Inflação em disparada

     Alta de 1,32% do IPCA é a pior para março dos últimos 20 anos. Acumulado de 12 meses atinge 8,13%. Novamente, conta de luz puxa o indicador para cima

    Mesmo com ambiente recessivo da economia, a inflação não para de subir. Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 1,32%, 0,1 ponto percentual acima da taxa de fevereiro. É o pior resultado mensal para o índice desde fevereiro de 2003, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou alta de 1,57%. Considerando apenas os meses de março, é o maior percentual desde 1995 (1,55%).

    A disparada dos preços já comprometeu a meta de 4,5% para a inflação anual e também o limite de tolerância admitido pelo governo, de 6,5%. No acumulado do ano, o IPCA está em 3,83%, taxa recorde para um primeiro trimestre desde 2003. Para que a meta central fosse cumprida, seria preciso que, daqui até o fim do ano, o índice não passasse de 0,67%, o que é impossível. 

    O descontrole dos preços reforça a expectativa de que o Banco CENTRAL (BC) vai elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ano, na próxima reunião do Comitê de política monetária (Copom), em 28 e 29 de abril. Mesmo assim, a inflação de 2015 deverá ficar em 8,2%, de acordo com estimativas de mercado. “Este ano está perdido, a preocupação é com 2016”, afirmou o economista Alexandre Schwartsman, que foi diretor do BC no início do governo Lula.

    No ano passado, a inflação ficou ligeiramente abaixo do teto, em 6,41%. Neste ano, porém, não vai ter jeito: o acumulado em 12 meses já atingiu 8,13%. No governo, há dificuldades para esconder a situação. Ao ser questionado por jornalistas se a inflação deste ano ficará acima do teto da meta, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou: “Com certeza.” Depois, tentou consertar: “Com certeza eu responderei a pergunta da vossa colega”. “O Banco CENTRAL tem se expressado com clareza e consistência em relação à importância do controle da inflação e sua disposição de tomar as medidas cabíveis”, emendou. 

    O que puxou para cima a inflação de março foi, novamente, a conta de luz. O consumidor vem pagando reajustes anuais e também os extraordinários, que financiam o acionamento de usinas térmicas diante da falta de água nos reservatórios das hidrelétricas. O aumento médio das tarifas nas 13 capitais pesquisadas pelo IBGE foi de 22,1%. Mas em 12 meses, a alta acumulada é de 60,4%. Ainda assim, os outros preços não subiram pouco. “Quando se abre o IPCA de março, se vê o pior resultado desde há muito tempo. Três quartos dos itens tiveram reajustes de preços”, alertou Schwartsman.

     

    Sem efeito

     

    Desligar luzes e aparelhos eletrônicos, lavar roupa com menos frequência e controlar o tempo do banho não surtem mais efeito na conta de luz de Helaine Ribeiro, 32 anos, desempregada há cinco meses. “Mesmo diminuindo o uso, a conta continua cada vez mais cara. Não tenho mais o que cortar”, disse. Na última ida ao supermercado, Helaine só comprou o essencial. “Deixo os supérfluos para trás e não escolho nada por marca, vou sempre no mais barato”, explicou. 

    O economista do Besi Brasil Flávio Serrano afirma que os preços devem ceder um pouco nos próximos meses. “A maior parte dos aumentos de preços administrados já ocorreu. Restam reajustes de passagens de ônibus urbanos”, afirmou. Se o IPCA do primeiro trimestre continuasse no mesmo ritmo no ano todo, a inflação chegaria a 16%. 

    Para o economista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, a pressão inflacionária continuará em 2016. “A economia brasileira ainda é muito indexada, incluindo salários”, observou. Outro impulso virá da alta dos juros nos Estados Unidos, que pode ocorrer no segundo semestre e levar a cotação do dólar de volta a R$ 3,30 até o fim do ano. Se não houver surpresas, ele prevê que o BC aumente a Selic para 13,5%. Schwartsman também espera esse movimento do BC. “Isso é o que o deve ser feito. Mas a gente sabe que eles são frouxos”, atacou. Vários analistas avaliam que o BC tende a limitar o uso da política monetária por temer queda ainda maior da atividade.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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