Grau de incerteza no câmbio cai ao menor nível em cinco meses

    Março começa com uma medida de risco para a taxa de Câmbio brasileira nos menores níveis em cinco meses. O cenário é bem diferente do observado no início de fevereiro, quando a tensão com a política monetária nos Estados Unidos puxou o dólar para cima no Brasil e no mundo.

    A chamada volatilidade implícita da taxa de Câmbio mede a expectativa de variação do dólar frente ao real ao longo de um determinado período. Quanto mais alto esse número, mais incerteza o mercado atribui à dinâmica da taxa cambial.

    Ontem, a volatilidade implícita para três meses estava em 11,155% ao ano. Ou seja, o mercado espera para o próximo trimestre móvel que o dólar oscile nessa magnitude, para cima ou para baixo. Essa medida não só ficou abaixo do patamar no qual iniciou fevereiro (11,77%) como é a menor desde 4 de outubro de 2017 (11,003%).

    Na América Latina, a queda da volatilidade do real é a mais intensa. Peso mexicano e peso chileno também operam com expectativa de variação menor, enquanto peso colombiano e sol peruano tiveram aumento de volatilidade esperada.

    A perspectiva de menor vaivém no Câmbio sinaliza que, de maneira geral, têm prevalecido a força dos fundamentos econômicos no cálculo do preço “justo” para a moeda. Mesmo no pior momento da turbulência de fevereiro, o dólar respeitou uma resistência de R$ 3,31, taxa bem inferior à vista em alguns meses de 2017. A menor percepção de risco também é evidenciada pelos números referentes a fluxos para investimentos em carteira no país. A forte entrada líquida de US$ 9,04 bilhões para renda fixa e ações negociadas no Brasil em janeiro não estimulou investidores a “realizar lucro” no mês passado. Segundo dados do Banco Central, a saída acumulada em fevereiro até dia 22 não passa de US$ 215 milhões.

    A despeito da queda dos diferenciais de Juros, a visão corrente é que esse menor prêmio de risco se justifica pela melhora relativa de posição do Brasil. Essa evolução tem sido puxada pela balança de pagamentos, com o Déficit em transações correntes ainda muito baixo para padrões históricos e bem menor que o considerado “sustentável” para um país do perfil do Brasil (Déficit de cerca de 2% do PIB). Em 12 meses até janeiro, o Déficit em conta corrente está em 0,44%, o mais baixo desde fevereiro de 2008 (-0,43%).

    Esse indicador, junto com outra gama de preços, garante o real na lista de moedas com fundamentos “fortes” elaborada pelo banco Brown Brothers Harriman. Marc Chandler, chefe de estratégia de Câmbio global do BBH, diz que cada vez mais se espera que questões idiossincráticas pesem nas avaliações sobre as taxas de Câmbio no mundo. “Devemos ver maior divergência dentro do Câmbio emergente”, afirma Chandler, que destaca a importância maior dos fundamentos em relação apenas ao retorno elevado de uma divisa, por exemplo.

    Para março, contudo, a dinâmica das taxas de Juros nos EUA manterá uma “espada” sobre o Câmbioemergente. No Brasil, o mês tradicionalmente é de intensas variações para o dólar. De nove meses de março a partir de 2009, a taxa de Câmbio variou mais de 2% em seis. Considerando os 19 meses de março desde 1999 – ano da mudança do regime de Câmbio doméstico -, a cotação oscilou mais de 2% em 12.

    Embora considere o suporte ao Câmbio dado pelos indicadores macroeconômicos, Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, acredita ser questão de tempo que a taxa de Câmbio reaja mais ao noticiário político, especialmente quando começar a ficar claro o desenho da campanha eleitoral. “É um cenário binário”, resume o estrategista, que lembra o “grave” quadro fiscal do Brasil.

    O dólar terminou fevereiro em R$ 3,2424, valorização de 1,96%. A alta é a mais forte para o mês desde 2015 (6,19%) e a mais expressiva para qualquer mês desde outubro do ano passado (3,36%).

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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