Dilma anuncia até amanhã as mudanças, mas algumas estão sacramentadas: Mercadante vai para a Educação, Jaques Wagner assume a Casa Civil e Aldo Rebelo segue para a Defesa. Lula faz lobby pela substituição do ministro da Fazenda por Henrique Meirelles
Depois de emplacar praticamente tudo o que queria na reforma ministerial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje em Brasília para apresentar à presidente Dilma Rousseff, durante almoço no Palácio da Alvorada, a última demanda petista: tirar Joaquim Levy da Fazenda e colocar, em seu lugar, Henrique Meirelles. Com base na pressão de petistas – e também de peemedebistas, Lula convenceu Dilma a tirar Aloizio Mercadante da Casa Civil e substituí-lo pelo baiano Jaques Wagner. “Essa reforma tem nome e sobrenome: Luiz Inácio Lula da Silva. Mas acho que trocar o ministro da Fazenda, nesse momento, é um lance muito ousado”, admitiu um petista com bom trânsito no governo e no partido.
Apesar de tudo estar praticamente decidido, há boas chances de a reforma administrativa ser anunciada apenas amanhã, e não mais hoje, com esperam auxiliares próximos da presidente. Para reforçar as suspeitas, Dilma cancelou a viagem que faria amanhã para Barreiras, na Bahia, para entrega de unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida. “Não sei se não bica para sexta-feira. Tem muita coisa ainda a ser decidida”, confirmou o vice-presidente Michel Temer.
Durante reunião com a executiva nacional do PT, em São Paulo, na manhã de ontem, Lula disse que as mudanças a serem anunciadas pela presidente até o fim da semana deveriam ter ocorrido em novembro do ano passado, quando ela estava embalada nos 54 milhões de votos recebidos no segundo turno das eleições presidenciais.
O PT também queria outra troca, com uma chance menor de êxito: a saída de José Eduardo Cardozo do Ministério da Justiça. A especulação que correu por Brasília ontem era de que o petista poderia ser substituído por Nelson Jobim – que, a exemplo de Meirelles, não conta com a simpatia da presidente. Matéria recente do jornal Valor Econômico mostrou, no entanto, que ambos se reaproximaram e que o ex-ministro da Justiça e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal teria sido responsável pelas negociações, no STF, que levaram ao desmembramento das investigações da Operação Lava-Jato.
As outras alterações confirmadas ontem foram resultado de uma longa costura, sobretudo a ida de Wagner para a Casa Civil, no lugar de Mercadante. Ex-ministro forte do governo, Mercadante vinha pedindo apoio, tanto no PT quanto entre os líderes dos partidos da base aliada, para tentar manter-se no núcleo palaciano. Acabou tendo de concordar com a transferência para a Educação – que já foi comandada por ele entre 2012 e 2014.
Jaques Wagner negou ontem que tivesse recebido qualquer convite para trocar de ministério, mas não se mostrou refratário à proposta. “Sou parte desse projeto (de governo), estou à disposição no que puder ajudar”, disse, ao chegar para audiência pública na Câmara dos Deputados. Para o lugar de Wagner, vai o atual ministro de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo. Rebelo assumirá a pasta em um momento delicado. No último domingo, o comandante do Exército, general Eduardo Villas-Boas, em entrevista ao Correio, afirmou que a falta de recursos para ações definidas ainda durante o governo Lula colocam empreendimentos em risco de “retroceder 30, 40 anos em meio a um cenário de ajuste fiscal”.
Educação
Nas pastas do PMDB também pode haver surpresas. Antes bem cotado para a Saúde, o deputado Manoel Júnior (PB), perde espaço para Marcelo Castro (PI), Conforme mostrado pelo Correio ontem, Júnior foi citado na CPI da Pistolagem de 2005. As restrições a Castro vinham do fato dele estar rompido politicamente com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Mas o peemedebista piauiense tem ensaiado uma reaproximação com o presidente da Casa.
Com a insistência do ministro Eliseu Padilha de permanecer à frente da Secretaria Nacional de Aviação Civil – caso contrário, prefere deixar o governo – e a escolha para que Helder Barbalho fique nos Portos, o segundo indicado pelo PMDB da Câmara – provavelmente o deputado Celso Pansera (RJ) – deve ocupar o Ministério da Ciência e Tecnologia, no lugar de Aldo Rebelo.
Um dia após afastar o ministro da Saúde, Arthur Chioro, a presidente Dilma Rousseff demitiu na tarde de ontem, o titular da Educação, Renato Janine Ribeiro. Ele esteve em uma reunião reservada com ela no Palácio do Planalto que começou às 15h e durou menos de meia hora. De acordo com a assessoria do Ministério da Educação, a presidente “agradeceu e reconheceu o trabalho dele no MEC”.
Dilma também reuniu-se na manhã de ontem com governadores do PSB – Ricardo Coutinho (PB), Rodrigo Rollemberg (DF) e Paulo Câmara (PE). Ela quer o PSB de volta ao governo, mas os socialistas paulistas resistem. Dilma pediu ajuda na derrubada das pautas-bombas e a aprovação do ajuste fiscal no Congresso.
“Não sei se não bica para sexta-feira. Tem muita coisa ainda a ser decidida”
Michel Temer, vice-presidente
“Sou parte desse projeto (de governo), estou à disposição no que puder ajudar”
Aldo Rebelo, futuro ministro da Defesa
» Quase lá
Presidente está perto de fechar a reforma ministerial para atender Lula e o PMDB
Casa Civil
Jaques Wagner
Educação
Aloizio Mercadante
Defesa
Aldo Rebelo
Secretaria de Governo*
Ricardo Berzoini
Ministérios do PMDB
Saúde
Cresce a possibilidade de ser Marcelo Castro (PI) e não Manoel Júnior (PB)
Ciência e Tecnologia
Indicação do PMDB da Câmara, provavelmente Celso Pansera (RJ)
Portos
Helder Barbalho
Aviação Civil
Eliseu Padilha
Minas e Energia
Eduardo Braga
Agricultura
Kátia Abreu
Turismo
Henrique Eduardo Alves
* Além de parte da Secretaria-Geral (excluindo as relações com os movimentos sociais), Assuntos Federativos, Assuntos Parlamentares (ambas atreladas à SRI) e Gabinete de Segurança Institucional, pasta também vai abrigar a Secretaria da Micro e Pequena Empresa
Fonte: Correio Braziliense