Por Antonio Perez e Angela Bittencourt | De São Paulo
Uma eventual alteração na taxa básica de juros (Selic) no encontro do Comitê de política monetária (Copom) na próxima semana será tão desconcertante quanto o placar do jogo entre Brasil e Alemanha pela Copa do Mundo. Tanto o Relatório Trimestral de Inflação quanto a entrevista recente do presidente do Banco CENTRAL, ALEXANDRE TOMBINI, ao órgão de comunicação interna da instituição, trouxeram a avaliação de que, “mantidas as condições monetárias, a inflação tende a entrar em trajetória de convergência para a meta ao longo do horizonte relevante para a política monetária“. Leia-se: o período compreendido de um ano e meio a dois anos, segundo indicação da autoridade monetária.
Para a maioria dos analistas, o BC emitiu clara sinalização de que pretende manter a Selic em 11% ao ano não apenas no encontro do Copom na semana que vem, mas também pelo restante de 2014. Embora o IPCA em 12 meses encerrados em junho tenha estourado a banda de tolerância, atingindo 6,52%, o BC reitera sua fé nos efeitos “cumulativos e defasados” da alta da Selic em 3,75 pontos percentuais e aguarda que o IPCA escorregue para 5% em meados de 2016, em uma convergência para lá de lenta e gradual até o centro da meta, definida em 4,5% pelo 12º ano consecutivo.
Entre 39 economistas ouvidos pelo Valor Data, 33 apostam em Selic estável até o fim do ano. Mas há seis que veem uma retomada do aperto monetário ainda em 2014. Findo o encontro da semana que vem, o Copom voltará a se reunir mais três vezes este ano: no início de setembro, no fim de outubro e no começo de dezembro. Nas duas últimas reuniões do colegiado do BC neste ano, já se saberá o nome do presidente da República em 2015, tido pelos economistas como o ano do ajuste da política econômica seja quem for o ocupante do Palácio do Planalto.
O início, a magnitude e a velocidade desse tal ajuste dependem, contudo, do resultado das eleições. Vai começar ainda este ano, após o pleito de outubro? Ou fica para 2015? Sairá o realinhamento dos preços administrados? Imediato ou gradual? Elevação da meta de superávit primário? Busca pela convergência do IPCA para o centro da meta ainda em 2015? E um novo aperto monetário?
Do elenco de profissionais ouvidos, 23 apostam em alta da Selic no ano que vem, para um nível entre 11,25% e 13%; 10 preveem manutenção; 3 apostam em corte, e, 3 ainda não têm projeção. Para Fernando Genta, economista-chefe da MCM Consultores, até o fim deste ano as atenções estarão voltadas para o enfraquecimento da atividade. Em 2015, porém, a inflação ganhará importância. “Trabalhamos com probabilidade razoável de vitória da oposição. Isso acarretaria 1,5 ponto percentual de juro no início de 2015”, afirma. “Um BC de Dilma até poderia ser mais relutante, mas ainda assim seria muito difícil não agir até o fim do ano que vem”.
João Luiz Máscolo, professor do Insper e sócio-fundador da gestora SM, está entre os economistas que veem alta da taxa Selic em 2015, para 13% ao ano. Ele concorda com seus pares que, em caso de vitória de um candidato de oposição na eleição de outubro, as expectativas sofreriam uma correção. Máscolo pondera, contudo, que expectativa é uma variável importante para explicar a inflação, mas não é tudo. “Se a taxa real neutra no Brasil está por volta de 5,5%, para que a inflação volte ao centro da meta, a taxa real deveria subir, ainda que só por alguns meses, para algo como 8%, o que geraria uma taxa nominal (Selic) entre 14% e 15%, diz”.
Já Constantin Jancso, economista-chefe do HSBC Brasil, alinha-se ao grupo de especialistas que projeta retomada do aperto monetário, com alta da Selic em 0,25 ponto em dezembro, para 11,25% ao ano. Para Jancso, por ora o BC deve mostrar confiança na perda de fôlego da inflação. “Na medida em que o IPCA permanecer elevado, a comunicação mudará, demonstrando preocupação crescente com a inflação”, diz Jancso, para quem a alta da Selic neste ano independe do resultado das eleições.
Para Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, no Relatório de Inflação o BC quis “sinalizar que não há espaço para queda de juros neste momento”. O tom do documento, contudo, não foi duro o suficiente para afastar essa possibilidade no médio prazo. “Com isso, o mercado voltou a especular que o viés da política monetária é mesmo de queda. A possibilidade de redução do juro é significativa”, afirma Solange, que mantém, porém, projetação de Selic em 11% no fim do ano.
O governo não vai escapar da correção de rumo da política econômica nos seguintes termos, aponta Solange: alinhamento de preços administrados, que deve acrescentar entre 0,60 e 1,50 ponto ao IPCA; busca por inflação mais baixa; política fiscal robusta, e, mais flexibilidade da taxa de câmbio. “Dependendo do candidato eleito, a correção de rota pode ser realizada com mais ou menos intensidade e alterar profundamente os rumos da taxa Selic“, afirma.
Fonte: Valor Econômico