Inflação alta com menos crescimento

    Mercado financeiro estima que carestia ficará perto do teto da meta e prevê expansão econômica de apenas 0,8% em 2015

    O mercado financeiro está convencido de que, após quatro anos de baixo crescimento e de inflação elevada, a situação do país continuará delicada em 2015. O mais recente boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco CENTRAL (BC), mostrou que a projeção dos analistas para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) do próximo ano foi reduzida de 1% para apenas 0,8%. Se eles estiverem certos, seria o terceiro pior desempenho da economia em 15 anos, ficando atrás somente do resultado pífio previsto para este ano, que caiu de 0,24% para de 0,20%, e da contração de 0,3% registrada durante a crise global, em 2009.

    Para Marcos Troyjo, professor da Columbia University, em Nova York, o pessimismo do mercado se deve à demora na indicação do novo ministro da Fazenda pela presidente Dilma Rousseff e à falta de efetividade do governo em sinalizar que tomará as medidas certas para reverter os problemas econômicos do país. “Duas semanas se passaram desde o fim do segundo turno das eleições e não se tem ideia de qual será a nova equipe econômica. Se fossem os EUA, seria um problema menor. Mas o Brasil, onde o governo fez as coisas erradas nos últimos quatro anos, é um caso bem diferente”, emendou Troyjo.

    No Focus, os analistas de bancos e corretoras também traçaram um cenário preocupante para a inflação. A avaliação é de que os recentes aumentos da gasolina e da conta de luz, além dos reajustes esperados para os demais preços administrados em 2015, darão novo gás ao custo de vida, levando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a cravar alta de 6,40% no ano que vem. É uma projeção bastante parecida com a de 2014, de 6,39%. Ambas, no entanto, estão mais próximas do teto da meta de inflação, de 6,5%, do que do centro, de 4,5%, que, aliás, não é alcançado desde 2009.

    Há um outro problema. Quanto mais distante a carestia ficar do alvo perseguido pelo governo, como os analistas preveem para 2015, menor será a chance de que a inflação recue para o centro da meta em 2016, como acredita o Banco CENTRAL. A autoridade monetária aposta que o IPCA entrará “em trajetória de convergência” para o objetivo central em meados de 2016, como reforçou na mais recente ata do Comitê de política monetária (Copom), divulgada semana passada.

     

    Câmbio

    Outro problema para o controle do custo de vida é a disparada do dólar, que pressiona o custo das importações. A moeda norte-americana se valorizou cerca de 10% em apenas dois meses, entre setembro e novembro. Não por acaso, os analistas ouvidos pelo BC na pesquisa Focus revisaram para cima a projeção para a cotação da moeda no fim de dezembro. A estimativa foi elevada de R$ 2,45 para R$ 2,50. Esse, inclusive, é um dos motivos pelos quais o próprio BC alegou ter elevado os juros básicos, de 11% para 11,25%, há duas semanas.

    Como as ameaças de uma nova escalada do dólar não cessaram, as apostas são de que a autoridade monetária continuará elevando a Selicpelo menos até março de 2015. “É difícil imaginar que o BC tenha feito apenas uma alta e vá parar. É bem provável que se tenha iniciado um novo ciclo”, disse a economista-chefe da XP Investimento, Zeina Latif, acrescentando que a medida mais eficiente para o controle da inflação, nesse momento, seria um corte de despesas públicas e uma política fiscal “mais responsável” por parte do governo. “Se a gente insistir sempre napolítica monetária, o Brasil vai ter juros acima de dois dígitos por um bom tempo”, enfatizou.

     

    Fraude com títulos do Tesouro

    Clientes da corretora Corval, de Belo Horizonte, que teve a liquidação extrajudicial decretada em setembro pelo Banco CENTRAL, podem ter tido um prejuízo da ordem de R$ 10 milhões em aplicações no Tesouro Direto, devido a manobras fraudulentas feitas pelos gestores da instituição. Pelo menos 110 entre os 2.500 clientes da corretora podem ter sido lesados. De acordo com investigações do BC, a Corval convenceu os investidores a transferir seus títulos da Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC) para a Selic, um outro sistema de controle de aplicações. Lá, porém, elas foram colocadas em uma conta única em nome da corretora, que usou os títulos como garantia em outras operações no mercado financeiro. Parte deles chegou até a ser vendida sem conhecimento dos titulares.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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