O que muda e o que fica na campanha presidencial

    Começa amanhã o horário eleitoral gratuito no rádio e televisão, ainda sob o impacto da morte prematura e trágica do candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, em acidente aéreo na última quarta-feira.

    A morte de Eduardo Campos provoca uma profunda mudança de rumos na campanha presidencial. Em seu lugar, o PSB deve lançar na quarta-feira, após os ofícios do sétimo dia, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva.

    Em que pese a comoção causada por sua morte, Campos ainda era um candidato desconhecido da grande maioria do eleitorado brasileiro. Seus índices nas pesquisas de opinião não passavam da casa de um dígito.

    Marina, ao contrário, foi candidata em 2010, quando arrebatou quase 20 milhões de votos, pouco mais de 19% do eleitorado. Da última vez em que o nome de Marina foi testado numa pesquisa, ano passado, despontava com 26%, índice que ainda hoje, a 45 dias da eleição, não foi atingido pelo segundo colocado nas pesquisas, o senador Aécio Neves, o candidato do PSDB.

    É cedo para avaliar a repercussão da mudança em termos eleitorais, mas em princípio, nas duas outras principais campanhas, o entendimento é praticamente o mesmo: o novo cenário é ruim para a presidente da República, Dilma Rousseff e causa incertezas à candidatura do senador Aécio Neves.

    É ruim para Dilma porque, no cenário anterior, a presidente estava a um ou dois pontos de uma vitória no primeiro turno, distância que esperava percorrer com a ajuda dos quase 12 minutos de tempo de que sua coligação eleitoral dispõe de propaganda no rádio e televisão.

    Os cenários de segundo turno apontados pelas pesquisas são mais desfavoráveis, para a presidente, que aqueles de primeiro turno, embora esteja à frente nos dois.

    O senador Aécio Neves tem a comemorar o fato de a candidatura de Marina Silva praticamente assegurar a disputa do segundo turno. O problema é que Marina já deve entrar no páreo ameaçando a segunda posição do candidato tucano.

    Com Eduardo Campos havia um certo pacto de convivência eleitoral e a certeza de que, se Aécio fosse para o segundo turno, receberia o apoio do PSB. O mesmo não pode se dizer em relação a Marina. Em 2010, na disputa entre Dilma e o candidato do PSDB, José Serra, a então candidata do PV preferiu a neutralidade.

    O que não mudou, em relação ao cenário anterior, é o país a ser debatido na discussão eleitoral e o tamanho da tarefa do próximo presidente da República, seja quem for o eleito em outubro.

    É um Brasil com uma inflação resistente, na faixa dos 6%, e taxa de investimento baixíssima em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). A meta de investimento como proporção do PIB era de 24% e hoje está em 18%. E a falta de investimento, como se sabe, inviabiliza o crescimento econômico.

    O Brasil a ser recebido pelo próximo presidente também tem um déficit em conta corrente de quase 4%, alto para um mundo onde a taxa de juros americanos pode subir a qualquer momento e desviar capital estrangeiro para os Estados Unidos. Isso sem falar da taxa de jurosinterna, mais elevada que antes de a presidente Dilma Rousseff assumir o mandato, em janeiro de 2011.

    É um país com uma taxa de poupança muito baixa para custear investimentos, com um setor elétrico dizimado, tarifas públicas desalinhadas e as contas públicas sob descontrole.

    Este é o desafio dos candidatos à Presidência da República, nas eleições de 5 de outubro. Esta é a agenda da campanha que amanhã entra em uma nova etapa, com o início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Certamente, os primeiros programas serão dedicados à memória e justas homenagens a Eduardo Campos, jovem, talentoso e promissor político, um dos melhores da sua geração. A melhor homenagem que se pode agora prestar a Campos é discutir o Brasil.

    É hora de chorar, como bem disse o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), mas também é hora de trabalhar. Não se pode desistir do Brasil, para usar a frase com a qual Eduardo Campos finalizou aquela que seria sua última entrevista, concedida na véspera de sua morte, uma terça-feira, à bancada do Jornal Nacional da TV Globo.

     

    Fonte: Valor Econômico

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