Mercado debate até onde BC levará Selic

    Lucas Hirata e Lucinda Pinto | De São Paulo

    Até mais do que a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) em si, o principal ponto de debate no mercado diz respeito a uma sinalização do colegiado do BC, em sua reunião desta semana, para os próximos passos no ciclo de corte de Juros. Isso porque é quase consensual a leitura de que a taxa básica Selic será reduzida em 1 ponto percentual, para 8,25% ao ano, na quarta-feira. A dúvida, entretanto, é se o comunicado da instituição recomendará a redução do ritmo de flexibilização monetária, em meio a indícios de estabilização das condições econômicas.

    Os cenários de boa parte dos analistas trazem a chamada “escadinha” para a trajetória esperada da Selic, isto é, uma desaceleração na magnitude dos cortes até o fim do ciclo. O Banco Central avisou que não é obrigado a reduzir o ritmo de corte dos Juros à medida que o encerramento do ciclo estiver mais próximo. Ainda assim, a adoção desse caminho é considerada uma maneira tradicional para evitar turbulência ou ruídos de comunicação no mercado.

    “A questão é analisar o ponto de chegada da Selic, até onde a taxa pode ir”, diz o economista Silvio Campos Neto, da Tendências. A inflação está bem comportada e pode até surpreender um pouco mais os mercados. Por outro lado, a atividade já dá sinais de melhora, como foi visto no crescimento do Produto Interno Bruto(PIB) no segundo trimestre. “E essa reação pode ser utilizada para o Copom demonstrar que se aproxima do fim do ciclo de queda de Juros“, diz.

    No Boletim Focus, foram embutidas projeções de crescimento econômico melhores em 2017. A estimativa subiu para 0,50%, ante leitura de 0,39% na semana anterior. Para o próximo ano, foi mantida a expansão esperada de 2%. Já os números de inflação foram ajustados para baixo, a 3,38% e 4,18%, respectivamente.

    Os profissionais de mercado apontam que a inflação em baixa apoia a trajetória de queda da Selic. O mercado de renda fixa “precifica” atualmente que a taxa cairá até 7,25% no fim deste ano, mínima histórica que vigorou entre outubro de 2012 e abril de 2013. Algumas instituições apostam que a taxa pode recuar até a casa de 6%. Ontem, o contrato DI de janeiro de 2018 terminou o dia a 7,76% na B3, de 7,79% no ajuste anterior; o DI de janeiro de 2019 marcou 7,81%, ante 7,80% em igual comparação.

    Na avaliação do estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno, o espaço para cortar Juros está mais reduzido, pois já se espera alguma aceleração nos índices de preços a partir de setembro. A expectativa é a de que o BC deixe a “porta aberta” para diminuir o ritmo daqui para frente. Rostagno não descartada, entretanto, novas surpresas do front inflacionário, o que poderia fazer o Banco Central rever futuramente um eventual sinal no comunicado desta semana.

    A sinalização do Copom de que diminuiria o passo a partir da reunião de outubro seria consistente com os sinais de retomada gradual da atividade econômica em um ambiente de expectativas de inflação estáveis em patamar ligeiramente abaixo da meta em 2018 e no alvo de 2019 em diante, segundo o Itaú Unibanco. “A estabilização das condições econômicas, em um ambiente em que a taxa de juro real já se encontra em patamares historicamente baixos e expansionistas, deve permitir uma redução do ritmo de corte da Selic a partir da próxima reunião”, acrescenta o banco.

    Ao olhar mais à frente, há entendimento entre profissionais de mercado de que o fim do ciclo atual e até uma futura normalização da política monetária dependem da agenda de reformas. Isso porque a correção das contas públicas poderia reduzir o juro neutro da economia, evitando a necessidade de um aumento da taxa Selic.

    O mercado acompanha nesta semana as votações no Congresso sobre as novas metas fiscais e da criação da Taxa de Longo Prazo (TLP). A leitura dos investidores é que as medidas devem ser aprovadas e podem até alimentar algum sentimento positivo para a Reforma da Previdência, embora esta ainda seja vista como uma questão delicada. Diante dessa perspectiva, o dólar recuo 0,32% ontem, para encerrar cotado a R$ 3,1371, no que foi a quarta sessão consecutiva de desvalorização. No período em questão, a baixa é de 0,80%.

    Além disso, há uma série de sinais de ingresso de recursos externos, o que acaba tendo impacto no Câmbio. A confirmação da compra da Eldorado pela indonésia Paper Excellence é uma dessas operações. Há ainda o fato de os investidores estrangeiros terem abocanhado mais de 60% dos IPOs (oferta pública inicial de ações) realizados até aqui.

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorPalavra do gestor: Qual será a taxa de juro terminal do Banco Central?
    Matéria seguinteCaixa lucra R$ 4,1 bi com melhora operacional