Prévia do índice oficial chega a 9,25% em 12 meses, o pior resultado desde dezembro de 2003. Conta de luz e alimentos pesam
Diante da resistência da inflação, os economistas apostam que o Banco Central (BC) vai aumentar novamente a taxa básica de juros, que está em 13,75% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana. Os especialistas divergem, contudo, quanto à dose do remédio a ser aplicado, já que o BC mudou o discurso e o cenário é cheio de incertezas.
“O BC vinha dizendo que aumentaria a Selic o quanto fosse necessário para levar a inflação ao centro da meta, de 4,5%, em 2016, mas abrandou o tom. A atividade econômica está fraca, o que indicaria o fim do aperto. Em compensação, o dólar caro continua pressionando os preços. E o governo reduziu a meta fiscal, o que também eleva a carestia. Então, só saberemos na semana que vem se a Selic vai subir 0,25 ou 0,50 ponto percentual. O BC também pode sinalizar duas altas de 0,25 ponto”, explicou o economista sênior do Besi Brasil, Flavio Serrano.
O Besi aposta que o IPCA-15 fechará 2015 em 9,20%. Serrano ressaltou que um dos motivos da resiliência é que o índice de difusão está em 70%, o que é muito alto. Isso significa que 70% dos itens que medem a inflação oficial estão subindo de preço.
O economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Bruno Fernandes destacou o peso dos preços administrados. A energia elétrica subiu 1,91% em julho e representou o maior impacto individual no índice, de 0,07 ponto percentual. “A inflação deste ano é corretiva, sobretudo, na energia e nos combustíveis, que contaminam todos os outros setores”, assinalou.
A inflação de alimentos e bebidas desacelerou de 1,21% em junho para 0,64% em julho, mas teve o segundo maior impacto no IPCA-15. Produtos importantes no consumo das famílias ficaram mais caros, como leite (3,71%), pão (1,26%), ovos (1,59%) e frango (1,10%). Para Serrano, do Besi, os preços dos alimentos só vão cair a partir de agosto. “O núcleo da inflação está muito elevado, em 0,73%, bem acima da média histórica para julho”, justificou.
O grupo Transportes reduziu a alta para 0,14% em julho, ante 0,85% no mês anterior. “As passagens aéreas tiveram elevação de 0,91% agora, ante uma disparada de 29,54% em julho”, ressaltou o economista Márcio Milan, da Consultoria Tendências.
Calote deve crescer
O presidente da Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica, Nelson Leite, disse ontem que as empresas esperam um aumento da inadimplência nas contas de luz em função dos elevados reajustes tarifários. A entidade não tem números sobre a evolução dos calotes após a revisão extraordinária das tarifas, em março deste ano, mas, como as empresas calculam os índices de faturamento levando em conta atrasos superiores a 90 dias no pagamento das faturas, o prazo está vencendo agora. “Por isso, há uma expectativa de aumento na inadimplência”, disse.