O novo ministro do Planejamento, Valdir Simão, é homem da confiança pessoal da presidente Dilma Rousseff, um “curinga” a quem ela designa tarefas espinhosas no governo em tempos de crise. Na sexta-feira, logo após a solenidade de assinatura da medida provisória que regulamentou os acordos de leniência, Dilma chamou Simão em um canto e comunicou-lhe: “Tenho mais uma missão para você”.
A incumbência anterior lhe foi confiada há um ano, quando Dilma o nomeou ministro da Controladoria-Geral da União (CGU) em seu segundo mandato, no lugar de Jorge Hage, a fim de viabilizar e acelerar os contratos de leniência, que permitissem às empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato voltar a operar e a fazer contratos com a administração pública. A preocupação do governo era com a deterioração do setor da construção civil e a escalada do desemprego, já que a maioria das empresas envolvidas conduz as grandes obras do governo federal, inclusive no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e nas concessões de rodovias.
O desempenho de Simão chamou a atenção de Dilma quando ele era secretário-executivo do Ministério do Turismo entre 2011 e 2013, onde implantou um sistema para acompanhar a execução de convênios e o pagamento de emendas parlamentares. Após esse trabalho, foi convocado por Dilma para coordenar a implantação do Gabinete Digital da Presidência da República. Na sequência, Dilma o escalou para assumir a secretaria-executiva da Casa Civil, tendo Aloizio Mercadante como titular. Ele ficou no cargo de fevereiro a dezembro de 2014, de onde saiu para assumir a CGU.
De perfil técnico, Simão é formado em direito, com especializações em gestão pública, direito empresarial e seguridade social. Ele é considerado discreto, habilidoso e disposto a assumir missões espinhosas em administrações petistas. Auditor de carreira da Receita Federal, ele já presidiu o INSS e teve atuação estratégica nos ministérios da Previdência e do Turismo nos governos do PT.
Sob a sua gestão, a CGU enfrentou ao longo de todo o ano de 2015 os processos contra empreiteiras envolvidas em acusações de cartel na Lava-Jato. Nas negociações com as companhias, tentou chegar a um meio termo. As empresas assumiriam que cometeram irregularidades e, com isso, evitariam entrar no cadastro de inidôneas o que as impediria de fechar contratos com o poder público.
Houve dificuldades nessas negociações, porque eventuais acordos com a CGU não impedem que a empresa seja processada em outras instâncias, como o Judiciário e Tribunal de Contas da União (TCU). De um total de 29 companhias processadas pela CGU, apenas 20% iniciaram tratativas para acordos de leniência.
Apesar das dificuldades, Simão conseguiu conduzir negociações para assinar um acordo de leniência com uma empresa alemã que pagou propina na Copa do Mundo – a Bilfinger. Agora, ele terá que utilizar suas habilidades como negociador para discutir temas tão espinhosos quanto, como o Orçamento.
Na primeira entrevista coletiva como ministro do Planejamento, na sexta, Simão afirmou que não há boa gestão sem controle, e ressaltou que o novo trabalho à frente do Planejamento será “alinhado” com a CGU.
“A reforma fiscal é importante e o Planejamento contribuirá fortemente para que possamos fazer um ajuste estrutural, principalmente em despesas obrigatórias, para que esse resultado possa ser alcançado”, afirmou. Em sua avaliação, o governo dispõe de ferramentas, pessoas e tecnologia necessárias para o trabalho de qualidade em benefício dos serviços públicos e especialmente dos cidadãos que dependem do Estado.
“Nosso objetivo é que possamos concluir a reforma administrativa em curso do Poder Executivo e trabalhar incessantemente na melhoria da gestão e da qualidade do gasto, na busca da excelência da aplicação dos recursos públicos coletados do cidadão”, disse.
Fonte: Valor Econômico