O milionário carnaval parlamentar

    Enquanto a maioria dos trabalhadores do país retomou as atividades ontem, o recesso dos congressistas terá 11 dias e custará R$ 279,1 milhões aos cofres públicos. Poucos senadores e deputados estiveram nas duas Casas nessa quarta

    A tarde de quarta-feira de Cinzas é o momento de voltar ao trabalho para grande parte dos trabalhadores brasileiros. Mas, para a maioria dos parlamentares no Congresso, foi apenas mais um dia de folga. O prejuízo fica para o contribuinte: de acordo com levantamento da ONG Contas Abertas, será de cerca de R$ 279,1 milhões.

    O cálculo é baseado no Orçamento para a Câmara e o Senado neste ano. As duas Casas têm previsão de gastar, juntas, R$ 9,3 bilhões – cerca de R$ 25,4 milhões por dia. Como a maioria dos parlamentares está de folga desde o dia 13, uma sexta-feira, e não há sessões deliberativas até a próxima terça-feira, o contribuinte terá que arcar com cerca de 11 dias de descanso para as excelências.

    O plenário da Câmara, por exemplo, estava fechado ontem. Por conta de requerimento apresentado pelos líderes da Casa, não haverá sessões plenárias durante esta semana. Também não houve nenhum tipo de controle de presença para os deputados. Normalmente, os parlamentares são identificados por biometria ou têm a presença confirmada em uma das portarias da Casa, mas, por ordem da Secretaria-Geral da Mesa Diretora da Casa, o sistema de identificação, que funciona de segunda a sexta-feira, foi desativado durante a semana de carnaval.

    Apenas funcionários e turistas eram encontrados nos corredores, normalmente lotados às quartas-feiras. Quem trabalha na administração da Casa teve que bater ponto às 14h, e muitos visitantes que decidiram passar o carnaval em Brasília resolveram conhecer a estrutura da Câmara. Valter Soares veio de Camaçari, na Bahia, para visitar a namorada, e aproveitou para conhecer o acervo de arte do órgão. A falta de presença de parlamentares e o plenário fechado o deixaram revoltado. “O fato de os deputados não estarem aqui mostra que não acham o próprio serviço essencial, como o de um médico ou policial”, comparou.

    Uma das poucas parlamentares presentes na Câmara, Érika Kokay (PT-DF) também se mostrou irritada com a falta de sessões plenárias. “Somos servidores públicos e, como ocorre com os outros, deveríamos voltar a trabalhar na tarde da quarta-feira de Cinzas”, afirmou. A petista aproveitou para alfinetar o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que só retorna para Brasília na semana que vem. “Há uma incoerência no discurso dele de pedir aumento da produtividade dos parlamentares e permitir que não haja sessões no plenário. Cunha deveria estar aqui hoje (ontem)”, cobrou. 

    Regimento 

    No Senado, apesar do pouco movimento, 11 parlamentares participavam de sessão não deliberativa no plenário. Um dos presentes, Reguffe (PDT-DF) fez um pronunciamento pela derrubada do veto presidencial ao Imposto de Renda e criticou o fato de não haver votações. “Se já não é feriado – e o Regimento determina que quarta-feira é dia de sessão deliberativa -, deveria ter sido realizada.” Segundo o parlamentar, “há muitas pautas importantes para a população que poderiam ter sido adiantadas, como as reformas política e tributária”. Assim como na Câmara, os funcionários do Senado tiveram que bater ponto às 14h.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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