Na saída da reunião com o vice-presidente Michel Temer, que durou quatro horas, o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, virtual ministro da Fazenda, disse que apresentou um diagnóstico sobre a situação econômica e adiantou que podem ser consideradas propostas para limitar a dívida e o gasto público. Em entrevista, Meirelles disse que é preciso, primeiro, retomar a “confiança” do país. Observou que será preciso analisar as medidas anunciadas por Dilma, como a revisão da tabela do Imposto de Renda.
“O aspecto chave é a trajetória da dívida pública”, disse o cotado para ministro da Fazenda, na hipótese de afastamento de Dilma. Ele ressaltou que as concessões são necessárias para “viabilizar investimentos em infraestutura” e criar demanda e novas vagas de emprego, além de diminuírem o “custo do país”. Meirelles afirmou que a “questão fiscal é fundamental” e que propostas para limitar a dívida e o gasto público podem ser consideradas, mas que antes das definições na economia é preciso aguardar a conclusão do processo de impeachment no Senado.
O vice-presidente Michel Temer reuniu, pela primeira vez, Meirelles com outros prováveis ministros de seu governo. Temer queria deixar claro que qualquer medida teria de passar, previamente, pelo seu aval e o de Meirelles.
Hoje, Temer se encontra com ó presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que apresenta a “Carta Compromisso”, um conjunto de propostas de governo. O documento, elaborado por economistas tucanos coordenados pelo senador Tasso Jereissati (CE), começa com a defesa do combate à corrupção e proposta de reforma política que prevê a rediscussão do parlamentarismo a partir de 2018. O documento será sacramentado em reunião da executiva nacional do PSDB marcada para as 11 horas e, em seguida, Aécio e outros integrantes da cúpula tucana almoçam com Temer no Palácio do Jaburu. Também será discutida a participação da sigla em seu eventual governo. Além da possível nomeação do senador José Serra (PSDB-SP) para o Ministério das Relações Exteriores, o PSDB deve indicar mais um nome para a equipe de Temer.
A aproximação do PSDB se concretiza na medida em que avançam as negociações para a formação do futuro ministério. Nos últimos dias, ganhou força a indicação do PP para o Ministério da Agricultura, do PSB para a Integração Nacional, do PRB para a pasta de Ciência e Tecnologia e do PPS para a Cultura.
Na reunião de ontem, que começou às 16 horas e estendeu-se até 21 horas, Meirelles fez uma longa exposição das medidas que defende para a retomada do crescimento. Temer estava incomodado com as notícias veiculadas na imprensa nos últimos dias sobre suas possíveis medidas na área econômica. Foram cogitados aumentos de impostos, quando na verdade o vice-presidente defende um corte radical de gastos e uma simplificação tributária. Também foi divulgado que ele reajustaria os benefícios do Bolsa Família, o que levou ao gesto de Dilma, no 1º de Maio, antecipando-se ao aumento estudado pelo PMDB.
O núcleo central do eventual governo Temer, que se reuniu para ouvir Meirelles, é formado pelo ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha, que deve assumir a Casa Civil, pelo presidente em exercício do PMDB, senador Romero Jucá (RR), indicado para o Ministério do Planejamento, pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima, que será responsável pela articulação política, e pelo ex-ministro Moreira Franco, que comandará as privatizações e as concessões.
“Ao chegar para a reunião no Palácio do Jaburu, Padilha classificou como “impossíveis” as medidas anunciadas por Dilma do ponto de vista orçamentário. Padilha lembrou que, poucos dias antes, a Secretaria do Tesouro Nacional informou que não havia espaço no orçamento para reajustar o programa social.
O senador Romero Jucá chamou de “vingança” o “pacote de bondades” anunciado por Dilma no último domingo, o que agravaria ainda mais o rombo fiscal.
“Qualquer aumento de despesa no momento em que o governo apresenta um astronômico déficit fiscal é algo que deveria ser pensado dez vezes antes de ser feito”, disse Romero Jucá. “O governo perdeu o parâmetro de qualquer conta e está executando despesas em uma tentativa de desequilibrar mais ainda o orçamento público. Vamos analisar todos os dados no momento adequado”, completou.
O Valor apurou que o Ministério da Agricultura foi oferecido ao PP, que integra número expressivo de deputados e senadores da bancada do agronegócio. Parlamentares do PP tentam emplacar a senadora Ana Amélia (PP-RS) na pasta.
Já o PRB aceitou assumir o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, cabendo o posto ao presidente da legenda, Marcos Pereira. Em outra frente, o PSB, que chegou a ser cotado para a pasta de Ciência e Tecnologia, deverá reassumir o comando do Ministério da Integração Nacional, pasta que já comandou no governo Dilma Rousseff. O nome indicado pelo partido para o ministério é o do deputado Fernando Coelho Filho (PE), filho do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), que ocupou a pasta na gestão Dilma.
Por sua vez, o PPS indicou o presidente nacional da sigla, Roberto Freire, para assumir o Ministério da Cultura. O Valor apurou que o convite ocorreu em reunião de Temer com Freire e o senador Cristóvão Buarque (DF) que declinou do convite. Buarque foi o primeiro nome indicado pelo PPS para a pasta.
De acordo com a mesma fonte, o nome do deputado Raul Jungmann (PE) para o Ministério da Defesa não partiu da legenda. A sugestão ocorreu por outras vias – comenta-se que pelo ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, de quem é amigo – e pela proximidade com os comandantes militares. (Com agências noticiosas)
Fonte: Valor Econômico