Autor: Bruno Villas Bôas e Thais Carrança
Após a primeira deflação desde 2006, em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou para 0,24% em julho, puxado por dois itens administrados: a energia elétrica e os combustíveis. Apesar da alta, analistas veem um cenário benigno, efeito do choque favorável de preços dos alimentos e da fraca demanda.
O sinal mais evidente de que a descompressão continua veio do indicador acumulado em 12 meses, que recuou para 2,71% em julho – a menor taxa desde fevereiro de 1999 (2,24%).
Na passagem de junho para julho, a energia elétrica foi a principal responsável pela aceleração do IPCA. As tarifas ficaram 6% mais caras com a entrada em vigor da bandeira tarifária amarela, o que gerou cobrança adicional de R$ 2 a cada 100 Kwh consumidos. Os combustíveis também contribuíram: ficaram 0,92% mais caros com o aumento do PIS/Cofins.
Esses avanços fizeram dos preços administrados pelo governo a principal fonte de pressão do IPCA no mês. Eles subiram em conjunto 1,28%, após a deflação em junho (-0,83%). Em entrevista à agência “Reuters”, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, deixou claro que esse comportamento não afeta as decisões de política monetária.
“Hoje, os preços monitorados estão mais voláteis, é preciso ver a tendência. Mudanças pontuais mês a mês não interferem na política monetária”, disse Goldfajn, que também minimizou o fato de a inflação em 12 meses ter “furado” o piso da meta do ano (3%).
O IPCA do mês de julho ficou um pouco acima da previsão dos analistas ouvidos pelo Valor. Eles estimavam, na média, um avanço de 0,18%. Por dentro do resultado do mês, porém, eles viram um quadro mais benigno que o estimado. Após a divulgação do índice, a Rosenberg Associados chegou a reduzir sua projeção do IPCAno ano, de 3,4% para 3,3%.
“O IPCA veio bem próximo da nossa projeção, de 0,23%, mas revelou por dentro um comportamento benigno dos preços livres. Alimentos tiveram deflação, os serviços seguiram em desaceleração e os preços de produtos industriais também recuaram”, disse Leonardo França, economista da consultoria.
A inflação subjacente dos serviços, acompanhada de lupa pelo Banco Central, desacelerou de 4,7% em junho para 4,5% em julho, pelo indicador acumulado de 12 meses. O índice de difusão – que mede o percentual de itens em alta – foi de apenas 41,8%, segundo cálculos da MCM Consultores. É o mais baixo índice desde meados de 1999.
Segundo analistas, a inflação deve se acelerar um pouco mais em agosto, impactada por combustíveis e também pela energia elétrica, por causa da mudança da bandeira tarifária para vermelha. A Rosenberg Associados prevê alta de 0,45% no mês. A MCM estima 0,55%. Se confirmado, o índice em 12 meses tende a iniciar um lento processo de aceleração.
“Os vetores que estavam impulsionando a queda acumulada da inflação começam a desaparecer, com a redução da deflação de alimentos e outros fatores inflacionários, principalmente os itens administrados”, disse Alexander Almeida, da Mapfre, que prevê o IPCA de 3,9% em 2017, um pouco acima da média do mercado (3,45%).
A desaceleração dos preços tem sido percebida por outros indicadores além do IPCA, que mede a inflação das famílias com renda mensal de um a 40 salários mínimos. Índices que medem variações no atacado, ao produtor e até a inflação de famílias de baixa renda desaceleraram, como revelam dados divulgados pelo IBGE e pela FGV.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), por exemplo, apresentou alta de 0,17% em julho. Com o resultado, o índice em 12 meses desacelerou para 2,08%, o mais baixo dos últimos 37 anos, ao menos. O indicador mede a variação de preços paras famílias com renda até cinco salários mínimos.
Fonte: Valor Econômico