O silêncio dos sindicatos

    Muita gente dentro do governo anda se perguntando onde estão os sindicatos de categorias importantes, como as de bancários, metalúrgicos e petroleiros, que têm data-base em setembro e em outubro. Esperava-se que, com a inflação há quatro anos próxima do teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5%, os trabalhadores tomassem as ruas para reivindicar reajustes maiores, a fim de recomporem o poder de compra.

     

    Tradicionalmente, neste período, os bancários, principalmente, já teriam indicado a possibilidade de greve a partir de setembro. Eles entregaram os pleitos aos bancos em 31 de julho último. Querem reajuste de 12,5%, pedido que, dificilmente, será atendido. Em vez de barulho, o que se vê, no entanto, é silêncio. Motivo: fechados com a candidatura da presidente Dilma Rousseff, os sindicalistas não querem dar munição à oposição ao infernizar a vida dos consumidores às vésperas da eleição.

     

    “É certo que a maior parte dos sindicatos vinculados à CUT (Central Única dos Trabalhadores) está apoiando a candidatura à reeleição da presidente Dilma. Por isso, não se está vendo movimentações características desse período”, explica um integrante da equipe econômica. Ele reconhece, porém, que nem todas as entidades estaduais estão fechadas no sentindo de não criar problemas para o PT, sobretudo agora que há chances reais de Dilma ser derrotada no segundo turno por Marina Silva, do PSB.

     

    Os trabalhadores contrários ao silêncio alegam  que os sindicatos deveriam usar o atual momento para pressionar o governo, que está fragilizado. Certamente, a maior parte dos pleitos seria atendida, especialmente pelo comando da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, instituições controladas pelo Tesouro Nacional. “Será que o Palácio do Planalto gostaria de ver, na reta final das eleições, as agências da Caixa e do BB fechadas ou a Petrobras prejudicada? Certamente, não”, destaca um sindicalista. “Mas está difícil convencer a maioria de que este é o momento de botar o bloco nas ruas”, complementa.

     

    A data-base dos bancários e dos petroleiros é 1º de setembro. A tendência é de que as categorias estendam ao máximo os prazos de negociação, para justificar o comportamento tranquilo tanto desejado pelo Planalto. “Depois das eleições, contudo, vale tudo”, admite um técnico do governo.

     

    Corte nos juros

    Os investidores passaram a apostar pesado ontem na possibilidade de haver cortes na taxa básica de juros (Selic) em 2015. A perspectiva é de que, com a oposição vencendo as eleições de outubro, haja uma retomada da confiança em relação ao governo. Até a semana passada, quando ainda eram consistentes as chances de reeleição de Dilma Rousseff, o mercado acreditava que o Banco CENTRAL seria obrigado a subir os juros para manter a inflação dentro das metas. As projeções apontavam para uma Selic de 12% em dezembro do ano que vem. Agora, fala-se em corte de até um ponto percentual na taxa atual, de 11%, pois os investidores veem grande possibilidade de o futuro presidente da República fazer um forte arrocho fiscal, abrindo espaço para o BC reanimar o ânimo do empresariado, estimular os investimentos produtivos e, por tabela, tirar a economia do atoleiro em que se encontra.

     

    Tempo fechou

    no Planalto

     

    » O clima anda pesado no Palácio do Planalto. Pela primeira vez, interlocutores diretos da presidente Dilma Rousseff admitem, abertamente, que ela pode perder a disputa eleitoral de outubro próximo. A avaliação é de que está se consolidando um clima anti-PT nas grandes capitais, que nem a expressiva diferença que ela registra no Nordeste será suficiente para reverter o quadro atual. A avaliação é de que os 70% dos brasileiros que, nas pesquisas, dizem querer mudanças no país estão convergindo para a oposição, a maior parte dos votos, para Marina Silva.

     

    Bolso não tem

    ideologia

     

    » Servidores que ocupam cargos de confiança no governo andam se movimentando como nunca para se manterem nos cargos a partir de 2015, independentemente de quem vencer as eleições. Em muitos casos, as comissões mais que dobram os salários. “Ninguém quer deixar um cargo de R$ 10 mil para voltar a ganhar R$ 4 mil. Por isso, estão todos se armando para continuar com suas boquinhas. Quando se pensa com o bolso, não há ideologia”, afirma um técnico do Ministério do Planejamento.

     

    O Brasil a

    partir de 2015

     

    » É grande a expectativa em torno do Orçamento de 2015, o primeiro do próximo presidente da República. O projeto será apresentado hoje pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior. A pergunta que não quer calar: que país eles projetam para o ano que vem? Real ou mais uma obra de ficção que se tornou a marca do atual governo?

     

    Com Diego Amorim

     

    Fonte: Correio Braziliense

    Matéria anteriorOrçamento de 2015 vai prever ligeiro aumento de receitas
    Matéria seguinteLiminar livra delegados da PF de pagar o Funpresp