Meta fiscal contestada

    VICTOR MARTINS 
    Enviado especial

    São Paulo – O voto de confiança obtido pelo governo após a divulgação da meta fiscal de 2014, na semana passada, está ameaçado pela realidade. De acordo com as previsões do Itaú Unibanco, a equipe econômica terá de fazer um esforço quase impossível para atingir o prometido superavit primário (economia para pagar os juros da dívida) de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse objetivo só será alcançado, diz a instituição, se os gastos do setor público avançarem, neste ano, apenas 1,3% acima da inflação. 

    Pelas projeções do banco, no entanto, as despesas devem crescer 4%, impulsionadas pelo calendário eleitoral. Nesse caso, o superavit primário de 2014 ficaria em apenas 1,3% do PIB. Por isso, segundo Ilan Goldfajn, economista-chefe da instituição, o rebaixamento da nota soberana brasileira, uma espécie de avaliação sobre o grau de segurança oferecido pelo país a investimentos estrangeiros, está próximo. Em meados do ano passado, o Brasil já foi colocado em perspectiva negativa pela agência de classificação de risco Standard & Poor”s. 

    “Eu não descarto que o rebaixamento aconteça antes das eleições”, observou Goldfajn. “Minha primeira impressão é de que a agência não gostaria de influenciar a política interna do país, mas não sei quanto mais ela pode adiar a decisão”, disse. Na visão dele, o pleito de outubro, as turbulências internacionais e o baixo crescimento da economia dificultam a tarefa de alcançar o superavit de 1,9% do PIB. “No entanto, se o governo chegar a esse número, mesmo com receitas extraordinárias, será muito bom, e isso pode acabar com a possibilidade de rebaixamento”, concedeu. 

    Conta pesada 
    Uma das principais razões para o Itaú Unibanco colocar em dúvida a viabilidade do ajuste anunciado pelo Ministério da Fazenda é a crise energética, que ameaça jogar por terra o barateamento das tarifas de eletricidade, última bandeira político-eleitoral da presidente Dilma Rouseff. A instituição estima que os aportes do Tesouro Nacional à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para subsidiar a fatura do brasileiro fique em R$ 15 bilhões em 2014, valor que, mesmo assim, considera que parte do problema terá que ser repassada para o bolso do consumidor, por meio de uma conta mais elevada. 

    O banco projeta que em 2013 o PIB tenha avançado 2,2% e que o último trimestre do ano passado apresentou um incremento de 0,3%. Para 2014, a previsão é de expansão de 1,4%. “Houve uma retomada neste início de ano, mas não forte o suficiente para mudar o quadro”, explicou Aurélio Bicalho, economista da instituição. 

    *O repórter viajou a convite do Itaú Unibanco

     

    Fonte: Correio Braziliense

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