“Os cargos estão sempre à minha disposição”, diz presidente

    A presidente Dilma Rousseff disse ontem que todos os seus 39 ministros atuais, e não apenas 15, apresentaram carta de demissão, mas que nem precisava porque os cargos são dela.

     

    Em entrevista depois do G-20, a presidente disse que na verdade os ministros combinaram entregar as cartas de demissão e que não se sentia mais ou menos a vontade com isso para fazer a reforma ministerial.

     

    Depois de considerar que foi um “gesto elegante” dos ministros, Dilma observou que não era necessário porque o cargo “está sempre à minha disposição, essa é uma regra do jogo em qualquer país presidencialista”.

     

    Indagada se alguns poderiam continuar no próximo mandato, a presidente retrucou bem humorada: “Não vou falar sobre minha reforma ministerial.” Recusou- se tambem a falar em prazos.

     

    O Palácio do Planalto acompanha com preocupação e lupa os desdobramentos da sétima fase da Operação Lava-Jato. A presidente desembarca hoje no Brasil, depois de uma viagem exaustiva, com escalas em Osaka, Seattle e Cidade do Panamá, porém, informada de todos os detalhes da megaoperação da Polícia Federal.

     

    Na Austrália, onde participou da cúpula do G-20, Dilma era informada por seus auxiliares em Brasília de passo-a-passo da operação, deflagrada na última sextafeira.

     

    Ela retorna cansada, até pela diferença de fuso horário de 12 horas, mas também sob o peso de administrar a crise da Petrobras, além da econômica e da política.

     

    Dilma não vai tomar medidas abruptas, como afastar a presidente da estatal, Graça Foster, ou adiar o início das articulações para a reforma ministerial. De imediato, a presidente vai se recuperar do jet lag, e convocar reuniões em seguida. De início, vai acionar o seu “comitê de crise”, encabeçado pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

     

    Ela tem conversas agendadas no contexto da reforma ministerial esta semana. Receberá o governador eleito de Minas, Fernando Pimentel (PT), no primeiro encontro oficial após a eleição. Nos bastidores, a reunião também contempla a formação da nova equipe. Minas manterá uma cota na Esplanada.

     

    Um nome já indicado é o do empresário Josué Gomes (PMDB), que perdeu a eleição ao Senado e é apadrinhado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

     

    De outro lado, assessores próximos defendem que Dilma apresse a definição da nova equipe econômica, diante dos novos capítulos da Lava-Jato. O argumento é de que poderia neutralizar o impacto da operação, com aceno positivo – a depender do nome – aos investidores e ao mercado. Antes de viajar, Dilma alimentava o cronograma de anunciar a nova equipe até o fim do mês.

     

    Dilma resiste a tirar Graça Foster do comando da estatal. Há tempos persiste a insatisfação interna na Petrobras com o estilo Graça de comandar a empresa. A afilhada de Dilma é considerada autoritária, centralizadora, e não tem a simpatia como marca registrada. Nos últimos meses, após as revelações de corrupção na empresa, deu sinais de insegurança, ao refrear a assinatura de novos contratos.

     

    Em contrapartida, Dilma ainda não definiu como pretende gerenciar a crise na estatal. Petistas do alto escalão defendem a nomeação de um político de estatura, como o governador da Bahia, Jaques Wagner, para o comando da empresa, a fim de controlar a crise e reerguer a Petrobras. Mas um dos auxiliares próximos a Dilma disse ao Valor que não considera essa hipótese, porque a estatal é um “poço de problemas”, que ao final e ao cabo, poderia engolir e minar um quadro estratégico como Wagner.

     

    Na base aliada e na oposição, a expectativa é de que as novas prisões da Lava-Jato não mudarão o cronograma da reforma ministerial, mas devem dificultar a busca por nomes. Dilma tem sinalizado a interlocutores que deseja preencher a Esplanada com dois perfis: de “notáveis”, com prestígio e reconhecimento em suas áreas, e de políticos com força dentro dos partidos para tornar as bancadas no Congresso mais fiéis.

     

    “Muitos dos que imaginavam entrar no ministério pela indicação de seus partidos estão suspeitos de envolvimento e talvez não seja mais chamados. E haverá dificuldade de encontrar “notáveis” dispostos a sair de sua condição de prestígio para meter a mão numa cumbuca que não sabem o que tem dentro”, afirmou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

     

    O presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), disse que o escândalo põe sob suspeita nomes de PT, PMDB e PP. “As nomeações vão gerar dúvidas, a não ser que a presidente saiba exatamente quem são as pessoas incriminadas”, disse.

     

    Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), a reforma ministerial tem prazo distinto e não pode esperar. .

     

    O deputado Sibá Machado (PT-AC) frisou que Dilma não pode esperar, até porque alguns ministros já pediram demissão, e que ao menos os critérios das indicações serão discutidos esta semana. (Colaborou Pedro Costa, de Seattle)

     

    Fonte: Valor Econômico

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