Apoiados no conteúdo do comunicado da decisão do Comitê de política monetária (Copom) na quarta-feira à noite, os investidores trataram ontem de realinhar os juros futuros à possibilidade de que o ciclo de aperto monetário não seja estendido. As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) mais curtos caíram de forma mais acentuada que a dos derivativos mais longos. Houve, portanto, um aumento da chamada inclinação da curva a termo (diferencial entre as taxas dos contratos curtos e longos), refletindo a visão de que a estratégia do BC traz riscos consideráveis para a trajetória de inflação.
A leitura geral do comunicado foi a de que o BC deseja encerrar o processo de aperto. Na quarta-feira, o Copom elevou a taxa básica em 0,25 ponto percentual, para 11% ao ano. Com isso, o atual ciclo de alta da Selic já acumula 3,75 pontos percentuais. No comunicado, o BC suprimiu a frase dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros , retomou a expressão neste momento (que havia figurado no comunicado de janeiro) e incluiu um parágrafo com a afirmação de que vai monitorar a evolução do cenário macroeconômico (…) para então definir os próximos passos de sua estratégia de política monetária .
Provavelmente, o BC quer apenas se certificar de que o choque nos preços de alimentos é temporário e haverá, em breve, um arrefecimento da inflação. Vale observar, contudo, que, nas coletas diárias de preços, o grupo Alimentos e Bebidas acumula uma alta de 2,60% pelo critério de ponta e de 2,17% na média. O BC pode também incluir em sua avaliação, como chegou a verbalizar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesta semana, que o câmbio dará alguma ajuda à inflação. O dólar, sob efeito do fluxo de capital externo, saiu do patamar de R$ 2,35 considerado no último Relatório Trimestral de Inflação para perto de R$ 2,28. Por fim, um elemento que deve estar no radar do BC é a fraqueza da atividade econômica.
A taxa do DI para janeiro de 2015 – veículo preferido para apostas sobre o rumo da Selic este ano – caiu ontem de 11,12% para 11,05%. Entre os contratos mais longos, a queda foi modesta. O derivativo para janeiro de 2017 desceu de 12,48% para 12,45%. Com isso, a inclinação da curva passou de 1,36 ponto para 1,40 ponto.
Segundo a gestora de recursos Quantitas, a curva a termo espelha 53% de chances de alta da Selic em 0,25 ponto percentual, em maio. Esse cálculo já exclui a taxa do DI para julho deste ano, que tem sido distorcida pelas especulações de que os mercados estarão fechados em dias de jogos do Brasil na Copa do Mundo em junho (12,17 e 23), com eventual decretação de feriado nacional. Isso alteraria variação da taxa interfinanceira (CDI), referência para os contratos de juros futuros negociados na BM&F.
Ontem, a taxa do DI para julho fechou o pregão regular a 10,78% (ante 10,81%). Mas acabou subido para 10,85% durante a sessão estendida, após o Ministério do Planejamento informar que os servidores públicos federais serão dispensados às 12h30 em dia de jogo da seleção brasileira. Embora não tenha havido definição sobre eventual feriado nacional, o mercado interpretou a notícia como uma evidência de que dia de seleção em campo será dia útil – e ajustou as taxas futuras.
Fonte: Valor Econômico