Mantega foi voto vencido na decisão sobre superavit

    ELE QUERIA META AMBICIOSA, MAS DILMA DEFENDEU NÚMERO MENOR, PORÉM EXECUTÁVEL

    Para ministro, meta de 1,9% do PIB representa contribuição ao Banco Central na política de combate à inflação

    VALDO CRUZ
    NATUZA NERY
    DE BRASÍLIA

    O ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi voto vencido na definição do superávit primário de 2014, mas aposta na recuperação da credibilidade da política econômica ao definir o que considera ser uma meta “realista”.

    Para o ministro, o governo fez o que o mercado esperava: reduziu a previsão de receitas e cortou despesas mesmo em ano eleitoral.

    Mantega, ao lado do BC, defendia nas discussões internas uma economia de gastos para pagamento de juros da dívida pública “ambiciosa”, acima de 2% do PIB.

    Prevaleceu, porém, a visão do Palácio do Planalto, que preferia uma meta menor, mas “executável”.

    Na avaliação da presidente Dilma, um número acima de 2% não seria “comprado” pelos analistas econômicos. Daí a decisão de fechar a meta em 1,9% do PIB.

    Um número maior do que este, para ser considerado factível e crível, teria de sacrificar investimentos em educação e saúde, o que chegou a ser cogitado e estudado, mas descartado por Dilma.

    Dentro do governo, havia uma corrente que advogava por uma meta ainda menor que a divulgada ontem. O Ministério do Planejamento, por exemplo, batalhou por percentual inferior a 1,9%.

    Há o temor de que o governo tenha dificuldade de girar sua máquina com tão pouca gordura, avaliam técnicos do Executivo. Houve bloqueio orçamentário na maioria dos ministérios.

    Um dos principais sintomas da preocupação do Executivo em convencer o mercado de seu compromisso fiscal foi o corte de R$ 7 bilhões (segundo maior bloqueio), no PAC.

    O programa de infraestrutura foi alardeado por Dilma na campanha eleitoral de 2010 e inclui o Minha Casa, Minha Vida.

    INFLAÇÃO

    Apesar de não ter ganhado a disputa, a equipe de Mantega considera que o superavit de 1,9%, em ano de eleição, é uma sinalização de austeridade e representa uma contribuição ao BC na política de combate à inflação.

    O controle dos preços é a obsessão de Dilma na corrida pela reeleição. Uma pressão acima da atual seria capaz de minar votos da petista na campanha eleitoral.

    Em 2013, a inflação ficou em 5,91%, abaixo do teto da meta oficial (6,5%), mas maior que a esperada por analistas. Em janeiro, o índice em 12 meses se desacelerou para 5,59%.

    O anúncio ocorre uma semana antes de o BC se reunir para definir a nova taxa de juros, hoje em 10,5% ao ano.

    O BC já havia sinalizado que contava com a definição da meta para as próximas decisões sobre a política monetária neste ano. A equipe do banco considera um superavit de 1,9% adequado como medida de política fiscal.

     

    Fonte: Folha de S.Paulo

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