Moeda virtual ou a troca do metal por notas, cupons ou doações a instituições de caridade são feitas por consumidores e lojistas
São Paulo – As moedas ou a falta delas é um problema para lojistas e consumidores, em especial no fim do ano, quando o movimento cresce. Mas o mercado tem se inovado para criar soluções para a falta de troco ou para aqueles que não gostam de carregar moedinhas. Algumas trocam metal por papel, outras podem ser consideradas os novos cofrinhos dos poupadores. O problema é que a legislação do setor financeiro proíbe a substituição da moeda, a exemplo do vale-troco.
Segundo o Banco Central, a cada dez moedas em circulação, só seis são usadas no dia a dia. Outras quatro estão guardadas. Há 112 moedas por brasileiro, ou R$ 28. Mas a maioria (39%) carrega diariamente entre R$ 2 e R$ 3 em moedas.
Há ao menos duas soluções no mercado que ajudam o consumidor. O Piggo, que oferece troco virtual em vez de moedas, e o CataMoeda em que se pode trocar moedas por notas, cupons ou doações a instituições de caridade.
Morador de Maceió, o CEO da startup Piggo, Bruno Peixoto, percebeu o problema das moedas em janeiro de 2013, ao comprar um iogurte natural por R$ 8 que, no dia seguinte, passou a valer R$ 9. “O vendedor estava desesperado porque não sabia como conseguiria moedas de R$ 1 para dar o troco”, lembra.
Em setembro, o Piggo passou a operar nas lojas. Agora, no lugar de devolver moedas de troco, o comerciante pode oferecer um depósito em uma conta virtual do Piggo, em nome do cliente. Pela internet, o consumidor pode verificar o saldo, recarregar o celular, transferir para outra conta Piggo ou conta bancária ou fazer uma doação.
Se aceitar receber o troco pelo sistema Piggo, o comprador recebe um código para depois acessar a internet, se cadastrar e passar a movimentar o dinheiro. O troco pode variar de R$ 0,01 a R$ 50. Não há custos de manutenção da conta e nas movimentações.
“Só se a pessoa transferir o dinheiro para uma conta bancária no valor abaixo de R$ 100 é cobrada uma taxa de R$ 3. Se for mais de R$ 100 não há tarifa”, explica Peixoto. O modelo incentiva o comprador a acumular trocos até somar mais de R$ 100 e não pagar nada pela transferência. Para o comércio, veio como uma solução para a falta de troco. “No fim de ano este problema se agrava, ainda mais em Maceió, uma cidade turística, onde tem muita gente gastando com papel-moeda. Tem comerciante que vai comprar moedas na igreja”, diz.
Startup usa máquina para troca
No Sul do País, em Florianópolis, nasceu o CataMoeda, que estimula o consumidor a deixar as moedas em máquinas localizadas no comércio e receber cupons com um bônus entre 2% a 5%.
“Se a pessoa deposita R$ 10 em moedas, recebe um cupom de até R$ 10,50, que pode ser gasto na loja ou, em alguns casos, em toda a rede da marca”, diz a gerente de marketing da startup, Natália Izidoro. Há a opção de doar o dinheiro a instituições e, desde este mês, trocar as moedas por notas, mas sem nenhum bônus. “Quem define a porcentagem do bônus no caso do cupom ou se a máquina também pode trocar moeda por dinheiro é o comerciante”, afirma Natália.
A ideia surgiu após uma viagem de três anos do empresário Victor Levy. “O Brasil é um dos países com mais caixas eletrônicos do mundo, mas antes do CataMoeda não existia um terminal que aceitasse moedas em grandes quantidades”, comenta.
Atualmente, há 166 mil caixas eletrônicos no País. Uma das fontes de inspiração de Levy, que já havia morado nos EUA antes da viagem, foi a Coinstar, empresa norte-americana que troca moedas por crédito no iTunes. No caso na Coinstar, porém, para trocar por dinheiro é cobrada uma taxa de 10,9%. Para usar o CataMoeda não há custo.
As moedas ficam na própria loja, já separadas nos tubos da máquina. Em um ano de funcionamento, já foram coletadas 5,6 milhões de moedas ou R$ 1,4 milhão. A maioria da coleta (80%) é de moedas de R$ 0,05, R$ 0,10 e R$ 0,25.
O comerciante paga aluguel de R$ 490 a R$ 750 por mês ao CataMoeda para ter a máquina, manutenção e atualizações de software. Levy garante que vale a pena, já que, fora conseguir troco, fideliza o cliente que, após trocar moedas, ganha cupons para gastar na própria loja.
Substituição da moeda vai contra legislação
Sem dinheiro para encomendar mais numerário à Casa da Moeda, o Banco Central tornou-se causador de dois problemas, um de ordem econômica e outra legal. A avaliação é do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal).
A entidade adverte que esse sistema de troca não é permitida pelo BC, porque essas empresas estariam funcionando como se fossem bancos. “Esse problema é emblemático da necessidade de se ter uma representação do órgão em todas as capitais do País, porque assim, o BC teria condições, infraestrutura inclusive de pessoal para fiscalizar e autuar esse mercado negro do troco. O paradoxo é que o BC deveria coibir uma irregularidade que surge justamente por conta da falha do BC em abastecer o mercado de troco”, alerta o presidente do sindicato, Daro Piffer.
O sindicalista diz, ainda, que se tivesse autonomia financeira, o BC teria meios e liberdade para realocar seus recursos e encomendar numerário à Casa da Moeda.
Fonte: Estadão