Investigação chega ao coração do Congresso

    PF e MPF cumprem mandados de busca e apreensão em residências e empresas de políticos, como os senadores Fernando Collor, Ciro Nogueira e Fernando Bezerra Coelho, acusados de se beneficiarem de desvios da Petrobras

    Na primeira investida após autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar políticos envolvidos na Operação Lava-Jato, a Polícia Federal realizou, na manhã de ontem, buscas em endereços residenciais e funcionais de senadores, ex-ministros do governo Dilma Rousseff, deputados e ex-deputados. Também foram vasculhados escritórios de advocacia, empresas e órgãos públicos. Os principais alvos foram os senadores Fernando Collor (PTB-AL), Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), o ex-deputado João Pizzolatti (PP-SC) e o ex-ministro e ex-deputado Mário Negromonte (PP-BA). O advogado Thiago Cedraz, filho do presidente doTribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, também teve a residência e o local de trabalho visitados pela PF. Todos foram citados em delações premiadas como beneficiários do esquema bilionário de corrupção na Petrobras. Não houve prisões. 

    No imóvel de Collor, ex-presidente da República, a famosa Casa da Dinda, no Lago Norte, os agentes federais apreenderam, além de documentos, três carros de luxo: uma Ferrari, um Porsche e uma Lamborghini. A Operação Politeia, autorizada pelos ministros do STF Teori Zavascki, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello, provocou uma reação no Congresso. Os políticos envolvidos se disseram à disposição da Justiça, no entanto, criticaram o que chamaram de “ação midiática e invasiva”. 

    A Polícia Federal cumpriu 53 mandados de busca e apreensão: no Distrito Federal (12), na Bahia (11), em Alagoas (sete), em Santa Catarina (cinco), no Rio de Janeiro (cinco) e em São Paulo (cinco). Foram apreendidos oito veículos, duas obras de arte, joias, relógios, computadores, documentos e aproximadamente R$ 4 milhões em espécie. Os agentes ainda recolheram 45 mil dólares e 24,5 mil euros. Em apenas uma empresa, sediada em São Paulo, os policiais encontraram R$ 3,67 milhões. 

    O objetivo principal é evitar a destruição de provas importantes do caso. Segundo a apuração do Ministério Público e da Polícia Federal, um cartel de empreiteiras combinava licitações na Petrobras, superfaturava obras na estatal e repassava o excedente sob a forma de propinas a políticos e a funcionários da petroleira. Só no STF, mais de 40 políticos respondem a inquérito por corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo a PF, após pedido de delegados e procuradores, os ministros do Supremo autorizaram a apreensão de bens supostamente obtidos por meio dos crimes. Além de corrupção e lavagem de dinheiro, há suspeita de evasão de divisas, fraude à licitação e organização criminosa.

     

    BR Distribuidora

    Os policiais estiveram nas casas de Collor em Brasília e em Alagoas. Também realizaram buscas na TV Gazeta, que pertence à família do senador. O ex-presidente é investigado por, segundo o doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema, ter recebido propina para facilitar contratos na BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras. Em delação premiada, o dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, disse ainda que Collor teria recebido R$ 20 milhões do esquema montado na Petrobras, entre 2010 e 2012. 

    Segundo a PGR, essa é a “primeira fase” de ações da Lava-Jato no STF – na primeira instância, em Curitiba, já houve 15 fases. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que as ações eram “necessárias”. “As medidas são necessárias ao esclarecimento dos fatos investigados no âmbito do STF, sendo que algumas se destinaram a garantir a apreensão de bens adquiridos com possível prática criminosa, e outras a resguardar provas relevantes que poderiam ser destruídas caso não fossem apreendidas”, explicou. Para a procuradoria, as ações de buscas e apreensão demonstram uma “atuação firme e responsável” para esclarecer os fatos.

     

    Os principais alvos

    Saiba quem são os políticos investigados na Operação Politeia

     

    Fernando Collor de Mello (PTB-AL), ex-presidente da República e senador

    Acusação

    Em delação premiada, o dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, disse que Collor teria recebido R$ 20 milhões do esquema montado na Petrobras,entre 2010 e 2012, em troca de influência do político em negócio na BR Distribuidora. O senador já havia sido citado pelo doleiro Alberto Youssef por conta de depósitos no valor de R$ 50 mil.

     

    Defesa

    O senador, por meio de nota, repudiou com veemência a operação da Polícia Federal. Classificou a investida como invasiva e arbitrária. Afirmou que se colocou à disposição para ser ouvido pela Polícia Federal.

     

    Ciro Nogueira (PP-PI), senador e presidente do partido

    Acusação

    É apontado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como o distribuidor do dinheiro sujo dentro do partido.

     

    Defesa

    Por meio de seu advogado, o senador classificou de “abusiva” a busca e apreensão de documentos em sua residência. “Vivemos numa época em que medidas invasivas se tornaram regra, não exceção.”

     

    Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), senador e ex-ministro do governo Dilma

     

    Acusação

    Suspeito de ter intermediado o recebimento, em 2010, de R$ 20 milhões para a campanha de reeleição do então governador Eduardo Campos (PSB-PE), morto em acidente aéreo em agosto do ano passado.

     

    Defesa

    Em nota, o político manifestou sua confiança no trabalho das autoridades que conduzem a investigação e disse que está à disposição para colaborar com os ritos processuais.

     

    Eduardo da Fonte (PP-PE), deputado

     

    Acusação

    É apontado pelos delatores como o articulador de um pagamento de R$ 10 milhões ao PSDB, por meio do ex-senador Sérgio Guerra, para que uma CPI sobre a Petrobras fosse esvaziada. Também é acusado de receber pagamentos mensais do esquema de corrupção

     

    Defesa

    O parlamentar afirmou que estava à disposição da Justiça para esclarecer todos os fatos levantados.

     

    Mário Negromonte (PP-BA), conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) da Bahia, ex-ministro de Dilma e ex-deputado

    Acusação

    Teria recebido do esquema R$ 5 milhões para campanha em 2010. É apontado por delatores como um dos distribuidores da propina dentro da legenda. Recebia, segundo as acusações, percentuais das propinas destinadas à sigla.

    DefesaPor meio de nota, a assessoria de imprensa comunicou que o ex-ministro colaborou com os trabalhos da polícia e que a operação ocorreu sem problemas. Negromonte disse ter certeza de que, ao término da investigação, será inocentado.

     

    João Pizzolati (PP-SC), ex-deputado e atual secretário de Articulação Institucional de Roraima

     

    Acusação

    Em delação premiada, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa afirmaram que o parlamentar recebeu do esquema R$ 5,5 milhões para financiamento de campanha eleitoral em 2010.

     

    Defesa

    Os advogados do ex-deputado afirmaram que confiam nas decisões do STF, no entanto, ressaltaram a preocupação com atitudes invasivas.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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