Os papéis do Tesouro Direto que resistem à queda dos juros

    MESMO COM REDUÇÃO DA SELIC, ALGUNS TÍTULOS OFERECEM BOA RENTABILIDADE E POUCOS RISCOS

    JOÃO SORIMA NETO joao.sorima@sp.oglobo.com.br

    -SÃO PAULO- O consenso entre os analistas de mercado é que a taxa de Juros Selic, referência do mercado, deve cair novamente nesta semana na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central. A expectativa é que a redução fique entre 0,5 ou 0,75 ponto percentual, derrubando a taxa dos atuais 8,25% ao ano para 7,75% ou 7,5%. Para o final do ano, os analistas projetam Juros de 7%. Como a Selic baliza os investimentos em renda fixa, a tendência é que essa categoria de aplicações fique menos rentável, especialmente aqueles fundos de investimento que cobram taxas de administração acima de 1%. Mas, para investidores de perfil mais conservador, que não estão acostumados a aplicações mais arriscadas em busca de melhor retorno, como a Bolsa, e preferem o universo da renda fixa, os títulos do Tesouro Direto ainda são uma opção interessante, mesmo no atual cenário de Juros mais baixos, afirmam os especialistas em finanças pessoais.

    — Como a inflação vem se mantendo em patamares baixos e os títulos do Tesouro Direto não têm taxa de administração, a rentabilidade ainda é atraente, mesmo com Juros em queda. Em muitos fundos de renda fixa, os gestores só colocam na carteira este tipo de papel e ainda cobram taxas de administração elevadas — analisa Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), que lembra que o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) acumula alta de 2,54% nos últimos 12 meses.

    A queda de Juros também afetou os papéis do Tesouro Direto. Aqueles que acompanham a Selic chegaram a pagar até 14% ao ano, em 2016, quando ela ainda estava em patamar elevado. Com o movimento de queda da taxa, o rendimento desses títulos diminuiu, chegando aos atuais 8,25% ao ano. Mas outros papéis do Tesouro Direto que pagam Juros mais inflação e os chamados prefixados, em que o investidor sabe antecipadamente quanto vai ganhar, continuam oferecendo retornos até mais atraentes que a Poupança, e sem risco de perda de patrimônio.

    — O Tesouro Direto não é um tipo de aplicação para obter ganhos rápidos. É para quem tem um objetivo num horizonte de tempo mais longo. Um papel como a Nota do Tesouro Nacional (NTNB) é indicado, por exemplo, para quem planeja a aposentadoria — afirma o economista Pedro Coelho Afonso.

    PREFIXADOS PERMITEM PLANEJAMENTO

    Os títulos chamados Tesouro IPCA, que são as NTNBs, pagam a inflação mais Juros. Na prática, ao cobrir a inflação eles mantêm o poder de compra do investidor, além de oferecer um ganho real. Os papéis com vencimento em 2035, por exemplo, oferecem uma rentabilidade real de 5,06% ao ano. É mais do que a Poupança, que até setembro rendia 6,17% ao ano, mais taxa referencial. Descontando a inflação estimada para o ano, de cerca de 3%, o ganho real da Poupança cai para 3,20%. E, desde o mês passado, quando a Selic foi reduzida a 8,25%, a Poupança passou a render menos. O ganho agora será de 70% da Selic, mais a Taxa Referencial, o que dá um retorno bruto (sem descontar a inflação) de 5,78% ao ano.

    O consultor de investimentos e planejador financeiro Thiago Nigro, do canal no Youtube O Primo Rico, observa que, com os títulos do Tesouro Direto, é possível até lucrar com a queda da taxa de Juros. Nos chamados papéis Tesouro Prefixado, conhecidos como Letras do Tesouro Nacional (LTNs), o investidor ganha mais se a taxa de juro cair, já que o juro a ser pago é acertado previamente. Os papéis com vencimento em 2027 estão pagando 9,67% ao ano. A expectativa é que a Selic encerre o ano em 7%. Descontada a inflação, o ganho real desse papel prefixado é de 6,48%

    — Portanto, quem estiver posicionado neste papéis antes do movimento de queda de Juros ganha mais — afirma Nigro, que observa que este tipo de título ajuda em planejamentos de longo prazo, como dar entrada no apartamento, já que o investidor sabe exatamente quanto vai ganhar.

    Outra categoria de títulos é o Tesouro Selic, as chamadas Letras Financeiras do Tesouro (LFTs). Elas acompanham o movimento da Selic. Se a taxa cai, o rendimento também fica menor. Diferente de seus pares, a LFT é indicada para formar um fundo para emergências.

    — É um papel para quem pode precisar do dinheiro a qualquer momento — afirma o economista Pedro Coelho.

    Para atrair mais investidores, o Tesouro Direto fixou o investimento inicial em R$ 30. É menos do que cobram alguns fundos, que exigem o mínimo de R$ 100. A liquidez agora também é diária, o que significa que é possível vender o papel em qualquer dia, mesmo antes do vencimento. O Tesouro Direto cobra uma taxa de custódia de 0,3%, e algumas Instituições Financeiras cobram até 0,2% pela intermediação. E sobre o lucro incide Imposto de Renda, que vai de 22,5%, para aplicações até 180 dias, a 15%, em aplicações acima de 720 dias. Os títulos do Tesouro também não são afetados pelo come-cotas, que é a antecipação da cobrança do Imposto de Renda devido sobre o rendimento da aplicação. Essa antecipação, que ocorre a cada seis meses, prejudica a rentabilidade final do investimento, já que reduz o volume de recursos aplicados.

    Fonte: O Globo

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