Governo usa estimativas do mercado financeiro e reduz para 0,8% a previsão de crescimento da economia no próximo ano
O documento enviado ao Legislativo também alterou a meta de superavit primário para 1,2% do PIB, como já havia sido antecipado pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O percentual corresponde a R$ 66,3 bilhões, dois quais R$ 55,3 bilhões serão de responsabilidade do governo federal e R$ 11 bilhões, dos estados e municípios. O Ministério do Planejamento informou que, como acontecia até 2012, caso os entes regionais não atinjam a meta estimada, a União compensará a eventual diferença.
A decisão visa dar mais transparência às contas públicas, de acordo com promesa feita por Levy ao ser confirmado no cargo. No ano passado, numa manobra criticada por analistas, o governo conseguiu do Congresso uma lei que o isentava da responsabilidade de complementar o esforço das demais unidades da Federação,enfraquecendo o compromisso com a solidez fiscal.
No documento, o Executivo projeta um aumento da Taxa Básica de Juros para a média de 12,17% ao ano em 2015 e uma alta do dólar de R$ 2,57 para R$ 2,67. A dívida bruta do governo subirá para 64,1% do PIB. Somente a expectativa para inflação permaneceu a mesma: 6,1%. Segundo fontes, a alta da dívida em relação ao PIB se deve ao fraco desempenho previsto para a economia. O valor do endividamento continua o mesmo.
O Planejamento explicou ainda que as estimativas utilizadas têm como base as projeções de mercado apuradas pelo relatório Focus, doBanco CENTRAL. É a primeira vez que o governo Dilma usa essas previsões. O documento avalia também que o crescimento será de 2% em 2016 e alcançará 2,3% em 2017. Nesse mesmo período, o dólar encarecerá para R$ 2,71 e R$ 2,80, enquanto a Selic cairá para 11,5% e 10,75%. Segundo uma fonte, se houver mudanças nos parâmetros macroeconômicos, as metas serão ajustadas para continuarem críveis.
Sinal positivo
Enquanto o governo se desdobra para dar sinalizações concretas de que está empenhado em recuperar a credibilidade da política econômica, a analista-sênior da agência de classificação de risco Standard & Poor”s Lisa Schineller avaliou que a escolha de Levy é uma mensagem positiva mais forte do que a esperada na mudança da política econômica no segundo mandato de Dilma Rousseff.
Ela ressaltou que a decisão da agência sobre um eventual rebaixamento da classificação de crédito do Brasil dependerá da execução e da consistência do ajuste fiscal em um momento de desaceleração do crescimento. Um corte da nota atribuída da Standard & Poor”s significará perda do grau de investimento do país, que passará a pagar mais caro para se financiar no mercado global. “A sinalização do novo ministro é de mudanças na política econômica, mas a execução será um componente muito importante, dado o ambiente econômico desafiador”, comentou Lisa Schineller.
Na opinião do economista da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto, ao atualizar as previsões econômicas a partir das expectativas apuradas pelo Banco CENTRAL, o governo dá uma sinalização positiva ao mercado. Ele relembrou que as projeções usadas anteriormente, sempre distantes dos números dos analistas, criavam ruídos e contribuíam para a deterioração da credibilidade da política econômica.
Fonte: Correio Braziliense