Presidente Dilma e ministro Joaquim Levy aparam arestas e acalmam mercado. Divisa dos EUA recua 0,27% e fecha cotada a R$ 3,232 e Bovespa, em alta de 2,29%
Os juros futuros foram negociados em alta ontem de manhã, e o dólar se valorizou em relação ao real. Isso foi resultado do temor de desgaste do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por suas declarações sobre a presidente Dilma Rousseff durante reunião com ex-alunos de economia, que se tornaram conhecidas no fim de semana. Mas à tarde, depois de comentários de ambos minimizando o peso das declarações, houve reversão das cotações.
No fechamento do dia, a moeda norte-americana estava cotada a R$ 3,232, com queda de 0,27% em relação à sexta-feira. Os juros para janeiro de 2017 encerraram o pregão cotados a 13,49% ao ano, após redução de 0,07 ponto percentual. E o de 2021, a 13,08%, o que significa 0,08 ponto menos do que na sexta. Esses contratos chegaram a atingir o pico de 13,31%. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&Fbovespa) teve alta de 2,29%, atingindo 51.243 pontos.
Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a aposta do início da manhã nos mercados de câmbio e de juros era o resultado não tanto do que Levy afirmou na semana passada, mas, principalmente, das dificuldades de comunicação e de negociação política do governo da presidente Dilma Rousseff. “Ela passou a campanha eleitoral dizendo que não faria o que está fazendo agora. Há falta de confiança do real envolvimento dela com o ajuste fiscal. E qualquer fumaça, como a fala de Levy, vira sinal de problemas”, afirmou. Mas ele acha que a frase do ministro em si não teve um peso negativo tão grande para quem prestou suficiente atenção. “Era um público hostil. Ele até teve a coragem de elogiar a presidente.”
A economista Monica Baumgarten de Bolle, diretora da consultoria Galanto/MBB, em Washington, acredita que o mais importante para que o país não perca o grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco é que Levy continue sinalizando a intenção de fazer ajuste, apesar de o processo de negociação com o Congresso Nacional ser lento. “O não cumprimento da meta fiscal cheia não é o principal problema. É preciso uma sinalização de que ela será perseguida para que as agências continuem dando o voto de confiança na equipe econômica”, avisou.
Na avaliação de Monica, o que mais tem preocupado os especialistas no exterior é o lado político da crise. “Nunca houve uma situação como esse nível de impasse atual. Mesmo a crise do governo Collor não é comparável”, explicou. “E isso é muito desconfortável porque crises políticas podem demorar muito, pois dependem da habilidade das pessoas negociarem uma com as outras. É um processo imprevisível”, destacou.
O resultado, destacou a economista, é uma expectativa de maior demora na recuperação da economia brasileira, em função dessa crise política. Por isso, as projeções de crescimento econômico para 2016 começaram a cair, como já mostrou o Boletim Focus, do Banco CENTRAL, desta semana. “Processo político emperrado paralisa o investimento quando o empresário descobre que não haverá alento a curto prazo. Ele muda os planos para o ano que vem também”, avisou. “Com essa política instalada, a questão econômica, que demoraria um ano para ser solucionada, levará pelo menos dois para ser resolvida. Acho muito otimista pensar que 2016 será muito melhor que 2015”, resumiu.
Fonte: Correio Braziliense