Ameaça de apagão e crise hídrica aumentam o pessimismo de analistas, que veem economia estagnada neste ano. Escalada de preços deve ser a maior desde 2004
Se havia alguma dúvida de que 2015 seria marcado por imensas dificuldades na economia, a incerteza já não existe mais. Diante dos riscos de um iminente apagão no sistema elétrico e do aprofundamento da crise hídrica no país, as apostas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) desabaram. Agora, os analistas ouvidos pelo Banco CENTRAL (BC) na pesquisa Focus acreditam que a riqueza produzida por famílias e empresas terá expansão zero este ano, indicando a total paralisia da economia.
Há apenas um mês, as previsões ainda eram de um crescimento levemente positivo, de 0,4%. Mas, diante das inúmeras frustrações do início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, e do desempenho ruim tanto da indústria quanto do varejo no início do ano, o pessimismo tomou conta da maioria dos economistas. Não por acaso, faz seis semanas consecutivas que as estimativas para o PIB só diminuem.
Já as projeções para o comportamento da inflação sobem sem parar também há seis semanas. A escalada dos impostos e os reajustes já autorizados para combustíveis, tarifas de transporte público e demais preços administrados pelo governo, como as contas de água, luz e gás, resultarão numa carestia bem acima do teto da meta perseguida pelo BC, de 4,5% ao ano, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Diante de quadro tão sombrio para o custo de vida, os analistas ouvidos pelo BC elevaram de 7,01% para 7,15% a projeção de alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2015. Se estiverem certos, será a maior inflação desde 2004, quando a carestia também rompeu o limite máximo de tolerância, ao alcançar 7,6%.
Problemas
Mas o cenário ainda pode ser pior. Os analistas do Banco J. Safra elevaram a projeção de alta do IPCA deste ano de 7,2% para 7,6%. A nova previsão é baseada na necessidade de reajustes nas contas de luz para acomodar custos mais elevados com usinas térmicas, que suprem a falta de energia das hidrelétricas devido à escassez de chuvas.
Também pesará no bolso, dizem os analistas do Banco, o novo regime de bandeiras tarifárias, que terá preços mais elevados do que os estimados inicialmente, e a redução nos repasses do Tesouro Nacional para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um fundo setorial usado para socorrer o setor elétrico. Tantos problemas fizeram o economista-chefe do J.Safra, Carlos Kawall, projetar em 47% o reajuste médio das contas de luz em 2015.
As más notícias não param por aí. Com a maioria dos mercados financeiros globais nervosos diante do risco de saída da Grécia da Zona do Euro, os analistas projetam uma nova temporada elevação do dólar frente às moedas de países considerados frágeis, como o Brasil. Na Focus, entretanto, as apostas ainda são que o dólar estará em R$ 2,80 até dezembro.
Não será só no bolso do viajante que essa elevação baterá pesado, observa o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat. “Diversos segmentos da indústria dependem de insumos importados, que ficaram mais caros em dólar, com o inevitável repasse para o consumidor final”, assinalou. É o caso de itens eletroeletrônicos e até alimentos, já que o Brasil importa de tudo um pouco de seus principais parceiros comerciais, como feijões da China e trigo da Argentina.
Varejo em queda
As vendas do comércio varejista na virada do ano já sofreram o impacto da crise, segundo os analistas do Bradesco. Com a disparada do dólar e da inflação, o movimento deve ter caído 1% em dezembro, escreveu o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos da instituição, Octavio de Barros, em análise enviada a clientes. Para o chamado varejo ampliado, que inclui os setores de materiais de construção e de automóveis, as apostas são de um tombo ainda maior, de 2,5%. Os números oficiais serão divulgados na quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Fonte: Correio Braziliense