Nova política econômica agravará recessão

    A saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda pode ser comemorada pela ala governista que compartilha as ideias desenvolvimentista da presidente Dilma Rousseff. Mas, com certeza, a saída do único ortodoxo da equipe econômica implicará um retrocesso maior para o país, gerando instabilidade nos mercados e incertezas sobre a retomada do crescimento, na avaliação de especialistas ouvidos pelo Correio.

    Dilma e o novo titular da Fazenda, Nelson Barbosa, conceberam a equivocada “nova matriz econômica” do primeiro mandato, responsável por afundar o país na recessão ao negligenciar o controle da inflação e ignorar os princípios básicos da responsabilidade fiscal. Sem Levy, o impulso gastador de Dilma vai ganhar corpo, apesar de Barbosa ter dito ontem que o “compromisso com a estabilidade fiscal continuará o mesmo”.

    Para a economista Monica De Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington, Dilma vai “dobrar a aposta” dos gastos públicos para evitar o impeachment a qualquer custo. “Ela foi pressionada pelo ex-presidente Lula para colocar na Fazenda alguém como o Levy a fim de tranquilizar os mercados e evitar a perda do rating, no início do ano. Fez isso a contragosto e não deixou o ministro trabalhar. Vacilou na condução do ajuste fiscal. Veio o rebaixamento duplo. Agora, a economia deve ir para o buraco, para as profundezas da matriz 2.0”, avaliou Monica. “Só falta a presidente recorrer ao FMI para completar o quadro”, ironizou Monica.

    Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, também é cáustico. Para ele, sem Levy, Dilma, Barbosa e o presidente do Banco Central,Alexandre Tombini, formam, finalmente, um triunvirato de verdade. “Esse grupo dá garantia total de que a economia vai afundar mais ainda – e sem poder culpar o Levy ou a suposta política neoliberal. A presidente, caso não seja tirada da Presidência, assegurou (com essa troca) um 2016 pior que 2015”, resumiu.

    Na avaliação do economista Samuel Pessoa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), com Barbosa na Fazenda, a presidente restabeleceu o discurso da campanha presidencial. “Os mercados devem reagir mal, mas vão ter que se acostumar”, disse. Pessoa tem dúvidas sobre a independência do BC daqui para frente e teme piora fiscal. “Pode haver uma tentativa de expansionismo adicional, mas não deve ser via BNDES, mas mais por meio de incentivos parafiscais”, disse. Para Pessoa, a mudança não vai ajudar a recuperar a credibilidade do país depois do duplo rebaixamento. “Isso vai levar, no mínimo, 10 anos. A recuperação precisa de um conjunto extenso de reformas, um superavit primário parrudo durante vários anos”, alertou.

    No ano passado, o país registrou deficit primário de 0,6% do PIB, e deverá encerrar o ano com um rombo de, no mínimo 1,2% do PIB, pelas contas de Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central e presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF). “O governo expandiu os gastos e foi deteriorando as contas públicas. Se subtrairmos o excesso da contabilidade criativa, o país vem registrando deficit desde 2010”, comentou.(RH)

    Ladeira abaixo

    Na avaliação do economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, a saída de Joaquim Levy deve acelerar o rebaixamento do país pela Moody”s, que, na semana passada, colocou em revisão a nota do Brasil, e deverá retirar o grau de investimento dos títulos soberanos brasileiros, a exemplo do que fez a Standard & Poor”s, em setembro, e a Fitch Ratings, na semana passada. “Agora, só falta a S&P rebaixar novamente o país. Isso ainda não foi precificado pelo mercado, e, com isso, a bolsa deve cair e o dólar subir mais ainda”, apostou.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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