”.
Novo marco regulatório foi definido em 2013
O novo marco regulatório dos meios de pagamentos foi definido no ano passado e ainda encontra-se em processo de implantação. A lei 12.865, que trata dos arranjos e instituições de pagamento, foi publicada em 9 de outubro de 2013, e a regulamentação feita pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) por meio das resoluções 4.282 e 4.283 e circulares 3.680/81/82 e 83 de 4 de novembro.
O conjunto de regras estabelece regulação mínima para o setor a fim de mitigar riscos para o mercado financeiro e promover solidez na operação dos arranjos e instituições de pagamento. A regulamentação abrange vários “players” e seu objetivo principal, segundo o BancoCENTRAL, foi cercear o risco sistêmico com o desenvolvimento dos meios de pagamento eletrônicos.
Os únicos elos da cadeia não afetados são os bancos, que já são submetidos às regras do Sistema Brasileiro de Pagamentos (SBP). Até as bandeiras de cartões, empresas que apesar de não serem financeiras estão entre as mais organizadas do sistema, terão de cumprir mais exigências para obterem licença para operar como instituição de pagamento junto ao Banco CENTRAL.
As novas regras de pagamento abriram para as empresas não financeiras oportunidades de concorrerem com os bancos no atendimento a clientes não bancarizados.
A legislação que colocou essas empresas não-financeiras sob a fiscalização do Banco CENTRAL (BC) exige, no entanto, investimentos para sua adaptação às novas regras – as empresas que faturam mais de R$ 500 milhões por ano precisarão abrir uma conta no BC, manter um capital mínimo, enviar relatórios periódicos e reforçar a governança até novembro, se quiserem continuar no negócio. Em compensação, as que conseguirem obter licença do BC depois dessa data poderão funcionar quase como um Banco, abrindo contas correntes e emitindo moeda eletrônica.
Fonte: Brasil Econômico