Juro futuro sobe em meio à depreciação do real

    Por Antonio Perez, Lucinda Pinto, Silvia Rosa e José de Castro | De São Paulo

    Os juros futuros seguiram ontem a marcha ascendente iniciada na segunda-feira na esteira da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação e de declarações de um diretor do Banco Central (BC) – ambos eventos interpretados pelos analistas como sinal de que a taxa básica de juros (Selic), hoje em 9%, deve chegar a 10% até o fim do ano. Contribuíram para consolidar o movimento de alta dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) o avanço do dólar e das taxas dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. A moeda americana subiu ontem 0,59% em relação ao real, para R$ 2,290, em um movimento de correção após o tombo de segunda-feira.

    Já alinhado à perspectiva de um aperto monetário mais forte, os investidores se apoiaram na depreciação do real para consolidar de vez a aposta em Selic em dois dígitos. O contrato com vencimento para janeiro de 2014 – espelho para o rumo dos juros este ano – subiu mais um degrau ontem e atingiu 9,38% (ante 9,36% no pregão anterior). Além do aumento da projeção para o IPCA em 2014, contou para a alta das taxas, segundo especialistas, a declaração dada pelo diretor de política econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, anteontem, de que “ainda há bastante trabalho para ser feito pela política monetária em termos de combate à inflação”.

    Segundo um analista de uma grande instituição financeira, que prefere não ter seu nome citado, as projeções do BC sugerem que o efeito do câmbio sobre a inflação pode ser mais intenso do que se imaginava. Ele ressalta que, considerando o cenário de referência do BC – Selic em 9% (um ponto percentual acima do nível do relatório de junho) e taxa de câmbio elevada (R$ 2,35, ante R$ 2,10 em junho) -, é possível a conclusão de que o repasse cambial pode estar em 10%. “O cenário que o BC está observando é complicado. Não há qualquer razão para pensar que o ciclo esteja perto de terminar”, afirma o especialista. “Voltamos a acreditar que 2014 vai começar com os juros em alta.”

    Na BM&F, o contrato para janeiro de 2015, que reflete o rumo dos juros daqui até o fim do próximo ano, também subiu, passando de 10,24% para 10,31%. Segundo estrategistas de renda fixa, o contrato carrega um prêmio elevado, fruto em boa parte das incertezas sobre o comportamento da inflação e da atividade econômica em 2014. Entre os contratos com vencimento distante, o DI para janeiro de 2017 fechou a 11,48% (ante 11,42%).

    Já a alta do dólar ontem refletiu um movimento de correção, depois da queda de 1,82% de segunda-feira. Alguns investidores aproveitaram a cotação mais baixa para recompor as posições em dólar, movimento que foi puxado por importadores e estrangeiros.

    Os investidores estrangeiros vêm aumentando a posição comprada na moeda americana no mercado futuro (aposta na alta da cotação), que alcançou ontem novo recorde, de US$ 20,213 bilhões. Segundo o gerente de análise da XP Investimentos, Caio Sasaki, esse movimento não representa uma fuga de capitais do Brasil. Parte disso reflete a busca por proteção para as alocações em renda fixa.

    Os investidores seguem atentos ao impasse em relação ao orçamento dos Estados Unidos para 2014 e o aumento do teto da dívida americana.

    A falta de acordo em torno do orçamento americano levou à paralisação de alguns serviços públicos. A notícia levou a uma queda do dólar frente às principais divisas, diante da expectativa de que isso poderia afetar a recuperação da economia americana e postergar a redução dos estímulos monetários pelo banco central dos EUA.

     

    Fonte: Valor Econômico

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