No auge da movimentação em torno da possível troca de comando na equipe econômica, os dois personagens da disputa ficaram cara a cara ontem, durante evento promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Convidado a fazer o discurso de abertura, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chegou com três horas de atraso e teve sua apresentação dispensada.
Coube ao palestrante do início da tarde, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, protestar e assegurar que Levy discursasse. “Não, não. O ministro é quem vai falar antes de mim. Não se pode quebrar o protocolo”, ordenou Meirelles, cotado para tomar o emprego de Levy.
Os discursos dos dois não se distinguiram em relação à defesa do ajuste fiscal, mas o ex-presidente do BC foi mais político. Evitou críticas diretas ao governo e fez um apelo contra o “derrotismo enfraquecedor”. O ajuste tem de ser “completo” e ter mais corte de gastos do que elevação de impostos.
Meirelles criticou as tentativas de tabelamento das taxas de retorno nas concessões de infraestrutura, defendeu a livre competição e foi bastante aplaudido quando pronunciou a palavra “privatização”. Para ele, o alto custo da energia e a baixa qualidade do ensino são obstáculos à competitividade.
Indagado durante o debate com empresários sobre a possibilidade de assumir a Fazenda, Meirelles disse que não comenta “boatos e rumores”. Ele assegurou que não houve convite “concreto”. Também afirmou que sabe pelos jornais das articulações para sua possível nomeação e que sempre teve relação “cordial” com a presidente Dilma Rousseff. As divergências são “normais”.
Em entrevista, o presidente da CNI, Robson Andrade, não poupou o convidado de honra. “O que nós precisamos no Brasil é de alguém que mostre que o país tem uma política econômica suficiente e boa para criar desenvolvimento. E isso nós não temos visto no Ministério da Fazenda“, criticou.
Fonte: Valor Econômico