Governo avalia pacote de aumento de impostos

    ENTRE AS MEDIDAS ESTÃO UMA NOVA ALÍQUOTA DE IMPOSTO DE RENDA PARA QUEM GANHA MAIS DE R$ 20 MIL E TRIBUTAÇÃO DE LUCROS E DIVIDENDOS

    Autor: Adriana Fernandes / BRASÍLIA

    A equipe econômica analisa, para 2018, a criação de alíquota de 30% ou 35% de Imposto de Renda para quem ganha mais de R$ 20 mil mensais. Também estão em estudo a tributação de lucros e dividendos, de fundos de investimento imobiliário e o fim da isenção para investidores estrangeiros. A intenção é reforçar os cofres públicos com cerca de R$ 35,5 bilhões.

    Para fechar o Orçamento de 2018, a equipe econômica trabalha com um pacote de aumento de impostos que deve atingir principalmente os contribuintes com renda mais alta. Se adotadas em conjunto, as medidas têm potencial para reforçar o caixa em, pelo menos, R$ 35,5 bilhões.

    Entre as propostas em estudo está a criação de uma alíquota de 30% ou 35% de Imposto de Renda para quem ganha mais de R$ 20 mil mensais, o que poderia garantir até R$ 4 bilhões a mais para os cofres públicos. Já a tributação de lucros e dividendos poderia render ao menos R$ 15 bilhões em 2018. Com o fim da isenção do Imposto de Renda sobre as LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e LCI (Letra de Crédito Imobiliário), conforme informou o Estadão/Broadcast na semana passada, serão injetados outros R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões na arrecadação. Uma revisão da tributação dos fundos de investimento imobiliário, que hoje são isentos da cobrança do Imposto de Renda sobre o ganho de capital, também está em análise. Além disso, investidores estrangeiros, que têm isenção para investir no mercado financeiro, podem perder essa vantagem.

    Ministério da Fazenda prepara um cardápio de propostas para apresentar ao presidente Michel Temer, que vai analisar a viabilidade política de encaminhá-las ao Congresso. Não significa que todas serão adotadas.

    No caso da tributação sobre distribuição de dividendos, há resistências, dentro e fora do governo, especialmente de grupos empresariais. Mas a medida tem o apoio da Receita. Para entrar em vigor, é necessário aprovar um projeto de lei ordinária.

    Algumas das propostas já foram levadas ao presidente durante a discussão que norteou a decisão do bloqueio adicional de R$ 5,9 bilhões no Orçamento deste ano junto com a alta de PIS/Cofins que incidem sobre combustíveis, mas ficaram para ser inseridas na discussão do Orçamento de 2018.

    O consenso na equipe econômica é de que, sem novos aumentos de tributos, as contas não fecham no ano que vem. Depois da elevação de PIS/Cofins, os técnicos avaliam propostas que elevam a tributação para o chamado “andar de cima” como forma de obter apoio popular. As medidas precisam ser aprovadas este ano pelo Congresso para entrar em vigor em 2018 porque o governo não tem mais espaço para elevar tributos por meio de decreto, ou seja, sem a necessidade de aprovação pelos parlamentares.

    Integrantes da área econômica também querem apresentar nova proposta para tributação de heranças e doações. Uma proposta desse tipo foi apresentada pela ex-presidente Dilma Rousseff, mas não vingou. Também está em discussão o congelamento ou correção menor da tabela para 2018 (hoje, escapa do Imposto de Renda quem ganha salário de até R$ 1.903). Embora difícil de ser aprovada politicamente, essa medida poderia diminuir em R$ 2,5 bilhões a perda de arrecadação no ano que vem.

    CARDÁPIO INDIGESTO
    Governo pede estudos para aumentar tributos para fechar as contas em 2018

    Tributação Lucros e Dividendos (R$ 15 bilhões)

    Taxar de maneira semelhante a que é feita em outros países, que estão diminuindo a carga nas empresas e cobrando na distribuição. Será cobrada na distribuição de dividendos e lucros na Pessoa Física e também se uma Pessoa Jurídica (PJ) paga dividendo para outra PJ. Por outro lado, será reduzida a tributação na geração do lucro no IRPJ. A previsão de arrecadação foi feita com base nos dados de 2013. O desempenho vai depender muito da disposição das empresas em distribuir lucros. Elas podem não distribuir e capitalizar o lucro. Mas as companhias abertas são obrigadas a distribuir no mínimo parte dos dividendos anualmente.

    Fim da isenção de IR para LCI e LCA (R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões)

    Junto com o fim da isenção para LCI e LCA, a Receita quer fazer uma revisão da tributação de outros instrumentos financeiros numa única alíquota, como por exemplo de 15%. A Receita considera que a tributação tem de ser igual para todo mundo, com o investidor aplicando de acordo com as características do produto e não de acordo com a tributação. Fundos de investimento imobiliário devem perder a isenção. Poupança e títulos não terão alteração.

    Criação de nova faixa do IRPF (R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões)

    Criação de uma nova faixa de renda para a tabela do Imposto de Renda. Criar uma alíquota de 30% ou 35% para quem ganha acima de R$ 20 mil. Hoje, a tabela tem faixa de até 27,5% para que ganha acima de R$ 4.664,68.

    Congelamento ou correção parcial da tabela do IRPF (R$ 2,5 bilhões)

    Com o congelamento ou correção parcial, o governo pode perder menos arrecadação. A medida é difícil de ser implementada já que tem apelo impopular.

    Tributação de heranças e doações

    A área econômica quer voltar a discutir a criação dessa tributação que chegou a ser apresentada pela equipe do governo de Dilma Rousseff.

    Reitengra (R$ 9 bilhões)

    Revisão dos benefícios do Reintegra, programa que obriga a União a devolver ao exportador parte do imposto arrecadado na forma de crédito. Embora tenha sido criado para estimular empresas a disputarem o mercado internacional, o programa tem um alto custo. Hoje, a alíquota é de 2%, mas está prevista a elevação para 3% em 2018. Agora, o governo quer reduzir esse porcentual para 0,1% no ano que vem.

    Reiq (R$ 1 bilhão)

    Fim do Regime Especial da Indústria Química (Reiq), que favorece empresas petroquímicas na compra no mercado interno ou na importação de produtos como nafta, etano, propano e butano. O custo anual é de R$ 1 bilhão.

    Fonte: O Estado de S. Paulo

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