Indústria tomba, e país pode ter PIB negativo

    Produção nas fábricas encolhe 0,6% em maio. É o terceiro mês seguido de contração, resultado que dissemina o pessimismo entre os investidores. Está cada vez mais forte a possibilidade de o Produto Interno Bruto do segundo trimestre registrar queda.

    Não há pacote do governo que consiga tirar a indústria brasileira do atoleiro. Dados divulgados ontem pelos Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a produção nas fábricas registrou, em maio, o terceiro tombo seguido. Em relação a abril, o recuo foi de 0,6%. Ante maio de 2013, retrocedeu 3,2%. A contração foi generalizada, puxada, sobretudo, pelo menor ritmo na fabricação de carros. No acumulado do ano, a indústria já caiu 1,6%. Diante desse quadro, ficaram mais fortes os indícios de que o Brasil registrou queda no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre do ano.

    “A indústria caminha com dificuldade. Isso não é específico de um setor, nem algo deste momento. É um movimento que começou em outubro do ano passado”, afirmou o economista André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE. Os dados frustrantes vieram em linha com as expectativas de mercado. E justificam o fato de a confiança dos empresários estarem no menor nível desde 2009, quando o Brasil mergulhou na recessão.

    Embora a deterioração da indústria já esteja no radar dos investidores há meses, há motivos crescentes para preocupação. “Um problema adicional nos resultados negativos de maio é que o movimento de retração nas fábricas foi disseminado. Atingiu 15 setores dos 24 analisados pelo IBGE, um número superior ao da última pesquisa”, notou o economista Rafael Bacciotti, da Consultoria Tendências.

    O ciclo de quedas está longe do fim, apontam analistas. “Para junho, esperamos nova retração na produção industrial”, afirmou o economista Rodrigo Miyamoto, do Itaú Unibanco. “Os estoques na indústria voltaram a aumentar e indicam uma menor produção à frente. Dados de consumo de energia também apontam para queda. Finalmente, há o impacto negativo sobre as horas trabalhadas relacionado à Copa do Mundo”, apontou.

    Efeito Copa

    Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, a queda da produção por conta das paradas das fábricas durante os jogos do Mundial poderia ser inócua se o ambiente fosse diferente. O problema, alertou, é que a redução da indústria é estrutural. “Até algum tempo atrás, pensávamos que o retrato negativo da indústria era algo de curto prazo, resultado da materialização da política monetária (alta dos juros). E que, uma vez que a inflação caísse, a vida seguiria. Hoje, não conseguimos mais ver isso”, disse.

    Mesmo que a contração nas fábricas tenha sido disseminada, o setor automotivo está entre os que mais preocupam. A redução do item “veículos automotores, reboques e carrocerias” foi de 20,1% em relação a maio de 2013. No mês, a queda foi de 3,9%. André Macedo, do IBGE, assinalou que um dos fatores para essa queda foi o aumento da importação de automóveis, em detrimento da produção nacional, embora isso não seja um item investigado na pesquisa divulgada ontem.

    O item “coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis” teve queda de 3,8% no mês. O resultado não é especialmente preocupante, ressalvou Macedo, porque esse setor vem crescendo nos últimos meses.

     

    Fonte: Correio Braziliense

     

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