Por mais que a presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Wasmália Bivar, assegure que não houve qualquer interferência política no órgão, que reviu os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) um dia depois de divulgá-los, é difícil acreditar. O IBGE está sob ataque há meses. O descontentamento do Palácio do Planalto com a respeitadíssima instituição é enorme. E chegou ao ápice anteontem, quando se tornou público que, em vez de cair, a desigualdade social aumentou no governo Dilma Rousseff.
A redução do fosso que separa ricos e pobres é a principal bandeira do PT. E, para o partido, foi inconveniente o IBGE dizer, às vésperas das eleições, que a sua candidata falhou no compromisso mais sagrado da legenda, municiando a oposição, que tem grandes chances de chegar ao Palácio do Planalto. Conforme o instituto de pesquisas, o índice Gini da renda do trabalho fechou o ano passado em 0,495 e não em 0,498. Com isso, foi menor que o indicador de 0,496 captado em 2012.
O IBGE havia disponibilizado todos os dados para o governo dois dias da divulgação oficial. A expectativa do Planalto era de que os números seriam extremamente favoráveis a Dilma. A confiança era tamanha, que toda a máquina pública estava preparada para bombar os indicadores a pouco mais de duas semanas das eleições, reforçando o compromisso da candidata à reeleição com os mais pobres e não com os banqueiros. Os dados, porém, frustraram os petistas.
Agora, com o IBGE revisando os indicadores, Dilma poderá rebater os críticos. Certamente, com os marqueteiros do PT, conseguirá convencer parte do eleitorado do quanto foi injustiçada, que seu governo fez, sim, todo o esforço possível para reduzir a concentração de renda no país. Certamente, terá êxito. Infelizmente, o grosso dos brasileiros não entenderá nada do que o governo está fazendo no IBGE, cuja reputação foi manchada recentemente, quando dois senadores da base aliada do governo – Armando Monteiro Neto (PTB-PE) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) – cismaram com a Pnad Contínua, que mostra a taxa de desemprego em todo o país.
Os dois pediram a suspensão da pesquisa, alegando que seu modelo estava distorcido. Coincidentemente, os números coletados pelo IBGE mostravam o aumento do desemprego, prejudicando o discurso do governo. Os funcionários do órgão se rebelaram. Chefes de várias divisões colocaram os cargos à disposição. Parte dos servidores entrou em greve. Como resposta, o governo decidiu cortar 50% das verbas do instituto, que foi obrigado a adiar várias pesquisas, entre elas, a de contagem da população, que atualiza o censo demográfico, de 2015 para 2016.
Não é só. Raivosa, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, diz que os erros do IBGE são inadmissíveis. Por isso, decretou uma intervenção no órgão. Era tudo o que o governo queria.
Leituras das pesquisas e da economia
As últimas pesquisas de intenção de votos levaram ânimo ao Palácio do Planalto. Na lógica petista, os últimos levantamentos mostram que, mesmo em uma disputa acirrada, Dilma vencerá a disputa com Marina Silva no segundo turno. Há, porém, um incômodo latente na equipe da candidata petista: a divulgação de importantes indicadores econômicos até 5 de outubro, quando os eleitores depositarão os votos nas urnas. A inflação, puxada pelos alimentos, já voltou a dar as caras. As contas públicas continuarão piorando, assim como o rombo externo do país. Para completar, o Banco CENTRAL reduzirá a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, muito provavelmente para menos de 1%. Será o primeiro órgão do governo a admitir que 2014 foi um ano perdido na economia.
Mantega desrespeita o BC
O Banco CENTRAL realmente está desprestigiado no governo Dilma. Não bastasse a presidente da República, que tenta a reeleição, desmoralizar a instituição, ao dizer que é contra a autonomia do órgão responsável pelo combate à inflação, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mesmo demitido com antecedência do cargo, insiste em jogar uma pá de cal. Ele já determinou que o BC terá que reduzir os juros em 2015 e não poderá estender o programa de intervenção no câmbio, por meio dos contratos de swap, previsto para acabar no fim de dezembro próximo.
Rombo na balança
O diretor do Departamento Econômico do Bradesco, Octavio de Barros, está prevendo deficit na balança comercial neste ano e no próximo. Para ele, mesmo com a redução das importações, por causa da fragilidade da economia, as exportações não reagiram o suficiente para evitar o rombo. Pelos cálculos dele, o buraco em 2014 será de US$ 1,5 bilhão e o de 2015, de US$ 100 milhões.
A China impõe desafios
Para Octavio de Barros, a desaceleração da economia chinesa imporá desafios ao Brasil em 2015. Ele ressalta que, depois de rápida e forte recuperação no segundo trimestre, a China deu fortes sinais de fragilidade, aumentando as preocupações com a locomotiva asiática, grande compradora de produtos básicos brasileiros (commodities). “Diversos indicadores confirmaram que a atividade econômica chinesa perdeu ritmo em agosto. A despeito da elevada expectativa do mercado de que novas medidas de estímulos sejam adotadas, entendemos que elas serão implementadas de forma cautelosa e reativa, e não serão suficientes para induzir uma aceleração no restante deste ano”, diz. A previsão é de que a China cresça 7% ou menos no ano que vem.
Diálogo sobre o clima
Empresários e representantes do governo reúnem-se na próxima semana em busca de um consenso em relação à Política Nacional sobre Mudança do Clima, e, em especial, ao Plano Nacional de Adaptação. A indústria busca colaborar nas negociações para a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP-20, marcada para dezembro, em Lima, no Peru. O diálogo com o setor privado sobre a adaptação à mudança do clima no Brasil é promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Fonte: Correio Braziliense