Morre em São Paulo, aos 79 anos, o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos

    O advogado e ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, de 79 anos, morreu ontem de manhã no Hospital Sírio-Libanês em São Paulo.

    Entre 2003 e 2007, ele foi ministro da Justiça no governo do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva.

    Seu velório reuniu, além de amigos, familiares e advogados, petistas e tucanos do alto escalão.

    A presidente Dilma Rousseff chegou ao velório por volta das 16h. Ficou uma hora ao lado da viúva, Maria Leonor de Castro Bastos. Saiu sem falar com a imprensa e foi acompanhada todo o tempo pelos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça). O governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel, chegou ao mesmo horário e disse que o legado do ex-ministro é o trabalho pela redemocratização do país e o fortalecimento das instituições.

    Dilma não deu entrevista à imprensa, mas divulgou nota onde afirma ter perdido “um grande amigo”. Ela classificou o advogado como “amigo espirituoso, de caráter e lealdade ímpares” e apontou a atuação do criminalista ao falar em defesa intransigente do direito de defesa.

    Michel Temer, vice-presidente da República, afirmou que via no jurista um “defensor incontestável dos direitos humanos, do Estado de direito e da democracia.” Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde de Dilma, elencou os feitos do ex-ministro e citou seu papel na reestruturação da Polícia Federal e na democratização do sistema judiciário, lembrando também que ele criou a Força Nacional de Segurança Pública.

    O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao velório menos de 20 minutos após Dilma deixar o local. Ele falou por cerca de dez minutos após a realização da oração de encomendação – ritual da liturgia católica no qual o sacerdote encomenda a alma do finado a Deus. Estava ao lado seu adversário político, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB).

    No momento mais comovente do velório, Lula, emocionado, chegou a ficar com os olhos marejados ao discursar em homenagem a Bastos, deixando alguns dos familiares do ex-ministro aos prantos. Assim como Dilma, saiu sem falar com a imprensa.

    O cônego Severino Martins, que realizou a oração e acompanhou de perto o discurso do ex-presidente, falou ao Valor que Lula disse ver como principal característica de Bastos a capacidade de trazer calmaria em situações de conflito.

    Também comentou que na ocasião em que Bastos era seu ministro da Justiça, o advogado perguntou se havia a necessidade de se filiar ao Partido dos Trabalhadores.

    O ex-presidente respondeu que Bastos estava acima de qualquer partido. “O que me emocionou, pois ele colocava sempre o trabalho em primeiro lugar”, disse o cônego, que é próximo da família do ex-ministro desde 1993, quando realizou a missa de sétimo dia do pai de Thomaz Bastos.

    Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), juízes federais, delegados da Polícia Federal, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgaram nota lamentando a morte. O corpo começou a ser velado no meio da tarde de ontem e hoje de manhã será cremado no cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na grande São Paulo.

    Além de Aloysio Nunes, José Serra foi outro tucano que participou do velório na Assembleia Legislativa.

    Lembrou que Thomaz Bastos foi seu advogado na década de 90.

    Ele disse ainda que estava planejando um encontro com o ex-ministro para trocar ideias a respeito do país: “Sempre tive interesse em saber o que ele pensava do Brasil.” O ex-ministro estava internado desde terça-feira para tratamento de problemas no pulmão.

    Ele tratava de um câncer no órgão, mas não fazia quimioterapia.

    Há cerca de um mês, ele passou a apresentar tosse e fraqueza, situação que piorou na semana passada quando fez uma viagem de trabalho aos Estados Unidos.

    De volta a São Paulo apresentou um quadro de embolia, que afetou seu coração. (Colaboraram Raquel Ulhôa, Juliano Basile, Thiago Resende e Bruno Peres, de Brasília; e Cristiane Agostine, de Foz do Iguaçu)

     

    Fonte: Valor Econômico

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