Moedas virtuais: atraentes, mas com risco elevado

    POR NÃO HAVER REGULAÇÃO NO BRASIL, ANALISTAS SUGEREM APLICAR SÓ 5% EM BITCOIN E SIMILARES
    Autor: ANA PAULA RIBEIRO ana.ribeiro@sp.oglobo.com.br

    -SÃO PAULO- Um investimento cujo valor dá um salto de 650% no ano parece conto do vigário, mas foi o que aconteceu com a Bitcoin, a mais conhecida moeda virtual do mundo. Algumas de suas irmãs mais novas, como a Ethereum, tiveram desempenho ainda melhor – 3.002% -, o que tem atraído o apetite de quem busca ganho fácil. Mas especialistas alertam para o risco, e há quem veja nas chamadas criptomoedas uma bolha que pode estourar a qualquer momento, deixando um rastro de prejuízos. Mas, para quem insistir em apostar nas moedas virtuais, analistas ressaltam que, por se tratar de um negócio novo e com alta volatilidade, o ideal é investir no máximo 5% do patrimônio.

    No Brasil, a regulamentação das criptomoedas ainda patina. Os órgãos reguladores ainda avaliam esse mercado. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) emitiu, recentemente, um comunicado sobre moedas virtuais, mas limitou-se a dizer que não há regulação para ofertas públicas do produto. A CVM, porém, ressaltou estar ‘atenta às recentes inovações tecnológicas nos mercados financeiros global e brasileiro’.

    Com experiência de sete anos em investimentos nessas moedas, o empresário Sergio Tanaka recomenda que os novatos estudem bem antes de comprá-las, além de atenção ao escolher a ‘casa de Câmbio‘ que irá utilizar nas transações.

    – É preciso analisar o histórico das moedas, o volume de transações diárias e a sua volatilidade. As maiores criptomoedas têm volumes elevados de negociação diária. Já outras acabam não indo para frente por falta de mercado – explica.

    Mas o que dá o valor às criptomoedas? Cada moeda virtual (são mais de 800 no mundo) é criada a partir do desenvolvimento de um código (criptografia), e as transações a ela relacionadas são validadas em um Blockchain, tecnologia que funciona como um livro de registros. Mas, diferente da circulação das moedas tradicionais, que são controladas por um Banco Central, nas criptomoedas isso é feito de forma descentralizada, em computadores espalhados por todo mundo. Como há um número máximo de cada moeda em circulação, à medida que cresce a demanda, a cotação aumenta.

    COTAÇÃO PODE VARIAR ENTRE EMPRESAS

    Para ter acesso às criptomoedas, é preciso um intermediário, que funciona como uma corretora de valores. A partir de um cadastro, o investidor recebe um ‘endereço Bitcoin’ e pode começar a comprar e vender. No Brasil, as instituições que fazem esse serviço costumam cobrar taxas sobre os valores investidos e os montantes transacionados. Seria como, no mercado de ações, cobrar taxa de custódia e de corretagem. Mas, atenção, o preço de uma mesma moeda virtual pode variar entre uma instituição e outra, o que não ocorre com as ações.

    Rodrigo Batista, presidente do Mercado Bitcoin, que atualmente faz a intermediação de cerca de R$ 2,5 bilhões em criptomoedas no Brasil, alerta que, apesar de atraente e com forte potencial de valorização, esse mercado é muito volátil.

    – Você não pode colocar em moedas virtuais um dinheiro que vá precisar usar no mês seguinte. Apenas uma parcela das economias de uma pessoa deve ir para esse instrumento – explica Batista, acrescentando que, em sua empresa, o valor mínimo para abrir a conta é de R$ 50.

    Isso representa uma ínfima fração do que vale uma Bitcoin. Criada em 2009, uma unidade da moeda vale hoje US$ 6,7 mil. Este ano as criptomoedas sofreram forte valorização, depois de uma mudança na regulação no Japão, que reconheceu as moedas virtuais como valores, abrindo espaço para que grandes investidores apostassem nelas. Além disso, a CME, dona da Bolsa de Chicago, decidiu criar, ainda este ano, um índice futuro que será atrelado às variações das moedas virtuais.

    Pedro Englert, presidente da StartSe, que é uma plataforma de empreendedorismo e inovação, reconhece que a falta de regulação no Brasil inibe parte relevante dos investidores, mas isso deve mudar à medida que o uso dessas moedas cresça:

    – A criptomoeda ainda tem pouco uso como meio de pagamento, mas funciona bem como reserva de valor e uma alternativa de diversificação de investimento.

    Mesmo sem regulação, alguns intermediários dessas moedas exigem cadastro dos investidores. Na Foxbit, é preciso enviar documento e comprovante de endereço, e os valores que serão investidores precisam vir de uma conta corrente (não é aceito depósito em dinheiro).

    – Hoje temos 190 mil clientes cadastrados, sendo que 60 mil fizeram alguma operação no mês passado. O valor médio das aplicações é de R$ 800, dependendo do risco que o cliente quer correr. Mas como é algo novo e com grande volatilidade, recomendo 1% do patrimônio para os mais conservadores e 5% para quem quer correr mais risco – aconselha o presidente da Foxbit, João Canhada.

    Fonte: O Globo

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