Maior recessão em 25 anos

    O Brasil registrará a maior retração da economia em 25 anos ao desabar 2,7% em 2015, conforme projeções do Banco Central (BC). A estimativa anterior da autoridade monetária indicava queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,1%. 

    O Relatório Trimestral de Inflação, publicado ontem, ainda apontou que a carestia terminará o ano em 9,5% e chegará a 5,3% em 2016. As previsões levaram em conta uma taxa de câmbio de R$ 3,90 e os juros básicos da economia em 14,25% ao ano. 

    O diretor de Política Econômica do BC, Luiz Awazu Pereira, avaliou que a deterioração das expectativas está ligada às incertezas em relação ao ajuste fiscal. Segundo ele, após o governo reduzir as projeções de superavit primário e enviar ao Congresso Nacional uma proposta orçamentária para 2016 com uma previsão de deficit, os prêmios de risco aumentaram, o preço do dólar disparou e as expectativas de inflação cresceram. “As mudanças de parâmetros para as metas fiscais não foram compatíveis com as expectativas do mercado e se refletiram em risco”, comentou.

    Antes das mudanças nas projeções fiscais anunciadas pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento, a autoridade monetária estimava que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no fim do ano seria de 9% e, em 2016, de 4,8%, próximo à meta, de 4,5%. Apesar do aumento nas expectativas de inflação, Awazu avaliou que as projeções para 2017, 2018 e 2019 estão ancoradas. Para manter a Selic em 14,25% ao ano por período prolongado será necessário convergência da carestia. 

    “Houve deterioração no balanço de riscos para a inflação, mas, como não é possível ter certeza se as elevações recentes de prêmios de risco são transitórias ou permanentes, é preciso calma e discernimento analítico e evitar reatividade excessiva”, comentou. 

    Awazu também alertou que, mesmo que o contexto político e econômico exija calma e discernimento, isso não significa ignorar a volatilidade que tomou conta do mercado. 

    “Calma e sangue frio não é complacência, não é cegueira. É apenas analisar as coisas para tomar a melhor decisão possível, diante das informações que ainda estão por surgir. O ano que vem não vai ser um ano de descontrole inflacionário”, disse.

     

    Falhas

    Na opinião do ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, o aumento nas expectativas de inflação mostra que a autoridade monetária tem falhado na missão de garantir que o IPCA caminhe para 4,5% em 2016. Ele ressaltou que seria necessária uma ação mais enérgica do Comitê dePolítica Monetária (Copom) para sinalizar o combate à carestia. “Estão querendo ancorar expectativas no gogó, sem uma ação clara. O dólar já rompeu a barreira dos R$ 4. Ou sobem juros, ou admitem que não vão entregar a meta”, explicou. 

    Para o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, as projeções apresentadas pela autoridade monetária não mostram desvios significativos. Entretanto, ele ressaltou que esse cenário pode mudar, caso o preço do dólar continue o processo de alta de forma significativa. “Entendo que a estratégia para lidar com as pressões no câmbio seja por meio de intervenções mais intensas no mercado cambial, e não via aumento de taxas de juros”, afirmou. Goldfajn ressalvou que, se o encarecimento da divisa norte-americana afetar as expectativas de inflação, é possível que o Copom faça a opção por retomar o ciclo de alta de juros.

     

    TJLP sobe para 7%

    O Conselho Monetário Nacional (CMN) elevou a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para 7% ao ano. Esse é o quarto aumento consecutivo da taxa usada como referência para financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O percentual definido hoje valerá para o período de outubro a dezembro e é o mais alto desde setembro de 2006. Desde que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, assumiu a TJLP, vem aumentando 0,5 ponto percentual por trimestre. Depois de dois anos em 5% ao ano, a taxa subiu para 5,5% a.a. em janeiro, para 6% a.a. em abril e para 6,5% a.a. em julho.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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