Juros vão cair a, pelo menos, 7%

    ANALISTAS ESTÃO DIVIDIDOS SOBRE O ENCERRAMENTO DA SELIC EM 2017. HÁ QUEM ACREDITE QUE POSSA FECHAR A 6,5% AO ANO. EXPECTATIVA PARA INFLAÇÃO FICA NO PISO DA META, DE 3%. PRESIDENTE DO BC LEMBRA QUE SÓ REFORMAS GARANTIRÃO EQUILÍBRIO DA ECONOMIA

    Autor: ANTONIO TEMÓTEO

    Ilan Goldfajn: “Desde o início da desaceleração da inflação, reduzimos a Selic em 6 pontos percentuais”

    Após a agência de classificação de risco Standard & Poor’s ameaçar rebaixar o Brasil caso a Reforma da Previdência não seja aprovada, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, reafirmou a importância da medida para equilíbrio da economia e para o processo de desinflação. Em evento em São Paulo, o chefe da autoridade monetária ainda indicou que a Taxa Básica de Juros (Selic) deve cair 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 24 e 25 de outubro.

    Ilan voltou a repetir a mensagem repassada ao mercado em todos os compromissos públicos. Segundo ele, caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o Copom vê, neste momento, como adequada uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária. ‘Além disso, nas mesmas condições, o Comitê antevê encerramento gradual do ciclo’, destacou.

    Os analistas, entretanto, ainda divergem sobre o tamanho do ciclo de corte de Juros. Uma parte avalia que a taxa básica pode terminar 2017 em 6,75% ao ano ou até mesmo em 6,5%. A mediana das expectativas divulgada ontem por meio do Boletim Focus apontou, pela quinta semana consecutiva, que a Selic deve encerrar o ano em 7%. Já a inflação, na opinião deles, ficará no piso da meta, de 3%.

    Até a semana anterior, a mediana apontava que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerraria 2017 em 2,98%. O resultado, se confirmado, ficaria abaixo do intervalo mínimo de tolerância e obrigaria o presidente do BC a escrever uma carta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para explicar os motivos de a carestia ter ficado fora dos intervalos definidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

    A pequena mudança nas estimativas pode estar ligada ao fato de os analistas esperarem que os preços administrados subam um pouco mais do que o estimado nas semanas anteriores. A média das expectativas para os preços de tarifas definidas pelo governo subiu de 6,60% na semana anterior, para 6,66%. Apesar da pequena variação, a escassez de chuva em grande parte do país deve afetar o preço das contas de luz e aumentar a inflação do ano. O mercado ainda espera que a economia cresça 0,72% em 2017 e 2,5% no próximo ano.

    Reformas

    Para o presidente do BC, a forte queda da inflação nos últimos 12 meses permitiu que o Brasil chegasse a um patamar de Juros historicamente baixo, que tende a estimular a economia. ‘Desde o início da desaceleração da inflação, já reduzimos a Selic em 6 pontos percentuais. E a expectativa do mercado é de continuidade da queda. Já vemos uma redução das taxas bancárias, do spread bancário’, disse. A Selic atualmente está em 8,25% ao ano.

    Segundo Ilan, juro real (descontada a inflação) está em torno de 3,0%. Apesar disso, ele alertou que, para que a Selic permaneça em patamar historicamente baixo, é preciso que sejam aprovadas as reformas estruturais. ‘Temos que insistir na Reforma da Previdência‘, afirmou.

    Bitcoin: risco de bolha

    O presidente do Banco CentralIlan Goldfajn, alertou ontem, durante evento em São Paulo, sobre o risco de bolha e formação de pirâmide nas operações do bitcoin, a moeda virtual mais usada atualmente. O bitcoin, afirmou, é um ativo sem lastro e as pessoas compram porque acreditam que a moeda vai valorizar. Quanto mais percepção de que o ativo vai se valorizar, mais pessoas compram e mais o preço de fato sobe. ‘Isso é a típica bolha ou pirâmide que existem na economia há centenas de anos.’

    Moedas virtuais, revolução digital e fintechs, as empresas financeiras de tecnologia, foram temas de várias perguntas no evento que Ilan participou na Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura. O presidente reforçou que o BC quer evitar a formação de bolhas e pagamentos ilícitos com utilização dessas moedas e novos mecanismos financeiros.

    Um dos presentes citou uma pesquisa do Goldman Sachs, que ressalta que os bancos devem perder quase US$ 5 trilhões para a indústria de Fintechs nos próximos anos e se o BC não está preocupado com esse mercado. Ilan respondeu que é importante diferenciar as várias empresas de tecnologia, algumas focadas em pagamentos, outras em empréstimos e ainda o bitcoin.

    Ilan ressaltou que o BC prepara uma regulação para as Fintechs, que são as empresas financeiras de tecnologia, com medidas em audiência pública. Em relação às discussões sobre uma suposta formação de nova bolha financeira devido ao alto preço dos ativos atualmente, Ilan afirmou que o aumento dos preços está ligado ao próprio crescimento global e ao juro baixo. ‘O ponto central para os preços dos ativos subirem é que a economia global está crescendo A economia global vai crescer quase 4% e o juro é zero. Essa combinação é imbatível’, afirmou.

    Freio

    O presidente do BC disse que essa preocupação com uma nova bolha é recorrente depois da crise financeira de 2008. Mas afirmou que o próprio questionamento sobre a existência ou não da bolha ‘coloca um freio nos excessos e tenta evitar um pouco exageros’. Ilan também disse acreditar que a revolução digital vai gerar ganho de eficiência e produtividade que, por sua vez, devem se refletir nas taxas de inflação pelo mundo.

    Cenário ainda incerto

    De olho nas eleições do próximo ano, os analistas têm acompanhado com lupa os resultados das principais pesquisas realizadas até agora. Não à toa, o banco de investimentos Credit Suisse, em apresentação divulgada ao mercado em 6 de outubro, alertou que o cenário para o Brasil ainda é incerto em 2017 e 2018.

    O documento, produzido pelo Departamento Econômico da instituição financeira, começa com uma análise sobre a política brasileira e destaca que aprovação do presidente Michel Temer permanece ‘muito baixa’. De olho no pleito eleitoral de 2018, a equipe do economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira, destaca que o ex-presidente Lula ampliou a liderança nas simulações de intenções de votos no primeiro turno. Ao mesmo tempo, o material mostra que o nível de intenções de voto do senador Aécio Neves (MG) e do governador de São Paulo Geraldo Alckmim, ambos do PSDB, encolheram.

    O levantamento da Data Folha analisado pelo banco ainda aponta que o petista mantém favoritismo em um eventual segundo turno contra Alckmim, João Doria (PSDB-SP) e Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Lula só perderia o pleito para Moro e ficaria empatado com Marina Silva (Rede-AC).

    Além da análise política, o documento faz uma avaliação sobre o processo de reequilíbrio das contas pública e ressalta que o substitutivo relatado pelo deputado Arthur Maia (PPS-BA) para a Reforma da Previdênciaimplica redução de R$ 417 bilhões na economia pretendida. Pelas contas da instituição financeira, os gastos com o pagamento de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) cresceriam até 2027 37% em termos reais acima dos realizados em 2017. Na prática, o deficit da Previdência equivaleria a 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) na mesma base de comparação.

    Desafios

    O Credit Suisse ainda ressalta que o cumprimento do teto de gastos públicos aprovados pelo Congresso Nacional depende, necessariamente, da flexibilização das despesas obrigatórias, além de uma Reforma da Previdência ainda mais abrangente. A instituição financeira relembra que somente 10% dos gastos não são vinculados, o que restringe o poder de atuação do governo.

    Mesmo no cenário em que o projeto original fosse aprovado em 2017, as demais despesas em 2019 precisarão diminuir, em termos reais, 7,5% em relação ao nível de 2016. Em 2027, essa queda teria de ser de 36%. (AT)

    Fonte: Correio Braziliense

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