As taxas dos principais contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) caíram ontem na BM&F, em um movimento aparentemente alinhado com o dólar, que voltou a ser negociado abaixo de R$ 2,22. Operadores ressaltam que a redução dos prêmios de risco está longe de revelar um reposicionamento dos investidores, já que o pregão foi de liquidez reduzida.
Sem indicadores domésticos de peso que possam alterar as expectativas para o rumo da política monetária, o mercado opera mais na base do giro que na montagem de posições estruturais. Restou como explicação para o recuo dos contratos DI ontem as especulações com ativos domésticos em torno da possibilidade de que o malogro da seleção brasileira dê votos para a oposição na corrida presidencial. Sem Dilma Rousseff na presidência em 2015, estaria mais próximo um ajuste crível da política econômica, na leitura do mercado.
No pregão de ontem, o DI que vence em janeiro de 2016 fechou a 11,09%, ante 11,12% no pregão anterior, após ajustes; o DI de janeiro de 2017 ficou em 11,40%, contra 11,46% de sexta-feira.
Se a fraqueza econômica tira da curva de juros a expectativa de novo aperto monetário em 2015, a inflação em 12 meses acima do teto da meta (6,5%) e o fantasma do reajuste dos preços administrados desautorizam especulações mais fortes em torno de um corte da taxa Selic.
O Boletim Focus desta semana apenas confirmou a expectativa de que a economia brasileira convive com crescimento fraco e inflação elevada. A mediana das projeções para o IPCA este ano subiu de 6,46% para 6,48%, ao passo que a expectativa para a expansão do PIB caiu de 1,07% para 1,05%. O panorama não se altera muito quando se mira 2015: crescimento de apenas 1,50% e IPCA de 6,10%. Foi mantida a estimativa para taxa Selic no fim deste ano (11%) e do próximo (12%).
Na quarta, o IBGE divulga dados das vendas no varejo em maio. Na sexta, o BC solta o IBC-Br. São dois indicadores que devem reforçar o ambiente de enfraquecimento da atividade e aumentar a possibilidade de que o PIB possa ter sido negativo no segundo trimestre.
Para Luiz Monteiro, diretor da Queluz Asset Management, a tendência é que os juros futuros fiquem andando de lado até que se tenha uma ideia mais clara do grau de desaceleração da economia e seus efeitos sobre a inflação. Os analistas projetam alta da Selic em 2015, mas o mercado já está mais na linha de manutenção e até de possível corte após as eleições.
É consenso entre 39 economistas ouvidos pelo Valor Data que o Copom manterá a Selic em 11% no seu próximo encontro. Desse elenco de profissionais, 33 apostam que a taxa básica segue congelada até o fim do ano. Fiam-se, é claro, na mensagem do BC, de que mantidas as condições monetárias atuais, a inflação tende a entrar em trajetória de convergência para a meta no horizonte relevante da política monetária, ou seja, algo entre um ano e meio e dois anos.
Fonte: Valor Econômico