Normalização passa a ser tema central agora

    A ata do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed) mostrou que o tema mais importante agora para o BC americano são as estratégias de saída da política altamente acomodatícia dos últimos cinco anos.

    Em outras palavras, quais instrumentos podem ser usados para balizar as taxas de juros de curto prazo, quando a política monetária começar a ser normalizada.

    Essa discussão era amplamente esperada, uma vez que houve uma reunião concomitante à de política monetária para discutir esse assunto, nos dias 29 e 30 de abril.

    Com a redução do programa de compra de ativos em curso e a grande possibilidade de que seu fim ocorra em outubro, a expansão do balanço do Fed, para US$ 4,3 trilhões (dado até o dia 14 de maio) tornou-se o maior foco da autoridade monetária e do mercado.

    Em junho de 2011, o Fed publicou um capítulo na ata da reunião do mês anterior intitulado “Princípios da Estratégia de Saída” e esperava-se que os pontos levantados naquela ocasião fossem retomados e detalhados (como a política de reinvestimento do principal dos títulos). Mas, apesar da intensa discussão, não houve conclusões: “Não há decisões sobre a normalização da política (…); participantes solicitaram análise adicional da equipe e concordaram que seria útil continuar a analisar essas questões nas próximas reuniões”, diz a ata.

    Tradicionalmente, o Banco CENTRAL controla os juros de curto prazo estabelecendo a taxa básica de juros e realizando operações de gerenciamento de liquidez, principalmente no mercado aberto. O objetivo é gerenciar a oferta e demanda por reservas bancárias de forma a afetar o nível de juros.

    Ocorre que, com a crise, que redundou em uma enorme escassez de liquidez, o Fed precisou criar outras ferramentas para prover e ampliar a liquidez do mercado – as chamadas políticas não convencionais.

    Com o crescimento do volume das reservas para o nível atual de US$ 2,6 trilhões, tornou-se difícil drenar o excesso do sistema. Para normalizar a política, o Fed precisará usar novas abordagens, que segundo ata, “diferem em termos de combinação de instrumentos políticos”.

    Alguns deles estão sendo estudados, como a taxa de juros pagos sobre saldos de reserva em excesso (0,25%), os repurchase agreements (acordos de recompra) e os term deposit facility (depósitos a termo) – todos em teste no mercado.

    Em relação ao cenário econômico, os membros do Fomc não mudaram substancialmente suas perspectivas desde a reunião de março, mencionando o impacto negativo do inverno rigoroso sobre a atividade.

    Mas houve pinceladas de cautela. Alguns membros observaram que ainda era cedo para confirmar que a retomada da atividade já é consistente para colocar a economia em uma trajetória de crescimento superior à tendência sustentável. A persistente desaceleração do mercado imobiliário e questões internacionais, como a desaceleração da China e um aumento das tensões geopolíticas com a Rússia e a Ucrânia também foram mencionados.

    Nos próximos meses, à medida que a economia vai dando sinais de mais vitalidade, a complexa discussão sobre como sair da política acomodatícia sem causar transtornos ao mercado vai se intensificar.

    Dentro do Fed, a necessidade de melhorar a comunicação foi de novo discutida e continua sendo um ponto nevrálgico para o BC americano, especialmente nesse processo de normalização.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorCCJ aprova PEC que revê reforma administrativa
    Matéria seguinteSTJ dá vitória a poupadores em julgamento de plano econômico