Mais inflação, menores ganhos salariais

    Com o corte de 600 mil vagas formais nos últimos 12 meses até junho, proporcionalmente maior na indústria de transformação (376 mil) e na construção civil (329 mil), a recomposição do salário real se tornou um desafio, como mostrou a reportagem do Estado (18/7), baseada em dados da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe) e do Ministério do Trabalho. Até junho, o INPC em 12 meses subiu 8,8% e a correção de salários, 7,7% (foi o segundo mês, neste semestre, em que houve queda real do salário).

    Tendência semelhante foi revelada pelos dissídios coletivos do primeiro semestre: a média dos reajustes, segundo o Departamento Inter-sindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), indicou um ganho médio real de 0,8%, comparativamente a 1,54% observado em igual período do ano passado. Em algumas categorias chegou a ocorrer queda real dos salários, caso da construção civil de São Paulo e dos metalúrgicos de Joinville, informou o jornal Valor. E, nos casos de alta real, a exceção mais positiva foi ados calçadistas de Franca, que obtiveram ganho de 1,6%.

    A dificuldade para a recomposição salarial se deve ao enfraquecimento generalizado da economia -já se prevê queda próxima de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano – e por seus efeitos sobre o consumo das famílias, por sua vez dificultado pela alta das taxas de juros e pela redução da oferta de crédito.

    Enquanto perdurar a crise, que provoca aumento do desemprego, a estabilização ou mesmo a redução do salário real serão consequências previsíveis. Situações específicas verificadas em algumas empresas, como a antecipação de férias ou a adoção parcial de regimes de lay-off, podem até mascarar a situação real.

    A recomposição do poder aquisitivo dos salários só deverá ocorrer quando a inflação recuar e a economia voltar a crescer, o que se espera para 2016. A pesquisa Focus do Banco Central previu para o próximo ano inflação de 5,4%, uma queda radical em relação aos 9,18%previstos para este ano.

    O medo do desemprego é um poderoso inibidor de reivindicações salariais. Além disso, “uma política monetária e fiscal contracionista é uma forma de combater a inflação e, portanto, os ajustes salariais também tendem a ser mais modestos”, disse ao Estado a economista Zeina Latif, da XP Investimentos. Em resumo, correções salariais menores poderão evitar mais desemprego até que a inflação caia.

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