Libra, uma boa e uma má notícia

    Maior área já leiloada – a primeira do pré-sal – tem petroleiras internacionais sólidas e experientes junto à Petrobras. Porém, falta de concorrência limitou ganho da União

    Nicola Pamplona

    A15 segundos do fim do prazo para entrega das propostas pela área de Libra, em leilão ontem no Rio, o primeiro e único envelope foi entregue à comissão de licitação da agência, com uma boa e uma má notícia para o governo: o consórcio ofertante trazia, além de estatais chinesas, duas gigantes mundiais especializadas na exploração de petróleo em águas profundas. Mas a participação de apenas um consórcio reduziu ao mínimo o ganho da União com o projeto.

    Formado pelas chinesas CNOOC e CNPC, pela angloholandesa Shell e pela francesa Total, além da Petrobras, o consórcio se comprometeu a entregar à Pré-Sal Petróleo SA (PPSA) um volume de 41,65% da produção de petróleo, excluindo os custos — equivalente ao piso estipulado pelo edital do leilão. O representante do consórcio trazia um segundo envelope, com proposta maior, mas não foi entregue por falta de competidores. Para especialistas presentes, o governo poderia receber algo em torno de 46% a 48%, caso houvesse competição.

    Mesmo assim, a diretora geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriard, comemorou o resultado. “O consórcio teve cinco empresas, que são a 2-, a 3-, a 7-, a 8- e a 10- maiores petroleiras do mundo. Sucesso maior do que este era difícil acreditar”, disse Magda.

    Até a semana passada, o mercado esperava uma participação agressiva das empresas chinesas, que acabaram ficando com apenas 20% do projeto, divididos igualmente. Shell e Total ficaram com 20%, cada uma, e a Petrobras, com os 40% restantes — a estatal brasileira já tinha 30%, por
    lei, e entrou com 10% no consórcio. No leilão de ontem, as empresas disputavam o direito de ficar com 70% do projeto.

    Para responder às críticas ao leilão, a defesa do modelo de licitação do pré-sal foi a tônica dos discursos da diretora-geral da ANP e do ministro Edison Lobão no início do evento, por volta das 15h, e de um filme institucional apresentado pela agência, cujo teor reforçava a tese de que os ganhos com a exploração das reservas serão de todos os brasileiros. O prazo de 3 minutos para entrega das propostas foi aberto por volta de 15h30.

    O consórcio vencedor terá um mês para pagar o bônus de assinatura da área, de R$ 15 bilhões. Depois, tem mais 120 dias para definir os planos de exploração da área, que contém a maior descoberta de petróleo do Brasil, com volume de petróleo estimado entre 8 e 12 bilhões de barris. No mínimo, terão de desembolsar R$ 610 milhões. Se decidirem por levar adiante o desenvolvimento da área, o investimento deve superar os R$ 100 bilhões, segundo projeção da ANP.

    “Estamos satisfeitos, fizemos um consórcio vencedor e acreditamos que a Shell pode acrescentar a experiência que tem em águas profundas no projeto de Libra”, disse o presidente da Shell Brasil, André Araújo. Parceira da Petrobras em projetos no pré-sal, a Shell já teve a concessão da área de Libra, em sociedade com a estatal, e chegou a perfurar um poço na região no início dos anos 2000, mas sem chegar ao pré-sal. Agora, pagará R$ 3 bilhões para voltar a explorar a mesma área.

    As negociações para formar o consórcio foram iniciadas após a publicação do edital do leilão, em setembro, mas a participação das empresas privadas foi selada após a definição, há duas semanas, da diretoria da PPSA, que tem poder de veto sobre as decisões do consórcio e será presidida pelo engenheiro Oswaldo Pedrosa, ex-Petrobras e ANP. “Tomamos a decisão final quando vimos a composição da PPSA. Foi importante para assegurar que vamos trabalhar juntos a um grupo técnico”, contou o diretor geral da Total do Brasil, Denis Palluat de Besset.

    A Petrobras não deu entrevistas após o leilão, embora sua presidente, Graça Foster, tenha acompanhado pessoalmente o evento.

     

    Fonte: Brasil Econômico

     

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