Marina sobe o tom e critica o governo

    Depois de a presidente Dilma afirmar que os adversários precisam “estudar muito”, ex-senadora afirma que a gestão petista será marcada pelo retrocesso na economia

    Aline Moura

    Recém filiada ao PSB, a ex-senadora Marina Silva imprimiu um discurso duro ontem contra a presidente Dilma Rousseff (PT). De passagem pela capital pernambucana, Marina disse que a contribuição dada por Dilma ao Brasil tinha sido única: a de mostrar que o atual modelo de governabilidade, baseado no “toma lá da cá” se esgotou. Na avaliação da ex-senadora, a petista não conseguiu vencer a guerra contra o fisiologismo e continua prometendo a criação de ministérios para abrigar os “insaciáveis” da base aliada. “Eu tenho dito que torço para que Dilma deixe sua marca, mas, por enquanto, a marca tem sido a do retrocesso. O modelo de governabilidade é a denúncia mais contundente de que isso não pode continuar. Isso é insustentável”, afirmou.

    Marina falou sobre o que chama de “retrocesso” numa entrevista coletiva de uma hora e 14 minutos, no Mar Hotel, na Zona Sul do Recife, curiosamente o mesmo onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficava hospedado quando estava em Pernambuco. Ela preservou Lula, mas não poupou Dilma e os partidos integrantes da aliança governista. “Agora, depois desse movimento que fizemos com o PSB, já existe um grupo de pessoas fazendo chantagem com a presidente, dizendo que ela precisa fazer afagos com esses insaciáveis, buscadores de pedaços de Estado. Isso é insuportável. Então, eu acho que ela cumpriu esse papel: de dizer que esse modelo não tem mais para onde ir, é preciso que algo aconteça.”

    Segundo Marina, a atual presidente coloca em risco inclusive o tripé da política econômica. “Estamos enfrentando algumas dificuldades com o contexto da crise mundial. Mas outras têm a ver com alguma negligência que vem sendo praticada em virtude da ansiedade política do governo. Sobretudo no segundo governo Lula e no atual governo”, declarou. Durante a entrevista, a ex-senadora negou que sua aliança com o governador Eduardo Campos (PSB) estivesse sustentada pela mágoa, especialmente pelo fato de seu partido não ter conseguido a legalidade diante do Tribunal Superior Eleitoral.

    “Eu não faço nada com mágoa. Sou movida por ideias, projetos. Imagine, criar o PT no Acre e dos 17 aos 27 anos, ver assassinadas pessoas como João Eduardo, Calado, Ivair Higino, Wilson Ribeiro, Chico Mendes… Entrar com uma camiseta do PT, andar numa estrada tendo medo de jagunço, dava muito trabalho. E isso a gente não fazia por mágoa, fazia porque acreditava que o Brasil podia ser melhor. Eu não sei porque o sonho que eu sempre tive (no passado) hoje as pessoas me perguntam se é mágoa. Não é mágoa, é só a continuação da esperança”, disse. Ontem, Marina e Eduardo participaram de um jantar em Recife para discutir os rumos da dobradinha Rede–PSB.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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