Lucro de grandes bancos cresce 14,6%

    Vinícius Pinheiro e Talita Moreira | De São Paulo

    Com a queda na inadimplência em meio aos primeiros sinais de recuperação da economia, o lucro dos grandes bancos brasileiros voltou a crescer no terceiro trimestre. O resultado combinado de Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil foi de R$ 16,4 bilhões, alta de 14,6% em relação ao mesmo período do ano passado. O lucro contábil, que inclui despesas consideradas não recorrentes no trimestre, foi de R$ 13,6 bilhões, alta de 10,4%.

    Apesar da melhora, o crédito segue estagnado e se tornou um fator de preocupação para o resultado dos bancos nos próximos trimestres. A queda da Taxa Básica de Juros (Selic) coloca uma pressão adicional sobre as margens das instituições, que esperam compensar esse efeito com o aumento no volume de empréstimos.

    A expectativa era que os balanços do terceiro trimestre trouxessem pelo menos algum sinal de retomada. Não foi o que ocorreu. O saldo dos financiamentos dos quatro grandes bancos encerrou setembro em R$ 2,075 trilhões, uma redução de 1,3% ante junho deste ano e de 4,5% em 12 meses.

    Apesar dos números abaixo do esperado, os executivos de todas as instituições sinalizaram uma propensão maior para a concessão de crédito. “Existe uma disposição para crescer a carteira [de crédito], mas essa não é uma decisão unilateral. Não depende só de nós, mas também da demanda”, afirmou o presidente do Itaú, Candido Bracher, durante teleconferência sobre os resultados.

    A carteira de crédito a grandes empresas tem demorado mais para se recuperar e ainda tem concorrido com as operações de mercado de capitais, segundo Bracher. Ele traçou um cenário mais positivo para os empréstimos nas linhas para pessoas físicas. “A desalavancagem e a queda no desemprego serão seguidas por um crescimento nesse portfólio”, disse.

    Com o crédito para empresas em ritmo lento, o Santander fez uma aposta mais forte no varejo, que representou 65% do resultado antes de impostos no terceiro trimestre, contra 42% há dois anos, segundo o vice-presidente executivo e diretor de relações com investidores, Ángel Santodomingo.

    Dos quatro maiores bancos de capital aberto, o espanhol foi o único que apresentou expansão no crédito, tanto no trimestre como no acumulado em 12 meses. Já o BB registrou a maior queda na carteira em relação a setembro do ano passado, diante da maior restrição de capital e do trabalho da instituição de buscar operações mais rentáveis. “O banco é conservador. Na nossa carteira hoje, predominam linhas como consignado, crédito de salário, que trazem inadimplência baixa”, afirmou o presidente do BB, Paulo Rogério Caffarelli.

    O crédito fraco se refletiu nas receitas dos bancos. A margem financeira, que inclui as receitas com crédito menos os custos de captação, recuou 4,9% em relação aos meses de julho a setembro do ano passado. A queda da Selic é outro fator de pressão sobre as margens, e tende a se intensificar se o volume de financiamentos não se recuperar.

    Os bancos ainda têm, contudo, bastante gordura para queimar do lado das despesas no crédito. Graças à melhora no cenário econômico, as provisões contra calotes recuaram 20% em relação ao terceiro trimestre de 2016, para um total de R$ 16,655 bilhões.

    Mesmo com a redução, as instituições mantêm um nível alto de provisões, ainda na expectativa de surpresas negativas no crédito, principalmente entre as empresas. No Itaú, o índice de cobertura, que mede o total de provisões em relação às operações em atraso há mais de 90 dias, encerrou setembro em 932% na carteira de atacado. Em setembro de 2016 esse índice estava em 345%.

    Se a situação da economia melhorar, os bancos poderão reverter parte dessas provisões, o que pode ajudar os resultados do ano que vem, mesmo com os financiamentos ainda em ritmo lento. O Bradesco projeta um crescimento da ordem de 5% para o mercado de crédito no ano que vem. A retomada dos empréstimos, junto com a redução nas despesas com provisão, deve ajudar a compensar o efeito negativo da queda da Selic, segundo Carlos Firetti, diretor de relações com o mercado do banco.

    Enquanto o crédito não volta, os bancos seguem em busca de receitas com a cobrança de tarifas. Entre julho e setembro, os ganhos com prestação de serviços, que incluem desde a manutenção de conta corrente até a taxa de administração de fundos de investimento, aumentaram 7,1% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, para R$ 28,1 bilhões.

    O controle das despesas é outro caminho adotado para manter os resultados em alta. Um ano após a aquisição do HSBC, o Bradesco lançou o primeiro programa de demissões voluntária (PDV) de sua história, que contou com 7,4 mil adesões. No BB, os efeitos de uma reorganização anunciada no ano passado – que envolveu aposentadorias voluntárias e fechamento de agências – começaram a aparecer. As despesas operacionais caíram 4,2% em relação ao terceiro trimestre de 2016, para R$ 13,078 bilhões. Segundo Caffarelli, o contexto de Selic em queda e a necessidade de melhorar o retorno “obrigam [o banco] a um exercício muito forte de redução de custos”.

    Melhora no retorno será lenta, diz BB
    Talita Moreira, Vinícius Pinheiro e Álvaro Campos | De São Paulo

    O presidente do Banco do Brasil (BB), Paulo Rogério Caffarelli, reconheceu ontem que será lento o caminho para atingir seu principal objetivo à frente da instituição: alcançar uma rentabilidade compatível com a dos concorrentes privados. “Estou convicto de que estamos no caminho certo. Não é rápido, mas é consistente”, disse.

    Nos nove primeiros meses deste ano, o BB gerou um retorno sobre o patrimônio líquido de 12,3% – bem acima dos 9,1% obtidos no mesmo período de 2016, mas ainda distante dos cerca de 20% apresentados por Itaú Unibanco e Bradesco.

    A rota que o BB vem trilhando passa pela recomposição do portfólio de crédito, afetado pelas operações com taxas artificialmente baixas de alguns anos atrás, e pela redução de despesas. “Quando você olha para o banco um tempo atrás, a carteira estava desbalanceada. Esse processo tem acontecido, vem havendo uma compensação”, disse Caffarelli, em entrevista a jornalistas.

    Porém, o desempenho ainda fraco do crédito se fez novamente notar no terceiro trimestre. O lucro líquido ajustado do banco somou R$ 2,708 bilhões, 15,9% superior ao obtido no mesmo período do ano passado. Mas a melhora veio sobretudo da queda nas despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD), e não de um aumento nas operações de crédito.

    O BB fechou o trimestre com uma carteira expandida de R$ 677 bilhões, baixa de 2,7% em relação a junho e de 7,9% frente a setembro de 2016. As operações com pessoas físicas começaram a dar sinais de melhora, mas o portfólio de empresas ainda apresentou forte retração – em parte refletindo a demanda fraca, em parte por uma mudança no foco da instituição.

    Sinal mais claro disso se vê nos financiamentos a micro e pequenas empresas, cujo estoque caiu 30,9% em um ano, para R$ 51,747 bilhões. “Houve uma mudança de perfil. Aumentamos nossa posição em linhas de recebíveis, melhores e com menos risco”, afirmou o vice-presidente de gestão financeira e relações com investidores, Alberto Monteiro. Segundo ele, o ritmo de queda da carteira já diminuiu.

    Apesar da retração no crédito, os executivos do BB disseram ser possível fechar o ano dentro das projeções traçadas pela instituição, que apontam queda de 1% a 4% em 2017. “A gente tem a convicção de que chega a esse número no fim do ano”, ressaltou Caffarelli.

    De acordo com os executivos, o crédito já está em aceleração. No terceiro trimestre deste ano, a média mensal de desembolsos brutos para pessoa física foi o dobro da apresentada no mesmo período de 2016. Também houve aumento de 25% nas liberações para empresas e de 39% para clientes do agronegócio. O banco trabalha com a perspectiva de um crescimento de 6% para o mercado brasileiro de crédito no ano que vem.

    A inadimplência nas operações de crédito do BB finalmente começou a ceder, movimento que para os concorrentes privados já havia acontecido no trimestre anterior. Em setembro, a taxa de calotes estava em 3,94%, ante 4,11% em junho. As despesas com PDD foram de R$ 5,163 bilhões, o que representa queda de 9% na comparação com o período de julho a setembro do ano passado. Segundo o presidente do BB, o indicador deve mostrar estabilidade no fim deste ano, mas deve cair no próximo.

    A diminuição do risco e a perspectiva de um mercado de crédito mais forte devem ajudar o BB a melhorar sua margem no próximo ano a despeito da queda na Taxa Básica de Juros, disse Caffarelli. O banco também conta com a reprecificação dos contratos antigos de crédito, já em curso, para mitigar os efeitos da Selic mais baixa.

    Para analistas do Credit Suisse, a margem financeira foi “uma grande decepção” e a esperada melhora nos spreads não veio. No entanto, o banco suíço destacou que a forte melhora nos níveis de capital do BB deve aliviar receios em relação ao tema, que voltaram ao radar após a notícia de que a área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) questionou o aporte no banco feito por emissão direta de Títulos públicos. O Banco do Brasil encerrou setembro com 10,04% de capital principal, alta de 0,97 ponto em um ano.

    Segundo reportagem do Valor, o TCU deve determinar que BB, Caixa, Banco da Amazônia (Basa) e Banco do Nordeste devolvam ao Tesouro R$ 39 bilhões recebidos por meio de aportes de Títulos públicos durante os governos Lula e Dilma. Desse total, o BB recebeu R$ 9,6 bilhões, dos quais R$ 8,1 bilhões foram contabilizados como instrumentos híbridos de capital e dívida.

    De acordo com Caffarelli, o tema não é fonte de preocupação. “Foi tudo feito com aprovação, previsto no orçamento.” Os recursos recebidos pelo banco foram aplicados em operações do agronegócio, com equalização de taxas, segundo Monteiro, vice-presidente. “O efeito para o banco é neutro”, disse, acrescentando que o BB não ganha dinheiro com essa operação e que não faria sentido pagar em dinheiro pelos títulos.

    Fonte: Valor Econômico

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