Guerra por reajuste salarial será acirrada

    Manutenção da regra que eleva o rendimento do mínimo acima da inflação será usada por sindicatos para reivindicar ganhos reais nas negociações, mesmo com PIB fraco

    A manutenção da regra do reajuste do salário mínimo acima da inflação deverá favorecer novas reivindicações de aumento salarial acima da inflação, apesar do crescimento fraco do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos – em 2014, deverá avançar apenas 1,8%. A presidente Dilma Rousseff anunciou, na noite de quarta-feira, que o governo pretende enviar ao Congresso Nacional projeto de lei com a proposta de manter o mecanismo, estabelecendo aumento de acordo com a inflação do ano anterior e ganho real pela elevação do PIB de dois anos antes.

    “A política de valorização do salário mínimo é importante porque tem puxado outras categorias. A maioria tem conseguido aumentos acima da inflação”, afirmou ontem Graça Costa, secretária de Relações do Trabalho da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior do país. “Temos tido muitas vitórias”, disse. Na próxima semana, as centrais deverão debater no Congresso uma centena de projetos que consideram prioritários para o trabalhador, incluindo a redução da jornada de 44 horas para 40 horas semanais.

    Com a baixa taxa de desemprego no país, os sindicatos de trabalhadores ficam mais fortes para reivindicar reajustes nas mesas de negociações com os patrões, explicou a economista Lucia Garcia, coordenadora da pesquisa de emprego e desemprego do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). “Um dia é da caça e outro do caçador”, pontuou. Em março, o desemprego medido pelo Dieese foi de 10,3%, quase a metade do que se via há uma década. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que usa critério diferente, registrou taxa de 5% no mês.

    No auge da campanha eleitoral, várias categorias significativas passam pela data-base anual. Em agosto, é o caso dos funcionários dos Correios. No mês seguinte, há a maior leva: ferroviários, bancários, petroleiros e metalúrgicos de vários locais do ABC Paulista, Juiz de Fora (MG), Pernambuco, Espírito Santo e Curitiba. Em outubro, será a vez dos metalúrgicos de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.

    Baixa produtividade

    Para alguns economistas, os salários estão crescendo acima da produtividade, o que é insustentável, pois impede as empresas de investir para crescer. A criação de vagas de emprego segue robusta, mas vem caindo. No primeiro trimestre deste ano, foi negativa em duas regiões: Norte e Nordeste, segundo dados do Ministério do Trabalho.

    “Atualmente, tudo tem que ser para o trabalhador. Mas a indústria precisa de competitividade. Sem empresas, não há emprego”, queixou-se Alexandre Furlam, presidente do Comitê de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para Lucia, do Dieese, os empresários têm razão de se queixar diante do baixo crescimento do PIB, que ela não atribui, contudo, aos aumentos salariais. “As margens realmente diminuíram”, explicou.

    Para o ministro do Trabalho, Manoel Dias, os aumentos acima da inflação beneficiam os empresários. “É isso que tem proporcionado o aumento do consumo pelos trabalhadores”, apostou. Ele duvida de que o desemprego aumentará. “Mas há muita gente torcendo para que aumente.”

    O economista Marcio Pochmann também vê grande influência do processo eleitoral nos próximos meses nos rumos do comportamento do mercado de trabalho. “Esse debate é que vai apontar para onde vamos”, apostou ele, que presidente a Fundação Perseu Abramo, do PT.

     

    Para saber mais

    Origem das oito horas 

    O 1º de maio marca o Dia do Trabalho em quase todos os países. Na maior economia do planeta, os Estados Unidos, o feriado cai na primeira segunda-feira de setembro. A alternativa não se firmou à toa: a efeméride mundial remete a uma manifestação que ocorreu nesse dia, em 1886, na cidade de Chicago, exigindo que as jornadas passassem a ter oito horas. Iniciou-se ali uma greve geral em todo o país, que durou vários dias. Policiais e manifestantes morreram nos embates. 

    Em 1889, socialistas e comunistas franceses escolheram a data para manifestações em homenagem aos acontecimentos de Chicago, algo que se repetiu nos anos seguintes e foi incorporado por outros movimentos europeus. Em 1919, o Senado francês aprovou as oito horas e oficializou o feriado do 1º de maio. Até mesmo os nazistas aderiram à data na Alemanha. Em 1955, a Igreja Católica passou a dedicá-la a São José Operário, o protetor dos trabalhadores.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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