Monitor sinaliza falso negativo no PIB, diz FGV

    Autor: Bruno Villas Bôas

    A retração de 0,24% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, frente aos três primeiros meses do ano, conforme sinalizado pelo Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgado ontem, seria um “falso negativo”, segundo avaliação do economista Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV.

    Apesar de interromper a trajetória de taxa positiva do primeiro trimestre (1%), o indicador mostra, por dentro, a “economia estável” e melhora na dinâmica das atividades, avalia o economista. “O primeiro trimestre é que foi muito bom”, comenta Considera. “Além disso, a expectativa é que os dois próximos trimestre sejam positivos”, afirma o economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.

    O Monitor do PIB da FGV antecipa a tendência do principal índice da economia a partir das mesmas fontes de dados e metodologia empregadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo oficial das Contas Nacionais. A margem máxima de erro do indicador da FGV tem sido de 0,3 ponto percentual.

    Segundo o economista, o consumo das famílias seria um exemplo de melhora. Esse componente da demanda cresce 1,17% na comparação ao primeiro trimestre deste ano e 0,6% frente ao mesmo período do ano anterior. Em ambas as bases de comparação, o Monitor do PIB sinaliza a primeira variação positiva após nove trimestres seguidos de queda.

    “O consumo de bens duráveis, como automóveis e televisores, continua positivo. E isso tem a ver com as contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). As famílias conseguiram quitar suas dívidas anteriores, limparam o nome, e agora voltam a fazer crediário. Os produtos semiduráveis e não duráveis também crescem”, afirma o economista.

    O Monitor do PIB também sinaliza para o crescimento de 0,79% do consumo do governo no segundo trimestre, frente aos três primeiros meses do ano. Seria o primeiro crescimento nesse critério após quatro trimestres consecutivos de queda nessa base de comparação. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) cresce 0,25% na mesma base de comparação.

    Pelo lado da oferta, os serviços – que respondem por 68% do PIB – têm pequeno crescimento de 0,19% frente aos três primeiros meses do ano. Isso é explicado sobretudo pelo resultado positivo da atividade de transportes (0,96%) e do comércio (1,05%). Já a agropecuária (-4,63%) e a indústria (-0,27%) têm taxas negativas frente ao primeiro trimestre do ano, sendo responsáveis pela taxa geral negativa no mês. No caso da agropecuária, a queda é explicada pela base de comparação.

    Considera prefere avaliar, contudo, o comportamento dos componentes do PIB em base anual, por ser menos volátil e mais sinalizador da tendência. Por essa base de comparação, o setor de serviços ainda registra taxa negativa (-0,8%) frente ao segundo trimestre do ano passado. Essa redução, no entanto, já foi mais intensa: era negativa em 1% no primeiro trimestre, frente ao mesmo período do ano anterior.

    “O setor de serviços, que geralmente é a última atividade a mostrar reação, está em processo de recuperação, o que é um sinal bem interessante”, diz o economista.

    Ele chama atenção para o aprofundamento da queda da FBCF em base anual: de -3,9% no primeiro trimestre para -5,1% no segundo trimestre deste ano. Segundo ele, o setor de construção (-9%) é o principal responsável por essa queda. O setor de máquinas e equipamentos também ficou menos positivo na passagem dos dois trimestres (de 3,3% para 0,4%), efeito das menores importações.

    “O setor de construção tem peso negativo grande no resultado. Você tem toda essa interrupção de obras com as empreiteiras que estão na Operação Lava-Jato. E, ao mesmo tempo, Estados e a União estão com dificuldade fiscal para conseguir fazer obras, investir. Precisamos que o governo federal acelere os programas de concessões de rodovias e portos para essas empresas voltarem a operar”, disse o economista do Ibre.

    Fonte: Valor Econômico

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