O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, deixou claro ontem que o país terá de conviver por um bom tempo com juros elevados e com as dores do ajuste nas contas públicas. Em palestra feita ontem em evento promovido pela Fundação Getulio Vargas, em São Paulo, ele observou que o Banco Central precisa ter liberdade para conduzir a política monetária e que não é possível baixar as taxas “por decreto”.
“Juros menores não se conseguem por decreto. É preciso construir as condições para que a economia possa crescer e operar com menor inflação e taxas mais baixas. E a principal condição para isso é aumentar a produtividade da economia”, disse o ministro. Barbosa avaliou que, por causa dos juros elevados, o ajuste das contas públicas precisa ser feito mais rapidamente do que em outros países. Mesmo assim, previu que o esforço fiscal do governo vai durar, pelo menos, dois anos, porque o reequilíbrio será virá de forma gradual.
Em Washington, onde participou de um seminário sobre a América Latina, no fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que o Brasil precisa fazer reformas que estimulem a oferta de bens e de serviços. Numa crítica velada à política econômica conduzida pelo seu antecessor no cargo, Guido Mantega, Levy disse que, durante muito tempo, acreditou-se que bastava apoiar a demanda e conceder incentivos para que a economia crescesse.”Isso não está mais funcionando”, afirmou.
Concessões
Tanto Levy quanto Barbosa destacaram a importância do programa de concessões de estradas, ferrovias, portos e aeroportos que o governo pretende anunciar ainda este mês para que o país retome a capacidade de crescer. Para Levy, se as medidas de ajuste forem adotadas com rapidez, há boas chances de a economia ter um horizonte mais favorável no segundo semestre.
Para Barbosa, o programa deve despertar grande interesse entre investidores no exterior; ele explicou que o real desvalorizado frente ao dólar torna o preço dos ativos brasileiros mais atraentes. Mesmo com a atividade econômica em ritmo lento, avaliou, os investimentos devem ocorrer porque há uma grande demanda reprimida por serviços de infraestrutura no Brasil.
Na mesma linha de Levy, o ministro do Planejamento afirmou que, neste momento, medidas adicionais de estímulo não conseguiriam impulsionar a economia. Por isso, disse, o foco do governo é o de fazer o ajuste fiscal e baixar a inflação. “Esse é o primeiro passo para restabelecer o crescimento.” Para Barbosa, a taxa de investimento na economia vai ficar abaixo de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, mas voltará a superar esse patamar a partir de 2017.
IPC-S acelera para 0,72% em maio
O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) subiu 0,72% em maio, depois de avançar 0,61% em abril, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). De acordo com a FGV, o resultado mostra aceleração do índice, uma vez que, na terceira quadrissemana do mês, a alta era de 0,68%. A maior contribuição para o resultado mensal foi dada pelo grupo de despesas diversas, que registraram alta de 2,67%. Um dos destaques foi o reajuste dos jogos de loteria, que alcançou 20,62% na última semana de maio.
Fonte: Correio Braziliense