Moeda virtual supera Bolsa em número de investidores

    OPERADORES CITAM “DEMANDA INSANA”, COM MAIS DE 1 MILHÃO DE REGISTRADOS

    Investimento em criptomoedas deve ser parte de uma carteira diversificada, dizem especialistas

    DE SÃO PAULO

    A valorização de quase 1.800% que o bitcoin sofreu somente neste ano tem gerado uma demanda “insana” pela moeda digital, na fala de operadores que atuam neste mercado, e o número de pessoas registradas nas corretoras em busca de parte desse ganho já supera 1 milhão.

    Como comparação, a Bolsa brasileira tinha 613 mil CPFs cadastrados, segundo dados de novembro. “Está uma insanidade, não consigo achar um adjetivo melhor”, afirma Rodrigo Batista, presidente do Mercado Bitcoin, a maior das casas que operam com a moeda digital.

    A empresa, que começou a atuar em 2011, tinha 200 mil clientes cadastrados um ano atrás. O número já está em 700 mil no ano —e deve atingir 800 mil, segundo estimativas de Batista.

    “São 10 mil novos cadastros por dia. Movimentamos R$ 105 milhões em 2016, hoje estamos movimentando R$ 120 milhões por dia”, diz.

    Além de bitcoin, a empresa negocia duas moedas: light coin e bitcoin cash. Muitos dos que se cadastram são leigos, reconhece Batista, do Mercado Bitcoin.

    “Uma boa parte entende o que é o negócio, mas outros não sabem exatamente o que está acontecendo, por que está valorizando. Há pessoas que entram sem nenhum conhecimento, mas é semelhante ao que ocorre com outros investimentos”, afirma.

    O movimento também foi observado na Foxbit, que tem 270 mil clientes cadastrados. “O volume diário era de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões, mas nas últimas duas semana tivemos pico de R$ 120 milhões por dia”, diz Guto Schiavon, diretor de operações da Foxbit.

    Hoje, a empresa só opera bitcoin, mas deve oferecer aos usuários ethereum e net-coin no primeiro trimestre de 2018. “Ninguém previa crescimento de 1.800% no ano.”

    A plataforma da CoinBR tem 100 mil usuários. “A tendência é crescer mais ainda. A cada dia que sai uma reportagem, mesmo as que falam mal, surgem 400 usuários no dia seguinte”, diz Rocelo Lopes, presidente da empresa.

    CUIDADOS

    Apesar da “insanidade”, o pequeno investidor que quer entrar neste mercado deve ter muito cuidado.

    “Nossa visão é de cautela. O investidor tem a obrigação de diversificar seu portfolio, ter diferentes tipos de risco”, afirma Frederic De Mariz, diretor de análise de empresas financeiras do UBS Brasil.

    “Investimentos com volatilidade e nascentes não parecem ser adequados para quem não tem conhecimento dos produtos. Isso vale para qualquer tipo de investimento”, acrescenta.

    A avaliação é a mesma de Fernando Ulrich, especialista em Blockchain do Grupo XR “O pequeno investidor tem que ter cuidado. Está numa máxima histórica de preço, pode prejudicar quem está entrando agora. O risco nesse ativo é a volatilidade, não pode ser visto como investimento seguro”, afirma.

    Mesmo quem tem perfil moderado de investidor deve destinar pouco dinheiro ao bitcoin, diz Luciano Tavares, presidente da plataforma de investimentos Magnetis.

    “Tem que ter cuidado para não comprar demais e ficar com carteira muito arriscada, o bitcoin faz sentido como diversificação. O perfil moderado deve ter no máximo 2% investido nisso. O arrojado pode ter até 5%.” (DANIELLE BRANT E NATÁLIA P0RTINARI)

    Regulação é necessária, diz analista

    DE SÃO PAULO

    A regulação poderia proteger o usuário que compra moedas digitais, em especial o leigo, na avaliação de Frederic De Mariz, diretor de análise de empresas financeiras do UBS Brasil.

    “Quanto maior a inovação e seu poder de disrup-ção, maior tem que ser a regulação. Hoje, sem regras, não há a quem recorrer em caso de problema.”

    Na semana passada, o presidente do Banco CentralIlan Goldfajn, disse que comprar bitcoin é operação de risco, mas o órgão não restringiu negociações. “É a típica bolha, pirâmide, em algum momento vai subir e depois voltar”, declarou.

    No esquema de pirâmide, usuários são remunerados ao atrair novas pessoas. Não é o que acontece na compra de bitcoin. No entanto, especialistas interpretam que o efeito manada, ou seja, novos investidores entrando em busca de ganho, seria comparável.

    Para Adilson Ernesto Silva, da consultoria Ma-zars Cabrera, há omissão do Banco Central.

    “A regulação seria a única coisa que eliminaria a especulação em torno do bitcoin. Só vai fortalecer a moeda no futuro”, afirma.

    Em tese, porém, a regulação vai contra os princípios fundamentais da moeda, que foi criada com o registro descentralizado e de código aberto, com validação colaborativa.

    Mas nada impede que governos criem suas próprias criptomoedas, como é o caso da Venezuela, que, em crise e sob sanções dos EUA, vai lançar a petro, lastreada pelas reservas de petróleo, gás e óleo.

    Na Holanda, o Banco Central criou há dois anos a sua própria moeda digital, mas ela circula apenas internamente na instituição, como uma forma de aprendizado.

    Fonte: Folha de S.Paulo

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