Maioria vê Selic em 14% no fim do ciclo de aperto monetário

    O aumento do desemprego e o desempenho negativo do PIB não devem ser argumento, ao menos por ora, para o Banco Central interromper o ciclo de aperto monetário, iniciado em outubro do ano passado. Para 33 de 35 economistas ouvidos pelo Valor, a Selic volta a subir 0,5 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2 e 3 de junho. Desses, 21 ainda veem uma última dose no encontro seguinte, em julho. 

    A resistência da inflação acima do centro da meta nas projeções do mercado é o argumento mais importante dos analistas que esperam mais aperto pela frente. E, como o PIB relativo ao primeiro trimestre não trouxe nenhuma surpresa negativa, o BC ganha algum fôlego para manter-se “perseverante” no esforço de levar a inflação para o centro da meta de inflação em dezembro de 2016. 

    O PIB recuou 0,2%, abaixo da expectativa de variação negativa de 0,5% dos economistas ouvidos pelo Valor. Os números estão longe de representar um bom resultado. O consumo privado caiu 1,5%, pior desempenho desde o quarto trimestre de 2008. Além disso, o PIB do setor de serviços recuou 0,7%. Mas não inviabiliza, na opinião dos analistas, a dose adicional de aperto que se espera sobre a economia, necessária para que a confiança se restabeleça e, com ela, investimentos e a retomada do crescimento. 

    O que o mercado avalia agora é qual será a estratégia mais adequada para esse objetivo: elevar o juro até 14% – nível não alcançado desde agosto de 2006 – ou o Copom dar uma “pausa” um pouco antes e deixá-la inalterada por um tempo mais prolongado. 

    Para Bráulio Borges, economista-chefe da LCA, a manutenção do juro em 13,75% ao longo de todo 2016 levará o IPCA para mais perto do centro da meta, para 5,1%. Ou seja, a inflação vai ceder, mas ainda não cravará os 4,5%, mesmo com um cenário de atividade econômica fraca ao longo dos próximos meses, com desemprego e hiato do produto em elevação (a diferença entre o crescimento do PIB potencial e o concreto). “Isso tudo já está embutido em nosso cenário para a inflação do ano que vem, mas à medida que esse prognóstico se verificar, os riscos de aceleração da inflação cairão ainda mais, tornando o BC mais propenso a dar por concluído seu trabalho de desinflacionar a economia”, afirma Borges em relatório. 

    Cenário semelhante é contemplado pelo diretor do grupo de pesquisas econômicas para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Ele diz que o BC só deverá iniciar o corte de juros no momento em que a projeção de inflação estiver consolidada no horizonte relevante (de 18 a 24 meses) entre 4% e 5%. E essa convergência, em sua opinião, deve ocorrer apenas em meados de 2017. “Num cenário de estagnação em 2014 e recessão em 2015, a inflação deveria rodar bem abaixo da meta; mas não está pela falta de credibilidade da política monetária, desancoragem das expectativas de inflação, e o recente violento ajuste de preços administrados e câmbio depois de anos de represamento”, afirma. 

    Já o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, acredita que o Banco Central encerrará o ciclo de aumentos já em junho, com a Selicem 13,75%, mas voltará a cortar o juro no segundo trimestre de 2016. A inflação, ainda assim, não deve atingir o centro da meta no ano que vem, em grande parte por casa da expectativa de maior desvalorização cambial pela frente. 

    Em outra direção está a projeção do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, um dos dois analistas consultados que vê corte de juro ainda em 2015. Para ele, o BC deve levar a Selic até 14% ao ano – com uma dose de alta de 0,5 ponto nesta semana e outra de 0,25 ponto percentual em julho. Mas voltará a cortar a taxa já em outubro, de olho na fraca atividade. 

    Com esse cenário, a inflação deve ficar em 5,4% em 2016. “O que acho perfeitamente aceitável depois de uma inflação acima de 8% como teremos este ano”, afirma. “O problema é que depois de anos de credibilidade em baixa, o banco resolver ajustar a credibilidade perdida jogando a taxa para um nível acima do que se esperava.”

     

    Fonte: Valor Econômico

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