Levy evita dizer se continua

    Londres – A permanência de Joaquim Levy no cargo de ministro da Fazenda tornou-se uma das principais preocupações de empresários e analistas que acompanham a situação do Brasil. E o próprio Levy tem contribuído para alimentar as especulações. Ontem, em almoço com investidores na capital britânica, o ministro não quis afirmar de forma clara se permanecerá no cargo, ao ser indagado pelos participantes do encontro sobre o assunto. Em resposta, ele apenas sorriu.   Mais tarde, diante das repercussões da notícia na internet, o ministro disse que não planeja deixar o governo. “Nunca é ruim trabalhar pelo seu país, especialmente quando há um objetivo claro”, afirmou, em entrevista veiculada pela rede CNN, ao responder a uma das perguntas do jornalista Richard Quest. Em seguida, o ministro disse que, neste momento, o mais importante é implementar as políticas de ajuste fiscal e explicá-las de forma clara para os cidadãos brasileiros. “Nós temos de ser claros sobre os esforços e os cortes de gastos que estamos fazendo. As pessoas estão preocupadas”, declarou.

    Apesar de reconhecer que o cenário é desafiador, Levy mostrou confiança na recuperação da economia brasileira, dizendo que se sente “confortável” com essa perspectiva. “Muitas pessoas no Brasil estão esperando decisões relacionadas ao ajuste e querem o crescimento”, disse o ministro, acrescentando que o governo sabe o que precisa fazer para voltar a crescer, que é, entre outras coisas, ter um orçamento robusto e continuar com o ajuste.

    Além disso, afirmou que o Executivo trabalha para conseguir o apoio do Legislativo para aprovar o Orçamento de 2016 e outras reformas estruturais importantes, como a da Previdência. “Nós mandamos as medidas e agora cabe ao Congresso apreciar as ações do ajuste. É hora de tomar decisões”, disse Levy.

    O tom da entrevista contrastou com o clima de frustração do almoço com os investidores – cerca de 20 gestores de grandes fundos de investimento. Segundo um dos presentes, o ministro foi questionado duas vezes sobre sua permanência no governo e, em ambas, limitou-se a sorrir. Um dos convidados explicou que o futuro de Levy tem sido uma das principais preocupações do mercado em Londres. Por isso, uma sinalização dele seria importante para que os analistas fizessem uma avaliação mais fundamentada do quadro econômico e político do do país.

    De acordo com essa fonte, para os investidores, é mais importante saber como ficará a política econômica do que da eventual saída da presidente Dilma Rousseff do cargo. “O essencial é saber como fica o Ministério da Fazenda“, disse ele, lembrando as críticas que Levy vem sofrendo no PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e as pressões sobre Dilma Rousseff para substituí-lo.

    Dificuldades

    Na reunião, realizada em caráter reservado num dos principais hotéis de Londres, o ministro fez uma exposição sobre as dificuldades econômicas que o país enfrenta, mas evitou fazer comentários sobre os impasses políticos entre o Planalto e o Congresso, que têm impedido o avanço das medidas propostas pela equipe econômica para ajustar as contas públicas. O relato não foi suficiente para dar confiança aos investidores. Um representante de uma das instituições financeiras presente disse que continua prevendo queda no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste e nos próximos dois anos, com recuperação apenas a partir de 2018.

    Ao deixar o hotel, Levy não quis comentar as preocupações dos investidores. Segundo ele, o encontro tratou apenas de economia. “Falamos do nosso trabalho para aprovar o Orçamento de 2016, da importância de obter receitas e da necessidade de prestar atenção nos gastos. Também falamos de infraestrutura”, afirmou. O ministro chegou ontem a Londres, onde cumpre uma agenda de dois dias. Hoje, ele terá uma reunião com o ministro de Finanças britânico, George Osborne.

    Rombo

    O rombo do Banco Central com as operações de swap cambial, equivalente à venda de dólares no mercado futuro, atingiu  R$ 101,4 bilhões no acumulado do ano até 23 de outubro. No mês, o fluxo cambial voltou a registrar saídas maiores do que entradas. Até 23 de outubro, o saldo ficou negativo em  US$ 1,311 bilhão. No acumulado de janeiro até  23 de outubro, contudo, o fluxo está positivo em  US$ 9,854 bilhões. No comércio exterior, o saldo ficou positivo em US$ 17,043 bilhões no período. Os dados foram divulgados ontem pelo Banco Central.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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