Governo não entende ajuste

    O governo “não tem convicção” do que é o ajuste fiscal e, “dadas as condições atuais, o Brasil não terá superavit primário nem neste ano, nem em 2016, 2017 ou 2018”, previu ontem o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Especialista em contas públicas, Mansueto afirmou que o pacote anunciado no início da semana pelos ministros da área econômica foi feito às pressas. “Não gosto de ajuste fiscal feito de forma açodada porque isso significa aumento de carga tributária”, disse. 

    Para o economista, equilibrar as contas deve envolver também a redução e a racionalização dos gastos. Ele salientou que as despesas com saúde cresceram 10% em 2014 e que situação semelhante foi vista na Educação. “Se tivesse no governo um bom gestor, essa despesa elevada promoveria uma revolução nesses setores. Mas o que se vê é só aumento de gastos e de impostos”, argumentou, ao participar de seminário organizado pelo PSDB, no Senado, para discutir saídas para a crise. 

    Para Mansueto, “esse debate já deveria estar muito claro”. Na mesma linha, o economista Gustavo Franco, que presidiu o Banco Central na fase inicial de implantação do Plano Real, afirmou que é preciso falar de privatizações de “peito aberto”. “O problema não é ideológico. A Petrobras está quase quebrada, e isso não teria acontecido com uma empresa privada”, disse. 

    O ex-presidente do BC avaliou também que os juros atuais são “estupidamente altos”. Isso não ocorre porque o BC é “conservador ou malvado”, mas é fruto de uma série de indicadores ruins da economia. “É preciso refletir sobre qual é a solução, que não é controle de juros, assim como a solução para a inflação não é controle de preços”, afirmou.

     

    Bolsa empresário

    Mansueto Almeida lembrou ainda que, há pouco tempo, especialistas que previam que a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) chegaria a 70% eram tidos como lunáticos. “Agora, a discussão é sobre quando isso vai ocorrer em 2016. Não existe nenhuma economia com dívida superior a 70% do PIB que seja grau de investimento”, alertou. 

    Para Mansueto, o governo quis “abraçar o mundo com as pernas” em 2008 e 2009. Ele lembrou que o Tesouro Nacional passou a emprestar para bancos públicos, que repassaram o dinheiro, com taxas subsidiadas, a empresas escolhidas. No fim de 2014, os repasses alcançaram mais de R$ 500 bilhões. “Pode-se pensar que foi legítimo dar subsídios a empresas, mas o custo foi escondido”, disse. Em 2016, a conta somará R$ 28 bilhões, o mesmo que o programa Bolsa Família. “Criou-se o Bolsa Empresário”, criticou.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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