Os nomes escolhidos pelo governo do presidente interino Michel Temer e anunciados ontem pelo Ministro da Fazenda Henrique Meirelles para compor a equipe econômica foram saudados por economistas e operadores de mercado como uma espécie de “dream team”. No entanto, embora o perfil técnico dos escolhidos seja considerado “impressionante”, como apontou o diretor de pesquisas econômicos para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, ainda restam apreensões quanto a capacidade real de aprovar no Congresso as medidas duras que terão de ser propostas para equilibrar as contas públicas.
“São verdadeiras autoridades para os cargos. É gente à altura do desafio. Os problemas não são fáceis de resolver, mas dá conforto”, disse Ramos. O executivo do Goldman Sachs afirma que a nova equipe representa mudança clara na condução de políticas macroeconômicas. Para Ramos, o governo Temer parece ter mais capital político que o de Dilma para aprovar medidas no Congresso, mas o teste de fogo virá quando for preciso aprovar as medidas mais impopulares, mas necessárias.
Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria lembra que o ex-ministro Joaquim Levy também reuniu uma equipe com nomes de peso, “talvez tão boa quanto essa”, mas encontrou dificuldades para passar os projetos no Congresso, com resistência do PT às medidas apresentadas. Para ele, no entanto, Temer e o ministro Meirelles têm mais capacidade de fazer essa articulação. “É um governo mais sólido e se tem uma coisa que o presidente faz bem é essa articulação com o Congresso”, disse.
Mesmo assim, lembra, a tarefa não será fácil. Para Jensen, será preciso combinar medidas de curto prazo, como a Desvinculação de Receitas da União (DRU) e possível alta da CPMF, com reformas de longo prazo, como a da Previdência. As medidas, porém, enfrentam resistência. “O Paulinho da Força já está esbravejando contra reforma da Previdência. O Paulo Skaf [presidente da Fiesp] está esbravejando contra CPMF”, diz ele. Mesmo assim, avalia, medidas duras terão que ser tomadas. Jensen avalia que o prazo de 30 dias para apresentar uma proposta de reforma da Previdência é razoável.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global, a nova equipe é focada na questão fiscal. “Estou otimista. Há um espaço razoável para se fazer um bom trabalho”, afirmou. “Mas o mercado não quer mais nomes. Quer a ampliação da Desvinculação das Receitas da União, o controle das despesas nominais, acordos com centrais sindicais”, disse.
Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos diz que a equipe econômica tem capacidade técnica para implementar uma agenda de reformas e ajuste das contas públicas, que contribuam para entregar uma inflação na meta em 2018, mas, no final das contas, quem dará o tom será o cenário político. Ela lembra que o risco fiscal está aumentado, com uma preocupação grande com os chamados passivos contingentes, que se referem a necessidade de capitalização de alguns bancos estatais ou mesmo a renegociação das dívidas de Estados e municípios.
Alexandre Silvério, sócio-gestor da AZQuest observa que o governo precisará encontrar um equilíbrio delicado entre a necessidade de compor a base aliada e, possivelmente, de romper alguns relacionamentos. “Temas sensíveis não passarão sem que haja algum tipo de negociação, algum tipo de quebra de relacionamento, não vai dar para compor com todo mundo”, diz.
Segundo Silvério, agora será o momento dos secretários se concentrarem nas metas e estratégias da equipe, o que ainda pode demorar uma semana. Para ele, é natural que, com transição abrupta e mudança forte de rumos na condução da pasta, esse segundo passo tome um pouco mais de tempo. “Meirelles está sendo muito cuidadoso ao tentar enxergar o que está por trás da realidade apresentada hoje. A equipe econômica vai tentar dar esse choque de realidade na sociedade”, avalia. Só depois disso, afirma, virá a fase 3 do processo, que é a implementação das medidas. “É o grande calcanhar de Aquiles, o grande risco para essa gestão, já que, na minha opinião, a equipe é muito boa, o diagnóstico vai ser correto, mas a implementação é que vai depender de conjuntura e articulação política”. Para ele, as chances de sucesso são bastante elevadas.
Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, Meirelles está correto em ter calma para anunciar os números relativos à área fiscal. Segundo ele, a equipe econômica deve ter tempo para levantar dados e números que mostrem a real situação das contas públicas. “Acho certo que estejam juntando massa crítica de avaliações”, afirma. Assim, diz Gonçalves, o governo evita agir de afogadilho e ter que revisar metas posteriormente, situação vivida pelo ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy.
Passado o momento de avaliação das contas públicas, diz o economista, os passos seguintes são o “tradicional” corte de despesas de início de mandato e a busca por apoio para as medidas. “E isso começa por refazer cadastros nas áreas de saúde e Previdência, por exemplo, para coibir fraudes e omissões. São medidas que doem pouco e dão sinal de que governo está se movendo”, diz.
Fonte: Valor Econômico