Claudia Safatie
De Brasília
O avanço da Operação Lava-Jato abre dois caminhos para a economia brasileira: o de uma paralisia ainda maior do governo Dilma Rousseff ou o da real possibilidade de mudança. Foi com essa visão binária que os mercados reagiram, na sexta-feira, à condução coercitiva do ex-presidente Lula para prestar depoimento na Polícia Federal, cm São Paulo.
A mudança seria representada por um novo governo, seja liderado pelo vice-presidente Michel Temer em caso cie im-peachment ou por um novo presidente eleito na hipótese de cassação, pelo Tribunal Superior Eleitoral, da chapa vencedora em 2014. Isso possibilitaria a inauguração de uma política econômica centrada no enfrentamento da crise fiscal,
porém, com ganhos dc credibilidade que permitissem antecipar os benefícios. Nesse caso, seria factível a interrupção do aprofundamento da recessão e a criação dc condições para a retomada do crescimento pela expansão do investimento.
O comportamento dos mercados reforça essa expectativa. A possibilidade de mudança dc govemo tem animado a bolsa de valores e valorizadoo real. Na semana passada, o Ibovcspa acumulou valorização de 18%. maior variação semanal desde outubro dc 2008. Já o dólar fechou sexta-feira cotado a RS 3,759, com depreciação de 5,96% na semana. As taxas de juros também recuaram.
A valorização do real foi a primeira demonstração do ganho que haveria com a perspectiva dc uma política econômica mais austera conduzida por uma nova administração. A depreciação da taxa dc
cãmbio no ano passado foi umaclas mais relevantes fontes de inflação.
O recuo dos juros negociados em contratos do mercado luturo não refletiu apenas um ganho dc curto prazo na política anti-inflacionária, mas a possibilidade de reforço de credibilidade pela percepção dc menor interferência política nas decisões do Comi tê dc Política Monetária do Banco Central ou, ainda, a própria alteração do comando da equipe econômica como um todo.
Ainda é cedo para avaliar o quanto a inclusão do cx-prcsidcntc Lula na atual fase da Iava-Jato vai comprometer o governo Dilma. O fato, porém, é que a atual administração, já bastante frágil, se enfraqueceu ainda mais, tomando mais difíceis progressos da política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.
Fonte: Valor Econômico