Mudança de ares no BC

    Convite a executivo da Nomura Securities para ocupar uma das diretorias da casa indica intenção de agregar profissionais com experiência em instituições financeiras privadas e melhorar a comunicação com o mercado

    A necessidade de promover ajustes na economia e de estreitar os laços com empresários e investidores deve dar cara nova ao Banco CENTRAL. O presidente da instituição, ALEXANDRE TOMBINI, quer incluir na diretoria nomes que tenham experiência no mercado financeiro, assim como fez o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que formou uma equipe de auxiliares com técnicos do governo e executivos que passaram por bancos privados. Mesclar esses dois tipos de profissionais era comum em gestões passadas do BC. Todos os atuais membros do Comitê de política monetária (Copom), colegiado responsável por definir a taxa básica de juros da economia, porém, fizeram carreira na administração pública.

     

    A primeira movimentação nesse sentido foi o convite para que Tony Volpon, diretor da Nomura Securities em Nova York, ocupe uma das diretorias da instituição, conforme antecipou ontem a coluna Correio Econômico. A informação agradou ao sistema financeiro e foi bem recebida por analistas. O BancoCENTRAL informou que não se pronunciará sobre o assunto. A autoridade monetária quer manter a discrição porque o Congresso Nacional precisa aprovar a indicação dos diretores, e as sabatinas só ocorrerão após o início do ano legislativo, em fevereiro.

     

    Atualmente, as diretorias de Assuntos Internacionais e de Regulação são acumuladas por Luiz Awazu Pereira da Silva, e uma delas poderia ser ocupada por Volpon. Outra possibilidade se daria pela aposentadoria de um dos membros do colegiado. Altamir Lopes, da Diretoria de Administração, Sidnei Corrêa Marques, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural, e Luiz Edson Feltrim, chefe da área de Relacionamento Institucional e Cidadania, todos servidores da casa, são os mais próximos de solicitar o desligamento do BC. O diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, deve permanecer.

     

    Escolha acertada Na opinião de Carlos Eduardo de Freitas, que já foi diretor do BC em duas oportunidades, a instituição ganha quando agrega pessoas com carreira na administração pública e profissionais com experiência no mercado financeiro. Para ele, Volpon, um crítico moderado do governo, ajudaria a enriquecer as discussões. “Aprendi muito quando convivi com diretores que não eram servidores públicos. Se a indicação se confirmar, será boa”, comentou.

     

    Na avaliação de Gesner Oliveira, sócio da GO Associados, Volpon tem um perfil alinhado com a política econômica anunciada para o segundo mandato de Dilma Rousseff. Para ele, o Copom ganharia uma postura mais independente com a escolha de um executivo de mercado. “Acho que a repercussão será positiva. Sinalizaria a escolha de uma equipe coesa”, afirmou.

     

    O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, ressaltou que a autoridade monetária tem mostrado dificuldades para se comunicar com o mercado, e alguém com experiência na iniciativa privada facilitaria esse processo. “Ir para o BC em momento em que é necessário corrigir os rumos da economia é desafiador. Trabalhei com Volpon, sei da sua competência”, disse. A economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, vai na mesma direção. “Um Copom formado só com servidores de carreira tem uma visão distinta daquele que tem membros com experiências diferentes”, afirmou.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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